Desde que sou pequena minha mãe sempre fez minhas maquiagens. Ela tem muita habilidade com beleza. Sempre foi e continua sendo muito bonita. Nas formaturas e casamentos, minhas amigas iam lá para casa e a mãe curtia fazê-las ficarem ainda mais lindas. – Vá, será que a tia Elice faz a minha maquiagem? – e ela sempre fez, com gosto. A dica que minha mãe sempre deu é a de manter o nosso traço, não tentar mudar quem a gente é pela maquiagem.

Continua depois da publicidade

Já fiz algumas tentativas de maquiagem fora de casa. Algumas delas ficaram boas, outras nem tanto. No fim, na maioria das vezes eu acabo preferindo fazer “do meu jeito”. Não fica profissional, mas pelo menos continua sendo eu.

Outro dia eu estava na TV, me preparando para entrar com a ajuda da Keila. Cheguei com o cabelo estilo “ao vento” – despenteada – e ela com as mãos de anjo me ajudou a ficar mais elegante. Enquanto ela fazia a escova e a gente conversava, me perguntou se eu gostaria de algum retoque na maquiagem. Pensei: Acho que sim…? Ou não?! Fiquei preocupada, mas como gosto bastante da noção que ela tem de cabelo, curti aceitar o presente do retoque.

— Como que você gosta dos olhos? — Ela perguntou. E eu disse: — Gosto que fiquem “grandes”.

Daí ela passou um lápis branco — que “aumenta” os olhos e nós duas encaramos o espelho com alguma estranheza. — Não parece eu, né?!

Continua depois da publicidade

E ela disse: — Ah! Agora eu entendi o que você quer. Você quer que os teus olhos fiquem do tamanho que são, porque tem maquiagens que diminuem os olhos. É isso?! E, eu: — Exatamente!

Gosto dos meus olhos como são. Tenho minhas olheiras, aceito meu nariz do tamanho que é – não gosto quando a maquiagem afina ou disfarça. Acho legal quando a maquiagem valoriza os traços que a gente tem. Eu, que tenho resistência até com fazer a sobrancelha – porque prefiro mais grossa e sem desenho definido pelo lápis — me senti sendo vista pela Keila e, finalmente – eu diria – até escutada. Ali eu entendi porque algumas maquiagens não ficavam legais. Muitas vezes nos sentimos transformados de fora para dentro – e quando algo nos faz diferentes do que somos, ficamos desconfortáveis e desidentificados.

Quando eu era pequena havia um padrão de sucesso na escola, que a gente acabava perseguindo. Ter a mochila da Company, ou o tênis da Redley e Reebok, viajar para Disney com 15 anos, estudar inglês no Yázigi, ter a coleção completa de lápis coloridos da Faber Castel. Eu, pessoalmente queria ter tido tudo isso. Algumas coisas, a mãe deu jeito de me dar outras não, como aconteceu com todo mundo. Acredito que assim, muitos padrões de felicidade vão sendo construídos e perseguidos, mas nem sempre foram sonhos sonhados por nós, mas dos outros para nós.

Acredito que a gente se confunde muito com o que esperam de nós e nesse desejo de ser a felicidade para o outro a gente vai colocando maquiagem, flexibilizando onde não dá, abrindo mão do nariz, do jeito do olhar, da nossa própria natureza. E com o tempo nem a gente se reconhece mais, não conhece nossas próprias necessidades e acaba comprando e vivendo a vida que parece trazer mais felicidade, no padrão – mas que não nos satisfaz.

Continua depois da publicidade

Então e afinal, o que seríamos se não fôssemos o que fizeram de nós? Quando eu recebi a bênção de encontrar o Ricardo para ser meu companheiro na vida fiquei refletindo nas razões que construíram a nossa relação e uma delas certamente é o fato de que ele me vê e eu me sinto vista e amada da minha maneira e em sendo a minha própria natureza mais verdadeira. E essa sempre será minha torcida por todos nós. Os olhos que nos vêem e nos amam como somos.

Leia as últimas notícias do NSC Total

Ainda não é assinante? Assine e tenha acesso ilimitado ao NSC Total, leia as edições digitais dos jornais e aproveite os descontos do Clube NSC.

Destaques do NSC Total