Meu sobrinho, Caique tem aquele dom natural de tirar nota 10 em tudo na escola. Eu tive amigos assim na minha turma e admirava muito. Eu não fui uma aluna ruim, mas senti falta das aulas de artes e das aulas de dança que eu fazia no primário quando fui para o ensino fundamental e médio. Continuei amando a aula de educação física, curtindo a posição de capitã dos times e também adorava as gincanas e participar da liderança de classe. Meus papos favoritos eram sobre os eventos que a turma pretendia fazer, sobre as olimpíadas anuais e adorava puxar conversa sobre a vida com meus amigos e professores. Demorei para descobrir que o que eu amava fazer era filosofar – paixão que não surgiu exatamente nas aulas de Filosofia, mas na faculdade e mestrado nas aulas de Teoria Geral da Administração.

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Independente do meu índice-Caique ser mediano eu não trocaria a escola onde estudei, porque no colégio me ensinaram fortemente sobre os princípios e valores para se ter uma vida com integridade – e isso é muito maior que qualquer talento – e porque lá meus talentos, fora o de ser CDF, porque esse talento eu nunca tive, eram valorizados e estimulados em aulas de educação física e de ensino religioso.

Acredito fortemente que quem promove ou reprime nossos talentos mora na nossa casa. Minha mãe e meu pai, de maneiras diferentes, me mantiveram corajosa para tornar-me sonhadora. Minha mãe sempre percebeu quais eram meus talentos – vivia me ensinando a expressar o que eu penso e estimula até hoje meu senso de avaliação sobre meu comportamento. Se eu queria dançar era a primeira a encontrar onde tinha aula. Hoje acredito e quero replicar esta atenção que minha mãe deu para os meus dons e o quanto ela fez para que eu pudesse acreditar em minha inteligência.

Estávamos almoçando na casa da mãe quando o Caique comentou com meu irmão, que recebeu o boletim deste bimestre: “Papai, tirei só um 9,5”. E eu disse: “E as demais notas?” – “Tudo 10!” Todos em volta ficaram “: que massa! uau! que legal!”. Eu perguntei: “E como você está se sentindo?”. Enquanto ele pensava, virando os olhos pensativos para cima, o Cauan – irmão mais velho do Caíque – respondeu em tom de ironia, bem divertido: “Ele está se sentindo normal. É sempre assim com ele”.

Dei uma gargalhada muito boa, porque o Cauan teve uma presença de espírito cômica, sem nem imaginar que me sequestraria para essa matéria.

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Aquilo que fazemos naturalmente bem, nos é tão normal que nem sempre notamos que é nosso talento. Existe em nossa vida uma atividade em que somos 9,5 e o restante tudo 10 – que é onde podemos e devemos focar nossa atenção e melhorar o mundo com ela. O problema se dá quando eu procuro ser 10 em alguma coisa que não me contempla em meus dons – daí eu fico sendo “a mediana” e, com autoestima baixa ninguém alça voo.

Se a gente tem dificuldade para descobrir nossos talentos vale perguntar às pessoas que mais conhecem a gente: no que eu sou bom? Ou pensar: No que nossa mãe e pai, familiares, amigos e professores diriam em que somos bons? Para atingir o índice-Caique alto é preciso viver atuando nessas qualidades que aparecerem e fixar atividades que estimulam nossa excelência nesses talentos. Nunca antes na história da humanidade fomos e estamos tão livres para criar e ser felizes contemplando o que amamos fazer naturalmente.

Tem um termo que diz que quando estamos em nosso talento, concentrados de forma tão plena em uma atividade, que entramos em estado de “flow”. Pensamentos fluem, o tempo passa depressa, a gente produz e sai com mais energia do quando começou. É como me sinto quando escrevo para nós, e é como eu sonho que todo mundo possa viver.

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