Paulo Gracindo foi um dos maiores atores da televisão brasileira. Entre seus personagens, o mais famoso foi Odorico Paraguaçu, prefeito da bizarra Sucupira na novela “O Bem Amado” (1973). Corrupto e demagogo, era adorado pelos eleitores. Uma de suas tiradas virou mania no país: “A ignorância é que atravanca o progresso”. Tudo em Odorico é muito atual.
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Os casos e as demonstrações que confirmam a tese de Odorico, simplista mas visionária, são muitos, quase diários. A seguir duas histórias recentes como exemplo:
1) A escolha de um filósofo, que odeia a maior manifestação popular do país, para dirigir uma fundação de cultura em Santa Catarina. Maior contrassenso, impossível. Seguidor de Olavo de Carvalho, o suposto intelectual disse anos atrás: “Acho o carnaval uma bela merda. Sempre achei”.
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2) O Grammy, prêmio musical concedido no domingo, dia 5. Samara Joy, ótima cantora de jazz, desbancou a nossa Anitta e outros candidatos na categoria Revelação. Fãs da brasileira (que também devem ser fãs de Olavo de Carvalho) decidiram ofender a cantora americana nas redes antissociais, num show de ódio, deselegância e ignorância.
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O carnaval está perto. Os blocos, as fantasias, os sambas. Com meus pais e minhas irmãs, desfilávamos anualmente no Cacique de Ramos, tradicional agremiação do tríduo momesco carioca. Depois me distanciei, por opção própria. O reencontro rolou por motivos profissionais: a cobertura dos desfiles no Sambódromo. Saía de lá exausto e assombrado com tanta inspiração, arrebatamento e gente bonita. Nos separamos de novo. Sinto saudade até hoje.
Anitta é sublime. Corajosa, talentosa, iluminada – é a cantora brasileira com maior destaque internacional hoje. Não sei cantar, nem fazer as coreografias que as músicas dela exigem. Meu tempo passou, como diria Chico Buarque em “Noite dos Mascarados”. Admiro Anitta – assim como seus fãs deveriam aprender a admirar e respeitar outros músicos, sejam de rock, funk, jazz, bossa nova, ópera, samba. A poderosa Anitta poderia, também, ajudar a educá-los.
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Um amigo costuma dizer que respeito não se compra na padaria da esquina. Outro amigo afirma que a ignorância, em muitos casos, é uma bênção. Enquanto isso, vamos ficar com dois gênios. Platão escreveu: “Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria, que é um bem, e a ignorância, que é um mal”. Já Sócrates bradou: “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”.
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Sabem de tudo esses filósofos de verdade.
Para refletir
“Uma das coisas mais perigosas do mundo de hoje é não ter tempo para pensar e ainda assim ter que dar respostas rápidas e permanentes, que ficam cravadas em nós”.
Da poetisa Matilde Campilho:
“A fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um cotidiano feito de rotina e de vazio. O que mais cansa não é trabalhar muito. O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos”.
Do escritor Mia Couto
“Minha pátria são os livros”.
Da Marguerite Yourcenar
“A liberdade nada mais é do que a possibilidade de ser melhor”.
Do escritor Albert Camus
“Numa ditadura pensar é crime”.
Do cantor Tom Zé
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