Aprender não tem fim. Nunca haverá uma linha de chegada. Basta manter viva a chama do estranhamento. As lições estão por aí, no dia a dia, derramadas em gestos, amores, viagens, alegrias, lágrimas, vitórias, derrotas, dores, frases. É como disse a poeta polonesa Wisława Szymborska, em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1996: “Seja lá o que for a inspiração, ela nasce de um contínuo ‘não sei’”. O segredo de tudo é o “não sei”.

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No carnaval-sem-carnaval que se passou, nos escondemos numa fazenda no meio da Mata Atlântica. Há muito tempo não aprendia tanto. A começar pela reconexão com a terra, os cheiros, a pitanga, o limão, as verduras, o ar, os bichos, o verde, o sol, a água leve, o lago, a cachoeira, a terra seca, as pedras, as plantas, a chuva forte, o renascer do sol, o céu, o suor, as estrelas. Lembrei de coisas da infância, da adolescência em família.

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Foram quatro dias de questionamentos sem respostas, quatro dias tomados de “não sei”. Na maluquice em que vivemos, sequer percebemos o peso e o valor da simplicidade. Como o menos pode ser muito mais. Como uma conversa de beira de rua – sem maneirismos, verdades e prepotências – pode ser tão valiosa quanto dias e dias de vida acadêmica.

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O relato do amigo Giovanni Faria, em uma das andanças pelas cidades de Minas Gerais, é prova disso: “Encontro Pedro Bigode, 78 anos, 12 filhos e um paradoxo: torcedor do Atlético Mineiro com a camisa do rival Cruzeiro. ‘Pobre veste o que ganha e tem. O resto é bobagem’, Bigode me disse”.

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A profissão que abracei (acredito que aconteça o mesmo em outras) tem o que chamamos de “velho jornalista”. Aquele que já viu tudo na vida, para quem nada mais causa estranheza: o buraco na rua, as pessoas que dormem em barracas, a fome, o sorriso de uma criança, os horrores da guerra, o olhar da pessoa que amamos. Para eles, o “não sei” não existe mais. E que sentido faz uma vida sem curiosidade, sem o eterno desejo de perguntar, conhecer e aprender? “O oposto da vida não é a morte, é a indiferença”, disse o escritor judeu Elie Wiesel, sobrevivente dos campos de concentração nazistas e vencedor do Nobel da Paz de 1986.

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É preciso humildade para reconhecer toda a nossa ignorância e arrogância. São necessários despojamento e desafetação para entender que o conhecimento, sempre, levará a eternas dúvidas. É essencial respeitar a força do “não sei”, conforme disse a poeta Wisława Szymborska: “É pequena, mas voa com asas poderosas. Expande nossa vida para incluir espaços que estão dentro de nós, bem como as vastidões exteriores em que a nossa minúscula Terra pende suspensa”.

Pra refletir:

Do poeta espanhol Luis García Montero:

O conhecimento é a melhor arma que podemos usar contra a mentira. E a cultura é a melhor defesa contra esse investimento em analfabetismo, contra o populismo e a demagogia.

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