Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que sou totalmente a favor do uso da tecnologia no futebol. Sempre fui. Quem acompanha meus textos e comentários sabe que minha linha sempre foi de analisar que demoraram a implementar e que não tem mais volta. Sigo pensando assim.  

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Qual o problema, então?  

A questão é perceber que a tecnologia, em muitos casos, está sendo utilizada de forma incorreta e que o protocolo e as orientações ainda têm que passar por muitos ajustes. O Campeonato Brasileiro está na reta final. Faltam 12 rodadas. E há muitas reclamações pertinentes sobre a utilização, ou a não utilização, da tecnologia na cabine do VAR. É preciso admitir que não está funcionando como deveria funcionar. E que há muitas intervenções indevidas. 

 Onde está a mínima interferência? 

O protocolo tem a expressão “erros claros” para definir lances em que o VAR tem que interferir no jogo. O que seria um erro claro? É uma primeira questão que precisa ser feita. Um gol feito com a mão e não visto pela arbitragem de campo é um erro claro. Imaginem o VAR na Copa de 1986. O gol de Maradona contra a Inglaterra, a famosa “mão de Deus”, seria anulado. Ninguém reclamaria. A imagem era clara e a irregularidade escandalosa. Um pênalti nitidamente simulado, aquele que o atacante se atira, digno do famoso “troféu Alberto Roberto” do Redação Sportv, seria um erro claro para ser corrigido.

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Mas tem que estar claro pro pessoal da cabine. Se houver discussão e dúvida e alguém disser “será que se atirou mesmo?” já não é um erro claro. E aí está um ponto. O VAR deveria atuar em lances mais escandalosos, em que não há dúvida mesmo. Tem que haver uma tentativa de deixar mais “claro” o que é um “erro claro”. 

No impedimento funciona quase sempre bem 

O impedimento é mais objetivo e tem sido o maior benefício do VAR até aqui. Mesmo assim, é preciso refletir. Houve um tempo em que “mesma linha” era impedimento. A regra foi mudada em 1991 permitindo que um atacante que estivesse na mesma linha que o penúltimo defensor – contando o goleiro – da equipe adversária estivesse em posição legal. A intenção era permitir mais gols.  

O sentido da regra era perceber que um atacante que estivesse na mesma linha que seu penúltimo adversário não tinha uma clara vantagem sobre ele. A vantagem seria caracterizada se o atacante estivesse à frente, mais próximo da linha de fundo e, na maioria das vezes, por consequência, do gol do time oponente. Este histórico é necessário para entender que o VAR, que analisa milimetricamente os lances de impedimento, está acabando com a “mesma linha”. Meio pé à frente, um dedo do pé à frente, um centímetro ou milímetros, caracterizam-se por vantagem do atacante? Isto pode ser discutido. Qual o sentido da regra? No final das contas, se os lances milimétricos forem cassados, a “mesma linha” do impedimento foi, na prática, para o espaço. 

 Autoridades e interpretações diferentes  

Escrevi outro dia que os árbitros ganharam um brinquedinho novo e estão brincando com ele. Deve ser tentador para um árbitro na cabine do VAR interferir em decisões de campo. Primeiro para “brincar” com o brinquedo novo. Segundo porque o árbitro da cabine do VAR geralmente também é árbitro de campo. Ele está acostumado a decidir. Foi treinado pra isso. Não foi treinado pra deixar passar. É bom lembrar que há interpretações diferentes entre árbitros diferentes. Em qualquer reunião entre eles vai haver divergências sobre um lance específico e decisões que foram tomadas. Então vai haver briga de autoridade e interpretações diferentes entre campo e cabine.  

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O árbitro de campo sabe que tem uma autoridade no ouvido quando ele não leva o escudo FIFA e quem está na cabine leva. É aí que podem surgir mais alguns erros. Afinal, um árbitro FIFA é mais autoridade que um árbitro só CBF. Por isso, uma das maiores reflexões da primeira temporada do VAR no Brasil é que é preciso entender que os erros existem. Talvez estejamos aprendendo da pior maneira possível que o erro no futebol não vai acabar. A máquina não resolve sozinha. Ela é operada por humanos, que têm interpretações diferentes, que podem errar. Por isso, é preciso interferir menos, respeitar mais as decisões de campo, mesmo com alguns erros.

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