Nesta entrevista especial, o advogado João Joaquim Martinelli, CEO do escritório Martinelli Advogados, fala de seus aprendizados e explica porque Eggon João da Silva e Baltasar Buschle são referências. Argumenta sobre a importância de delegar, e ensina: “as empresas devem contratar jovens que possam ser melhores do que o líder”.

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Martinelli é fundador e presidente do Martinelli Advogados, um dos escritórios de advocacia mais admirados do Brasil, segundo o Anuário Análise 500. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, com especialização em Direito Tributário e Societário. Presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij).

Ele é consultor de empresas há mais de 40 anos, com participação em diversos conselhos de administração e processos de sucessão empresarial. É Cavaliere Della Ordine Della Stella Della Solidarietà Italiana, título concedido pelo governo italiano. Cônsul honorário da Itália para Joinville e região e homenageado com a comenda Legislativo Catarinense, concedida pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

No dia 20 de agosto de 2019, Martinelli receberá o título de Cidadão Honorário de Joinville por iniciativa da Câmara de Vereadores da cidade.

O que é ser líder?

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Ser líder é conseguir seduzir um grupo de pessoas com vistas a um objetivo e projeto comuns. Liderança não se impõe. O líder atrai. A liderança é legitimada naturalmente pelas pessoas. O líder tem carisma. Deve ter o poder de seduzir. Isso distingue o líder do chefe.

O que o senhor aprendeu com a experiência de empreender?

Aprendi a importância de me cercar de pessoas jovens. Gosto muito dessa convivência e, então, poder transformar estes jovens em profissionais de ponta. O jovem por perto não te deixa acomodar. Ele quer crescer e te estimula.

Contratar bem é fundamental?

Também aprendi que se deve contratar pessoas que possam ser melhores do que eu. Hoje há muitos profissionais melhores do que eu no escritório. O jovem tem “pegada”, tem capacidade de te tirar da zona do conforto.

Qual é o maior valor que um profissional deve ter?

As pessoas olham para oportunidades e têm de ter uma característica essencial: a lealdade. É o valor que mais prezo.

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O que é preciso para se tornar empresário de sucesso?

Tem de pensar como empresário e agir como empresário. Deve ter humildade de reconhecer limites, ser obstinado e ficar com absoluto foco naquilo que planeja. Não pode se desviar do foco.

Numa organização, o que é mais importante?

As pessoas. Não se pode cobrar o que as pessoas não sabem. Há de ter clareza e as pessoas têm de saber o que se espera delas. Numa empresa como a minha – escritório de advocacia – não tenho produto físico para entregar aos clientes. Por isso, competência, resiliência e persistência para conquistar credibilidade são fundamentais.

O que o empresário não pode fazer – aquilo que dará errado?

O empresário não pode não delegar. Não pode não se comunicar bem. Não pode se isolar. Tem de aprender a fazer junto. Fazer juntos torna todos sócios da solução, embora a decisão seja, sempre, do líder.

Quais oportunidades não se pode desperdiçar nos negócios?

A oportunidade, quem te dá, sempre, é o cliente. O empresário tem de saber o que o cliente ainda não sabe que vai precisar daqui a dois anos. O empresário tem de se antecipar ao que o cliente vai precisar. Então, a oportunidade é a gente que faz. O mercado precisa de mais visionários.

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É possível planejar o sucesso?

É possível planejar o que se vai fazer e é importante focar naquilo que você é bom. Mas o sucesso depende de fatores às vezes alheios à vontade. Se você tiver uma boa ideia, liderança e pessoas que agregam e que estão incorporadas ao mesmo projeto as chances de dar errado são mínimas.

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Martinelli é consultor de empresas há mais de 40 anos, com participação em diversos conselhos de administração e processos de sucessão empresarial (Foto: Salmo Duarte / A Notícia)

Qual foi teu maior acerto?

O maior acerto é fidelizar os clientes. Isso é importante, especialmente num negócio como o nosso, que tem a obrigação de entregar soluções. Temos mais de 3 mil clientes que, de uma maneira ou outra, têm demandas, recorrentes ou não, e que gravitam em torno do escritório. Meu maior prazer é ver as pessoas se transformando. Essa é a minha obra: ver um estagiário tímido se transformar num ótimo advogado.

E o maior erro?

O descuido com clientes e não ter percebido a sua insatisfação. Frustração é não conseguir reter o cliente. Felizmente é raro.

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O fracasso ensina?

Eu não sei o que é fracasso. Bem, há 20 anos abri um negócio voltado a treinamento e percebi que era desvio de foco. Perdi dinheiro. E fechei. Aprendi que qualquer coisa que se fizer tem de ser sinérgico ao negócio. Não se corta o apêndice? Então… Tudo o que é apêndice, a gente corta.

Quem é teu guru?

Minha inspiração é meu pai. Ele lia tudo. Tinha forte crença e afirmava: “filho, você vai se tornar um grande advogado”. A necessidade de não desapontar meu pai me levou adiante.

Em sua trajetória, com quem mais aprendeu?

Tive grandes aprendizados com duas lideranças. Baltasar Buschle e Eggon João da Silva. O Baltasar era paternalista. Me deu lições. 1. não quero você de fofoca; 2. você tem de parecer mais velho – use óculos. Ele também tinha um profundo senso comunitário.

E o Eggon?

O Eggon (sócio fundador da WEG) tinha a sabedoria dos valores. Dizia: máquinas você compra; dinheiro você pede emprestado, mas pessoas são essenciais. Cuide bem delas.

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O que mudou na sua percepção, no seu pensamento ao longo dos últimos 20 anos?

O melhor da gente é a soma de nossos pequenos defeitos. Hoje tenho mais sabedoria e mais serenidade. Hoje somos reconhecidos por poder resolver problemas e enxergar as coisas na sua verdadeira dimensão.

Algum livro que te marcou?

O livro é “A Meta”, escrito por Eliyhau Goldratt, em 1984. Por causa dessa leitura, há muitos anos, fiz todos do escritório terem metas a cumprir. Ao medir, sabemos se estamos indo bem ou mal. Temos metas para tudo: metas de número de clientes, de faturamento, de lucro, de treinamento.

O que falta fazer?

Falta fazer a transição de comando no escritório. E isso está em andamento. Quero passar à fase de conselheiro quando chegar aos 70 anos (João Martinelli tem 68 anos atualmente).

A política afeta os negócios. Como percebe essa relação?

Sem dúvida alguma. As ações políticas tem reflexos diretos nos negócios e sobre as empresas. Gerir os negócios e ficar alheio ao que ocorre na política e o que fazem Legislativo e Executivo traz consequências. Os empresários tem de estar atentos ao que pensam e como agem os políticos.

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O associativismo no âmbito empresarial auxilia a atividade empresarial?

O modelo de associativismo, como o praticado na Acij, por exemplo, reúne pessoas diferentes de empresas das mais variadas áreas em torno de causas comuns. Agimos para tratar de temas que afetam a comunidade. A nossa agenda e a agenda de todos: mobilidade, infraestrutura, segurança. São assuntos de interesse coletivo. Até dos trabalhadores.

Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.

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