Nos conhecemos no corredor da empresa, virei uma esquina e pá, ali estava ela e não, não acredito em amor a primeira vista, não recomendo, tenho certeza que não existe, mas que foi, foi. Ela tem um sorriso fácil e um jeitinho sorridente de quem sempre está de bem com a vida, parece que estava me dizendo que a vida ia ser divertida e suave, engraçada e cheia de aventura, que ia ter praia, cerveja e filhas lindas, que ia ter viagem junto de mão dadas, dois jovens bobos na Serra, pagando o triplo do preço por um prato de risoto, e felizes com isso. Parecia que a vida ia ser boa e leve, e foi mesmo. Foi. É. Está sendo.

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Todos os casais felizes são felizes pelos mesmos motivos, o novo, o vinho, as piadas internas, a calma de saber que é amado. Mas cada casal infeliz é infeliz à sua maneira. Foi um não dito, um deslize, uma frase mal colocada, uma indelicadeza, um dia que a confiança se quebrou. Foi outra, foi outro, foram os filhos, foram as sogras, cada casal infeliz será infeliz por conta de algo específico que voltará em todas as discussões, dois anos depois, que eu, que dois, que dez, que dez milhões de anos depois, as mesmas mágoas, as mesmas reclamações daquele dia, aquilo que o outro sempre faz, cada casal tem o seu dia, a sua decepção, a sua indignidade inesquecível. E assim, os casais se separam.

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Casais que duram esquecem. Casais que duram conversam. Casais que duram resolvem as questões. Casais prestes a se separar dirão: “não vamos conversar agora que eu tô cansado” ou “não vamos conversar agora que as crianças estão ouvindo” ou qualquer outra desculpa, mas casais que duram conversam, resolvem, esquecem, recomeçam do zero.

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Estou casado faz quase vinte anos e já cansei de contar as vezes que pensei em separar e, uma semana depois, pá, estávamos andando de mãos dadas na rua, saindo pra jantar sem os filhos, transando escondido no banheiro. Com o tempo, vamos entendendo que estar de saco cheio é normal. Espera, Carlos. Espera que o amor volta.

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Com o tempo, você aprende a andar sempre com uma barra de cereal no carro, que noventa por cento das nossas brigas começam quando ela está com fome. Com o tempo, você aprende a andar com um casaco no porta-mala, que quando ela está com frio a festa acaba. Com o tempo, você aprende que perder uma discussão e entender melhor como ela pensa é melhor do que ganhar falando uma frase de efeito que acaba com a discussão e cria uma mágoa pro resto da Idade Contemporânea. Com o tempo, você aprende a elogiar. Você aprende a valorizar e verbalizar as coisas que ama nela. O sorriso fácil, o jeitinho sorridente de quem está sempre de bem com a vida. Ela me dizendo que a vida pode ser leve e divertida. E eu acreditando.