Normalmente eu tenho a necessidade de um descanso dos bons depois de dias da imersão do nosso curso. O trabalho intenso, de pé, praticamente 48 horas, exige da gente aquele preparo e toda dedicação. É um trabalho físico, mental, emocional — tudo junto. E eu amo. Faz muitos anos, talvez uns 5 anos — mais ou menos — que, sem perceber coloquei uma palestra free na sequência do Life (curso). Essa palestra sempre foi tradicional, mas eu não deveria ter colocado para dois dias depois, porque toda experiência ainda continua "assentando". Mas eu tinha agendado, havia inscritos e desonrar o compromisso não ia acontecer.

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Naquela noite, muito surpresa, recebo um cliente que trazia orgulhoso a esposa a tiracolo. Pelo que eu sabia aquilo era um avanço, porque ele havia compartilhado que ela oferecia toda resistência a minha pessoa. Sempre entendi essa resistência de modo bem natural. Chega alguém que compartilha a vida, as histórias, fala de instrumentos para "melhorar em cada área da vida", demonstra interesse — tudo muito estranho, pode parecer. É como se, de alguma forma, a gente sentisse que está vulnerável e exposto ao julgamento. Como não temer ou resistir, sem conhecer? Particularmente eu admiro as pessoas capazes do questionamento e de alguma demonstração de resistência. Na minha visão são essas que, a partir de um saudável diálogo, ampliam nossa compreensão sobre o mundo e nos desafiam ao constante evoluir. Quando a vi, me enchi de alegria. Era hora do nosso diálogo e eu tinha a oportunidade de conhecer alguém de quem eu só tinha escutado coisas boas. Era casada, afinal, com um cara sensacional.

Particularmente eu admiro as pessoas capazes do questionamento e de alguma demonstração de resistência.

Em nosso curso existe um "recurso de ordem interna". É um curso totalmente voltado para o questionamento. Existe hora para contar história e existe a hora de fazer perguntas. Alguns de nós pede para contar história na hora de fazer perguntas, e a regra é: se não é uma pergunta a gente segue, até chegar a hora desse ponto — para gerar cadência e ritmo de sessão. Dito isso, seguimos.

A palestra estava indo perfeitamente bem. A esposa empolgada fazia que sim com a cabeça, já tinha até descruzado os braços e sorrido para o marido. Estávamos na linha de chegada quando ela levanta a mão e diz: Posso contar uma história?!

Posso jurar de pés juntos que naquele momento, ligadíssima no "modo – Life", sem perceber a total falta de noção por minha parte, respondi: É uma pergunta? Não?! Então, não. Sabe quando você fala uma coisa e se arrepende enquanto está falando? Essa fui eu naquele dia. No mesmo momento, ela levanta, e arrastando o marido por entre as cadeiras sai da empresa, pisando — logicamente — duro, para bem longe de mim, da minha vida, e do meu diálogo tão desejado.

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Passei a noite em claro, mandei mensagem, pedi pra tomar um café, expliquei o modo-life, tentei de tudo — e até hoje, com certeza, eu ainda lembro daquele dia com aquela cara de "putz", e verdadeiro constrangimento. Eu falhei. E essa não foi a única vez.

Um dos meus mestres, o Sthephen Covey, fala que para ser eficaz a gente precisa "afinar o instrumento" – levar o carro para a revisão, antes e depois de longas viagens. Cortador de grama sem óleo novo, corta pior e com o tempo enferruja. Lá estava eu cortando mal, sem afinar o meu instrumento com merecido descanso e reflexão, fazendo corte de grama em palestra para pessoas que nunca tinham me visto. Eis aquela primeira impressão que acaba com a gente.

Daquele momento em diante minha impressão passou a ser o histórico, não o momento. Nenhum de nós é um recorte, ou um dia, ou um "não". Convivência requer uma matemática de maioria, não de perfeição, porque muito embora nosso caminho seja a aproximação diária do divino, ainda estamos em trajetória humana. Hoje eu só confirmo feedback baseado em um conjunto de histórias e desconfio da opinião emocionada, desprovida de vivência e experiência, porque a impressão é um recurso biográfico. Afinal onde está nosso foco?! No recorte ou na linha de impressões?!

Daquele momento em diante minha impressão passou a ser o histórico, não o momento.

Por aqui continuo, mais carinhosa e aberta do que nunca, sem a promessa de que serei só perfeição, mas segura de que a virtude reside na vontade de ficar bem, pelo princípio da conversa franca. Torcendo para que ela ainda me dê chance, porque além de tê-la perdido, foi com ela um cara nota 10 — e, também, porque manter coisas mal resolvidas nunca vai ser bom para ninguém.

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