Meus pais vieram do interior de Minas Gerais para morar em Florianópolis no final da década de 70. Da minha família, até pouco tempo eu tinha sido a única "manézinha". Eles também chegaram a morar no Rio de Janeiro – quando meu irmão mais velho nasceu – mas o sangue de todo mundo é mineiro. O Juliano, que é meu irmão do meio, nasceu em Lavras, MG – onde existe uma faculdade bastante respeitada – a UFLA – e a gente continua amando frango com quiabo, pão e queijo e, se meus pais ficam bravos, eles acentuam o sotaque. Não sei se eles notam. Houve uma fase em que meu pai queria abrir um restaurante mineiro. Eu, pessoalmente, sonho muito em viver em um sítio – que o mineiro chama de "roça" e eu também chamo assim – e quero colocar na roça que a gente ainda vai ter, um pé na areia essencial.
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Nossos pais costumam ter muita sabedoria. Minha mãe tem frases lacradoras e um senso de realidade muito interessante. Sempre com os pés no chão, ela é o tipo de pessoa que toma decisões com bases concretas. Diferentíssima de mim que sempre procurei ser empreendedora e admiro visões de mundo novas, ver a vida com base em determinadas precauções continua sendo um aprendizado muito rico. Meu pai e minha mãe viveram histórias de vida de bastante batalha. Nenhum nasceu com muitas sobras em casa – ao contrário, na verdade. E, muito embora eles pudessem se resumir às suas condições de como a vida começou, eles quiseram algo mais e, com certeza, munidos de todo esforço, focaram em conseguir mais. E chegaram lá: formaram família, aposentaram-se em instituições bastante respeitadas e, mesmo depois de perderem meu irmão mais velho, seguem de cabeça erguida com toda a impossível saudade que guardam. Mas como?
Para a minha mãe a prioridade sempre foi a família. A crença que ela me ensinou é que se investirmos nossas conquistas em melhorar o que temos dentro de casa, isso se estenderá aos demais. Ela também sempre entendeu que a vida se constrói com base no que é justo.
Olha com cuidado o sucesso e cerque-se de pessoas capazes de sua autonomia – para que, se capazes da conquista da liberdade, sejam capazes de somar e multiplicar.
Isso só é possível quando estamos unidos àqueles que, com o mesmo senso de esforço e com a mesma visão de mundo, conquistam o dia de hoje.
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Às vezes pego meu pai para conversar enquanto ele lava a louça do almoço de todo final de semana. Me encosto ao lado dele na pia e fico fazendo perguntas. "O que fazer para ser feliz, pai?"
Aprenda a ser feliz com um salário mínimo e tudo o que vier para além você vai aprender a desfrutar. Para que as coisas não nos aprisionem não podemos nos tornar dependentes delas. Tenha uma vida simples.
Minuto de silêncio, mudança de muitas rotas.
Grávida do João Ricardo comecei a tomar decisões grandes: diminuir equipe, conquistar novos fornecedores de mesma filosofia e senso de justiça, reduzir estrutura, melhorar processos para levar nosso serviço com cada vez mais amor e essência.
Desprovida do desejo de "mais" do tipo além do mínimo com qualidade, acabei descobrindo que eu já tinha tudo e a vida me trouxe um novo despertar de simplicidade. Nossa família veio do simples, partiu do princípio da prioridade à família – e com isso há muitos desdobramentos, que escrevo em textos do futuro – e investiu a felicidade na simplicidade.
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