Estudar muito, diferenciar-se e não tomar decisões motivadas pelas emoções são algumas das lições dadas pelo ex-presidente da Tupy Luiz Tarquínio Sardinha Ferro e atual consultor, nesta entrevista especial. Ele diz que as crises são gatilhos para transformações e lembra que, na arte de negociação, o oponente é parte do problema e da solução. Afirma ainda que, na gestão, boa convivência com os clientes é indispensável.

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Tarquínio é sócio-diretor da Etrus Cosultoria. Dirigiu a Tupy por 15 anos: de 2003 a 2018. Também foi presidente da Previ, a caixa de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Foi executivo de finanças do Banco do Brasil e também coordenador geral de administração da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional do governo federal.

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O que é ser líder?

Luiz Tarquínio Sardinha Ferro – A liderança tem várias dimensões. A primeira é entender, em profundidade, as premissas que envolvem a liderança e ter um atento olhar para o equacionamento de soluções. A segunda dimensão é a humana. No caso, a liderança tem conexão com a capacidade de se relacionar com as pessoas e de formar um time. O líder deve saber fazer leitura correta dos seus liderados e identificar potenciais, agindo para desenvolver estes potenciais. Gosto muito de jovens, de aprimorar o desempenho deles fazendo coaching.

E a terceira vertente?

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Tarquínio – A terceira vertente diz respeito ao compromisso com os resultados para a eficácia e se chegar ao objetivo desejado. Neste caso, o líder precisa ter uma agenda clara. Aí, é fundamental ter uma estratégia bem definida para obter os resultados traçados no planejamento.

O que aprendeu ao longo dessa jornada como executivo?

Tarquínio – Aprendi a importância de estudar. A decisão mais importante foi buscar a diferenciação pelo estudo contínuo. Aprendi a trabalhar sob pressão. Também aprendi que o conhecimento geral facilita as coisas para se lidar com aquilo que você não conhece. A capacidade de aprender e de apreender te leva a crescer. Tive sorte de ter sido desenvolvido por pessoas muito capazes.

Como se deu essa evolução?

Tarquínio – Atuei na Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, onde tive de lidar com jogo de interesses conflitantes. Lá, a capacidade de articulação e de negociação foi decisiva.

De lá veio para comandar a Tupy?

Tarquínio – Cheguei à Tupy, para um negócio – metalurgia – que eu desconhecia. Aí, o que mais me ajudou foi minha inocência em relação a este mercado e a esta indústria automotiva. À época, compreendi a importância da inter-relação com entidades e pude participar de escolhas profissionais de jovens referenciais, como é o atual presidente da companhia, Fernando Rizzo.

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Tarquínio é sócio-diretor da Etrus Cosultoria
Tarquínio é sócio-diretor da Etrus Cosultoria (Foto: Salmo Duarte/A Notícia)

O desafio no trabalho era reestruturar as finanças da companhia?

Tarquínio – Exatamente. Estabelcer regras e premissas é importante na gestão de um negócio. E não importa qual seja ele. Há uma regra geral: temos de desenvolver a convivência com os clientes para viabilizar a sustentabilidade do empreendimento. Para isso, é preciso identificar os caminhos junto a fornecedores, clientes e equipe com foco no desempenho e resultado.

Estratégia é importante…

Tarquínio – É, mas ela, por si só, não garante o sucesso. O gestor e sua equipe têm de saber qual é o ponto de partida, onde querem chegar e ter grande capacidade nas áreas de recursos humanos, comercial e de produção.

Como o jovem pode se transformar em empresário e profissional de sucesso?

Tarquínio – O jovem
tem de se especializar, tem de se diferenciar. Isso é o principal. Diferenciação pelo conhecimento. Vontade organizada de fazer. Saber como funciona a organização e
ter fundamentos de gestão são ingredientes vitais para uma carreira. O jovem deve fazer algo que case com sua personalidade, com seu jeito próprio de ser. Isso tudo exige esforço.

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O que o empresário não deve fazer, que vai dar errado?

Tarquínio – Não pode
tomar decisões no calor das emoções. Tem de saber ganhar e saber perder. Às vezes, para ganhar, é necessário ceder a vitória ao outro. Deve-se compreender que o oponente é parte do problema e parte da solução. Então, numa disputa, numa discussão, é possível caminhar
para o meio: o todo é maior do que a soma das partes. Uma das características de um líder é saber ouvir.

Quais as oportunidades que não se pode desperdiçar?

Tarquínio – Você vai
encontrar as respostas na visão e nos valores expressos pela organização. Uma visão bem formulada traz estratégias bem definidas. Estabelecer atributos para entregar o que se propõe é necessário.

É possível planejar o sucesso?

Tarquínio – Planejar
não é sinônimo de sucesso. Mas uma formulação benfeita de um plano aumenta a chance de êxito. O sucesso não é determinístico; é probabilístico.

Tarquínio lembra que as crises são gatilhos para transformações
Tarquínio lembra que as crises são gatilhos para transformações (Foto: Salmo Duarte/A Notícia)

Qual foi o seu maior acerto?

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Tarquínio – Certamente foi estudar! Estudar muito. Ter a humildade para reconhecer as limitações próprias é elemento importante para o sucesso. Liderei uma companhia muito competente, com núcleo de negócio forte. O ambiente de estudos ajuda a aprender muito com as experiências diferentes.

E o seu maior erro?

Tarquínio – Já errei muito. Já perdi a paciência, me indispus, demorei para dar atenção a determinados temas. Quando fui, transitoriamente, vice-presidente de finanças do Banco do Brasil, comprei brigas desnecessárias. Jovem… Às vezes me faltava sensibilidade para compreender a situação.

O que as crises ensinam?

Tarquínio – As crises são gatilhos que promovem transformações. Isso vale para todos: governos, empresas e pessoas.

Quem é seu guru?

Tarquínio – Admiro muito a história do ex-primeiro ministro da Grã-Bretanha Winston Churchill. Tinha um enorme senso de urgência; desempenhou papel importantíssimo para o mundo na Segunda Guerra Mundial. Tinha absoluta fidelidade ao que acreditava. Incentivava e tinha liderança para estimular quem passava por situações adversas.

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O senhor lê muito. Algum livro em especial?

Tarquínio – Tantos! Destaco O último lugar da terra. O autor é Roland Huntford. A obra tem muitas passagens aplicáveis à administração. Uma história que trata de empreendedorismo, planejamento, treinamento e contém lições de como se pode fazer algo grandioso.

O que mudou na sua percepção de mundo ao longo destes últimos 20 anos?

Tarquínio – Mais jovem (agora com 58 anos), eu não tinha a temperança de agora. Vivia as situações com mais ímpeto. Com o passar dos anos, aprendi a relativizar a importância que se tem no ambiente no qual se está inserido. Nestes últimos 20 anos, 15 foram na Tupy. Aprendi muito em humildade e simplicidade.

Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.

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