O coronel da reserva do Exército, Carlos Hassler, tornou-se um dos personagens do impasse em torno da obra de acesso ao Sul da Ilha e ao novo terminal de passageiros do aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. Desde o começo de sua gestão, em janeiro, ele adotou um tom de enfrentamento aos prazos previamente estabelecidos. Agora, estipulou uma data de entrega diferente do acordado com a concessionária Floripa.

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Em entrevista à coluna, ele admitiu que vai repensar sua forma de se posicionar e garante que a obra ficará pronta em outubro, se estabelecer uma data específica. Além disso, Hassler detalha os problemas encontrados e admite que não havia como entregar o acesso em agosto, como havia prometido o Estado até o final de 2018. Leia abaixo:

O que mudou no andamento da obra do acesso ao Sul da Ilha para o Estado alterar a data? O governador falava em 1º de outubro e agora o senhor passou a falar em final de outubro.

Ninguém mudou de ideia. A gente chegou ali e havia uma data marcada por uma parte que entendia que ia conseguir entregar a obra, só que não tinha como. Havia uma série de lotes bem no meio do caminho para serem desapropriados, um terreno complicado. Não havia condição nenhuma de terminar em julho e agosto.

Então, quando a gente assumiu, dissemos: “não vamos prometer o que não pode ser cumprido”. E definimos que o nosso contrato era para outubro. Então a gente vai brigar para cumprir com a nossa obrigação, que é outubro. Isso foi posto na mesa, causou stress inicial, mas foi entendido. Porque não é uma questão de querer. É uma questão do que é possível.

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No contrato (da concessionária com a Anac), está lá final de outubro. A empresa (Floripa Airtort) se replanejou, colocou a data de inauguração em 1º de outubro e colocou na mesa. Tudo bem, pode inaugurar em 1º de outubro, ninguém vai ficar chateado, muito pelo contrário. Todo mundo vai aplaudir. Estaremos lá dando a maior força. Até porque, já existe a ligação, não a ideal, mas já existe. Se você inaugurar o novo terminal hoje, vai poder operar.

Lógico, terá que ser pela SC-405, fazer aquele contorno no trevo e vai ficar parado pra caramba. Mas já é assim, já é demorado. Então não vai mudar muita coisa. O que a gente tem certeza que vai fazer é chegar em outubro com duas pistas ligando pelo itinerário novo e isso está indo bem, a obra está indo bem. Conseguimos liberar os terrenos que estavam fechando a maior distância, onde estava a maior quantidade de lama de maior profundidade.

Em outubro teremos essas duas pistas ligando com certeza pelo traçado novo. E digo mais, será um trecho pequeno de duas pistas, temos um trecho fechado com as quatro. Até outubro, se não tiver nenhum empecilho que nos atrapalhe, teremos o maior trecho concluído e um pequeno trecho que não vai dar para fechar as quatro até lá. Quero fechar o ano com as quatro pistas prontas. Só não digo outubro porque preciso de novembro e dezembro para zerar.

Leia também: Divergência entre Estado e concessionária marca obra do acesso ao aeroporto da Capital

Então o problema é que começa isso de “então é 1º, então é 30 (de outubro)”… Você até colocou ali (publicação do colunista na edição de 18 de abril sobre a entrevista de Hassler à CBN Diário), que foi uma atitude irônica… Comunicação tem dessas coisas ruins. Você quer falar uma coisa e o ouvinte entende outra. A questão não é ironia, a questão é tentar distender. Quando vem uma notícia dessas das datas, isso gera tensão. Tudo que nenhuma obra precisa é tensão que gere stress para o andamento da obra, que faça os atores envolvidos começar a despender tempo ao invés de focar na obra. Meu objetivo, quando falo, é distender.

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Desde o começo do ano, o senhor tem assumido um tom de enfrentamento nesse caso do acesso, incluindo declarações irônicas e até debochadas sobre a situação. Não seria melhor ter um tom mais conciliador para tentar resolver o impasse com a concessionária?

Talvez… Vou rever, começar a dar notas mais oficiais, parar de falar também. Vou dar essa entrevista, fechar esse assunto e depois falar só por nota. O fato é que no início eu tinha que colocar uma posição firme, senão eu ia ser levado a me comprometer com algo que não seria possível fazer, e aí eu estaria mentindo para a população. E não estou aqui para isso. Fui claro: agosto não vai sair, e botei na mesa. Lógico que a empresa ficou chateada porque ela queria, mas não dá. Contra fatos não há argumentos, não adianta querer. Agora foi. Falei em 30 (de outubro), foi um descuido meu, deveria ter ficado quieto. O importante é que em outubro vai ter uma ligação lá, isso pode ter certeza que quem sair do Centro vai chegar no aeroporto no dia 1º, 2 de outubro… para fazer a inauguração.

