Não sei quando começou aquela dificuldade que tinha para dormir. Minha insônia virou momento de trabalho extra – quando costumava ter ideias mais claras, ou era momento de preocupação, do tipo “o que vou fazer da vida”, e também algumas insônias desprovidas de razão, que eventualmente batiam em minha porta.

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Entre os mais íntimos a insônia já era motivo de risada e assunto comum. O fato de que eu não conseguia dormir muito era tão comum, que eu acabei desenvolvendo uma estratégia para descansar, usando algumas ferramentas que aprendi em cursos – então quando eu quero sentir sono é só assistir Friends – aquela série americana que eu AMO e que me acompanhou demais.

Nunca encarei a insônia como um problema. Às vezes até achei útil poder “produzir nas madrugadas”. Talvez a gente tenha isso, de tentar valorizar o que não consegue mudar ou entender.

Em uma das madrugadas, onde pode ser que eu tenha começado com a falta de sono, lembro de acordar com uma dor no peito e uma angústia muito forte. Tinha uma sensação de “alguma coisa ruim” ou pressentimento. Levantei, liguei o computador e escrevi tudo que estava na minha cabeça sobre o trabalho, e voltei a descansar.

Comecei a fazer arteterapia e me apaixonei. Eu tenho uma forte ligação com o simbólico. Carrego a crença de que nossas escolhas – de cores, objetos, lugares, de metas, de pessoas, que absolutamente tudo representa alguma lembrança ou significado que carregamos. E nesse tipo de terapia o símbolo é objeto de estudo e de autopesquisa.

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Em meu cartaz da terapia colei no quadrante do futuro a imagem de uma mulher deitada em uma cama bem confortável, bem plena e descansada. Fiquei dias pensando em que talvez representasse a busca da compreensão sobre a insônia e, quem sabe até, de brinde, umas noites mais bem dormidas. Depois do nosso filho nascer minha insônia melhorou demais, mas houve dias que mesmo fisicamente cansada, era abatida pela ausência total de sono – que acabava fazendo falta depois.

Faz pouco tempo que decidimos casar. Eu e o Ricardo fomos bastante ousados ao pensar em um casamento em 43 dias. Animados, nosso pensamento está sendo para isso e para o João Ricardo. Acredito que se eu fizer uma busca pela minha biografia, talvez eu tenha colocado boa parte da minha energia em realizar sonhos de pessoas que eu amo, mas não consigo ter certeza se havia parado algum tempo para, além de manter metas em dia, ousar realizar grandes sonhos – sem julgá-los como desnecessários ou pouco práticos. Ser mãe, ser uma noiva, trocar meu sobrenome – tudo tão intenso e lindo, mas nem sempre tão planejado ou sonhado, e até nem sempre sentido como merecido.

Curiosamente faz dias que durmo como aquela mulher da foto – plena. No dia após aquela noite em que tive um pressentimento, meu irmão faleceu de manhã e os sonhos ficaram parados. Precisei de uma conversa longa com a Vanessa que precisava sair daquele momento e seguir a vida, com a bênção e a permissão dos meus anjos e de Deus para voltar a sonhar, sentindo e vivendo em alegria.

Daí eu entendi tudo. Dorme bem, quem tem sonhos.

Já comecei minha pesquisa com quem também tem insônia: temos sonhado nossos sonhos ou os sonhos que sonharam para nós? O que precisamos ver quando estamos despertos? Quais conversas ainda precisam ser feitas dentro de nós?

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Me parece que a solução está em ousar ter sonhos nada práticos, mas que nos colocam em lençóis de descanso depois de dias de esforço para realizá-los. E a propósito, a moça da foto está com aliança na mão esquerda.

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