O antropólogo e psicólogo Roberto Crema esteve em Joinville e fez palestra na Acij. Falou para um público diversificado sobre as crises dos desencadeadas pelos desencontros; mostrou o significado dos conflitos para as sociedades e explicou a importância da mediação para a efetiva resolução de problemas – complexos, ou não. A seguir, um resumo do pensamento dele, captado em entrevista exclusiva.

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A sociedade está cada vez mais conflituosa. Por quê?

Roberto Crema – Sim, essa afirmação é correta. Vivemos uma crise com predominância dos desencontros. Isso acontece porque há profunda incompreensão em relação às diferenças. É fundamental que as pessoas abram espaço para ouvir. Especialmente ouvir o outro.

A arte do encontro reside exatamente nisso, na capacidade de escutar atentamente a mensagem do outro.

Como isso deve ser feito?

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Crema – Precisamos articular e construir pontes para evitar que as diferenças cresçam exageradamente. A questão-chave está no apego das pessoas ao poder. Isso é problema sério. Quando falo em poder, quero dizer poder de qualquer forma, de qualquer natureza. O poder é possessivo.

Qual é a mensagem?

Crema – É essencial refletir: o diálogo se encontra na capacidade de valorizar menos o amor ao Poder, e mais o poder do Amor.

De onde deriva o desejo de poder?

Crema – O amor ao Poder decorre do ego. O ego é apenas periferia do nosso ser. Temos de aprender a fazer a jornada para o centro, para dentro de nós mesmos. É uma tarefa árdua. Árdua, porém vital.

Difícil isso em tempos tão turbulentos e competitivos.

Crema – Exato. Por isso mesmo, a mediação é tão importante. A capacidade de pensar junto e buscar a diminuição das diferenças é fundamental nesta quadra civilizatória. É importante a gente aprender a se colocar na posição do outro.

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Como isso pode se dar nas empresas, se a competição é brutal?

Crema – O empreendedor, em sua maioria, pensa no curto prazo. Pensa e age de acordo com a batalha pela sobrevivência e, então, é sempre competitivo; age na intensa competitividade. As empresas precisam se transformar numa escola, e, juntas, praticar a ética cada vez mais. Empresas saudáveis trazem benefícios para o próprio negócio e para a sociedade à sua volta.

A negociação é ponto básico no mundo dos negócios. Como ela pode ser eficaz?

Crema – A abordagem precisa ser bem feita. A alma precisa estar dentro do negócio – e da negociação, claro. Não se deve apenas capitalizar o lucro, o lado econômico. Na negociação tem de se ver a ética, os valores, a questão do meio ambiente. Temos de levar em conta princípios que nos leve a um mundo mais humano.

Que princípios são esses?

Crema – O primeiro é o princípio da escuta. Estar atento, de verdade, ao que diz o outro. O segundo é o da capacidade diálogo. Porque o encontro se dá no sagrado. O terceiro é a empatia. Aquela percepção que os outros têm de que vale a pena conversar – e negociar – contigo. O quarto princípio é o feedback. Feedback não é julgar os outros; é a arte delicada que implica em ação pragmática e levar ao incremento.

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