Falava-se em dia 1º de outubro para a entrega, o senhor falou em 30. Não há como estipular nesse momento uma data?

A partir de 1º de outubro vai ter uma ligação. Agora, entregar tudo prontinho não será nem em outubro. Eu não brigo por outubro, quero chegar ao final do ano com a obra pronta. Não sei se vou conseguir, mas estou trabalhando para isso. Se as desapropriações deixarem, eu acho que a gente consegue. Quando falo em outubro, não é obra pronta. É um paliativo para poder entregar o terminal. Obra pronta pra mim é obra pronta, mas pra mim a missão não cumpriu ainda.

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Qual foi o cenário de projeto completo que o senhor encontrou ao assumir a obra do acesso? Em qual ponto o senhor detectou que não teria como entregar a construção em agosto e teria que ser em outubro?

Realmente foi o volume de terrenos e a localização das áreas de desapropriação. Eles estavam segurando todo um lote, enquanto os outros estavam caminhando. Mas você vê, quando a coisa é boa para a sociedade, vai. A gente está tendo apoio do Judiciário, os juízes estão entendendo, dando as decisões com rapidez, sem beneficiar A, B, C. Não é isso. É sendo justo, buscando a Justiça com quem infelizmente está tendo que ceder seu terreno para o bem coletivo, mas apenas com celeridade, que é com o que a gente se debate nos processos judiciais. Aí quando vem notícia dizendo que tem problema… não tem problema. A gente está tocando a obra, as desapropriações estão acontecendo. Volta e meia entra um ator querendo estressar. Semana que vem teremos audiência com os moradores da região para acalmá-los. Tem gente dizendo informações incompletas, vamos esclarecer para distensionar e deixar o pessoal trabalhar na obra.

Não caberia ao Estado, diante da situação atual, procurar uma alternativa caso não consiga atender aos prazos?

É a que estamos construindo, fica tranquilo.

Porque, para a concessionária, é importante estar pronto no dia 1º de outubro…

É porque eles querem inaugurar. Não vou atrapalhar a inauguração deles. Por isso que eu falei: outubro estará pronto, distensiona isso. Eles vão poder fazer a inauguração. E quem mais do que nós quer isso? Quem mais do que o governador quer isso? Por que não me preocupo com 1º de outubro? Porque até lá não fechei minha missão. A minha missão é fechar com quatro pistas, bonitinho, asfaltado, gramado. E isso é só para dezembro, janeiro. Mas quero fechar até o final do ano.

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Qual é o maior problema da obra nesse momento? É desapropriação mesmo ou a questão ambiental?

Outro ponto bom: está todo mundo ajudando. Fizemos reunião com o ICMBio, eles entenderam nossas considerações, aceitaram as colocações e flexibilizaram algumas coisas. Aquilo que não pode flexibilizar, vamos fazer o que eles estão exigindo sem problema nenhum. Existem pendências, mas está tudo caminhando bem.

O que senhor detectou, ao chegar na secretaria, que teve de erro no planejamento para a obra? O que levou a essas mudanças constantes de datas?

Primeiro, sempre destaco isso: não julgo meu antecessor, cada um tem a sua circunstância. Então não cabe a mim julgar. Mas, buscando uma resposta, sem caráter de julgamento, como em diversos processos e em todas profissões e carreiras, houve erros técnicos durante o processo.

Houve interferências por interesses privados no processo. Ali tem valores estúpidos de desapropriação que correm por ali. Então, obviamente que houve interesses tensionando. Houve interesses ambientais. Tinha gente querendo jogar toda a estrada dentro da reserva, o pessoal da reserva reagiu. Houve essa queda de braço para definir o traçado. E isso tudo foi gerando atraso, tudo conflito de interesse. Não estou dizendo que é ilegítimo, são coisas normais. Mas o brasileiro tem mania de fazer isso depois que começa a obra.

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E a gente vai tentar, está trabalhando para mudar isso e ter todas essas discussões, que não são evitáveis. Mas tem que conversar antes de dar a ordem de serviço. No Brasil tem-se a mania de dar a ordem de serviço para dizer que deu e depois ir discutir. E sempre dá problema de prazo e esse stress todo.

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