Eu e o Ricardo estávamos na cozinha quando escutamos uma goteira. Tão logo a gente notou o barulho, descobrimos um cano estourado, por culpa do pressurizador de água do chuveiro — que estava instalado para uma outra dimensão de água e temperatura. Ligamos para o encanador — que chama-se Tobias — também, e logo já comecei a pesquisar dentro de mim a razão do acontecido. Eu fico acreditando que se tem alguma coisa quebrando, parando dentro de casa, é porque está em mim algo que preciso analisar. E, lá fui eu.

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Naquela semana, nada — simplesmente nada! — caminhou para frente. Decidi por uma especialização que começaria em março e foi transferida para maio, um novo curso que estou "namorando" não retornou meu e-mail de interesse, a assinatura do contrato da nova sala do escritório esperava por uma reunião de acertos — que foi marcada e desmarcada duas vezes e até a loja de materiais de construção não quis vender o piso que estávamos querendo para obra do mesmo escritório, pois naquele dia o vendedor que abriu nossa venda não estava lá e a vendedora, conforme ela, não poderia ficar com a comissão e, portanto, era melhor que voltássemos outra hora. Nunca tinha visto disso. Para fechar a semana que só a astrologia com "mercúrio retrógrado" explica, com agenda apertada fui rapidamente até a Receita Federal para modificar meu CPF e meu nome — para nome de casada e, claro, levei os documentos errados e tive que retornar mais tarde.

Eu fico acreditando que se tem alguma coisa quebrando, parando dentro de casa, é porque está em mim algo que preciso analisar.

Semanas assim nunca aconteceram comigo em uma sequência tão intensa e com decisões tão relativamente importantes. Achei que eram sinais de impedimentos, que era para que eu não ficasse nem com o escritório, nem com o piso, nem com o pressurizador. Que fase. Em mandinga eu não acredito, então o que era tudo isso?!

Sempre escutei que a maternidade faz a gente reduzir o ritmo mas comigo outra coisa está acontecendo. Peço com frequência sinais para Deus em minhas orações antes de dormir. Outro dia acordei com a música do Legião que diz para não ter medo do escuro e manter a nossa luz acesa. Achei genial — é preciso manter nossa fé, a bondade, manter fresca a vontade pela vida, mas também não era isso. Acredito que tudo que acontece em volta é um sinal de alguma coisa que preciso ver mais claramente dentro de mim. Na última quinta-feira, quando me arrumava para a TV, entrei no banheiro para me arrumar e quando saí escutei na TV — que a Carla tinha ligado no youtube — Renato Russo cantando "temos nosso próprio tempo" — que dá sequência a música com a qual acordei naquele outro dia.

Muitas coisas nos iludem para ritmos diferentes do nosso próprio. Não existe aceleração ou marcha lenta, mas o ritmo que nos faz florescer. Uma borboleta em seu casulo não desfila beleza, mas escuridão repleta de toda luz — e na hora certa, depois do esforço há, na coleta do merecimento do nascimento, o milagre do seu voo poucas horas depois do seu despertar.

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Não existe aceleração ou marcha lenta, mas o ritmo que nos faz florescer.

Meu ritmo não diminuiu, não acelerou, mas as coisas não andam mais no ritmo de antes porque eu mudei assim como as minhas prioridades. Em menos de uma semana, tudo que eu citei ali em cima andou, as coisas fluíram, e a pressão dentro de mim já está procurando por uma nova instalação. Afinal quanto de pressão as coisas da vida precisam para acontecer e qual será o ritmo que nós temos, e que só nós temos que nos permitirá passar pelo escuro mantendo nossa luz sempre acesa?!

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