Lembro que um dos momentos mais polêmicos da trajetória das nossas palestras aconteceu quando fiz uma fala para a faculdade de Administração — onde fiz meu mestrado — e para os alunos pontuei minha opinião sobre concorrência. Sempre acreditei que os livros existem para serem lidos, debatidos e questionados. O autor prevê e até espera – acredito eu – que o leitor possa avançar em suas percepções e que, pelo debate, essa troca aconteça e a expansão se dê para o escritor também.
Continua depois da publicidade
Sou fã dos desequilíbrios. Nós fomos ensinados a buscar equilíbrio, quando a vida é movimento. Na confusão e no "não saber" residem momentos de verdadeira expansão da consciência e de oportunidades. Equilibrados somos tomados pela fantasia das certezas, que se provam incertas com o tempo — que sempre é tão sábio.
Meu irmão sempre falava da “Teoria dos Fractais” — basicamente essa teoria nos mostra que o "grande começou pequeno", que o micro se reproduz no macro, e que tudo é parte da mesma origem e energia. E os estudiosos demonstraram com cálculos matemáticos que essa reprodução existe em tudo que nos cerca.
O Porter — um guru da área da Administração — trouxe para o mundo o conceito da concorrência e da rivalidade dentro dos mercados. As 5 forças de Porter são estudadas até hoje, mesmo depois da empresa dele ter pedido falência. Em minha visão nada disso existe, e para piorar, pressupõe que alguém quer algo que nos pertence gerando um sentimento de ameaça e até de inimizade. Essa ideia nos ensina que alguém pode ser melhor do que o outro ou ser mais ou menos importante do que alguém. E é nas comparações que estão nossas principais angústias e tristezas. O mundo precisa de gente que nos vê como nós somos e ser o que somos demanda autopesquisa e respeito.
Eu sempre fui atleta, o que poderia ser contraditório porque quando a gente entra em campo deseja vencer. Mas vencer a quem? Nunca fiquei chateada por perder um jogo de quem tinha maior habilidade. Não digo nunca, porque vamos aprendendo, mas era uma honra jogar com pessoas melhores do que eu, e sempre foi incrível aprender, mesmo quando a gente perdia. Como eu posso merecer a vitória se não vibro com a vitória do outro?
Continua depois da publicidade
Vencer a si mesmo é realmente nosso desafio. Se estamos dando o nosso máximo, e isso nos demanda maior treino e dedicação, quem vence da gente nos ensina e inspira. Ter modelos de inspiração é muito diferente de ter concorrentes.
Qualquer autor que a gente pesquisar vai falar sobre prioridades, sobre começar pelo que é mais importante – e eu amo muitas das teorias desses autores, que são mestres que mudaram e melhoraram o mundo – mas meu debate se dá pelo fato de que quando a gente pressupõe disputa, ao invés de focar no que temos, em quem somos, em nossa intimidade, na busca pela nossa satisfação, nos igualamos ao que já existe e nos perdemos nessa imensidão de inautênticos. Quem sou eu? Qual a minha contribuição? Qual é a minha marca?
Tudo é prioridade. Lavar a louça, pentear o cabelo, dirigir, trabalhar — tudo é absolutamente da mesma importância. Ou do contrário estaríamos dizendo que nossa vida é uma mistura de escolhas excelentes e escolhas médias e outras ruins, quando o desafio é conseguir da vida o máximo e o melhor em sua integridade. Se tudo for absolutamente importante e se o micro se reproduz no macro, como viveríamos o dia e que valor daríamos ao minuto que nos pertence agora?
Leia outras colunas da Vanessa Tobias.
Continua depois da publicidade