Eu era apaixonada platonicamente por um menino do terceirão, quando estava na sétima série. No colégio ele era quase unanimidade entre as meninas. Logo descobri que ele gostava de basquete. Eu sempre fui atleta — jogava vôlei, handebol, era goleira de futsal e de campo, amava atletismo, xadrez e judô. Mas basquete, eu ficava de fora. Apesar de saber jogar — mas não tão bem — minha quadra era outra. Entretanto, quando soube que ele curtia basquete, lá estava eu comprando uma camiseta do Lakers e outra do Chicago Bulls — que eram concorrentes, mas eu nem sabia.

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Pouca idade e pouco autoconhecimento me fizeram crer que amor era demonstrar que gostava do que ele gostava, mesmo que eu não gostasse. Na procura por amor de fora para dentro, e não o amor-próprio, de dentro para fora, a gente esquece de se conhecer, e se torna o outro. Nos apaixonamos por quem conhece o que gosta de fazer. Nos preenche momentaneamente.

Só mais tarde foi que entendi que aquela camiseta representava uma maneira de estar perto dele, sem demonstrar vulnerabilidade e minha total timidez, sem avermelhar o rosto e deixar na cara que estava apaixonada. Mas era, principalmente, um jeito de negar a realidade e encarar que eu não tinha, realmente, a menor chance com ele. Isso seria muito duro para uma menina de 13 anos. De verdade.

Quando buscamos um tipo de coma — algo que nos afasta da realidade — estamos buscando por equilíbrio momentâneo. Não julguemos nossas opções. É preciso estudá-las e escutá-las. O que nos torna vulneráveis, nos abre espaço para o autoconhecimento.

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Na época dos meus pais o acesso ao que nos afasta da verdade era raro. No máximo uma cachaça forte, e a jogatina — depois o sexo, as drogas, o rock. Mas hoje tem comida de todo tipo, tem o universo virtual, tem o sono, as compras, tem excesso de exercício e de trabalho, os remédios. O meu coma costumava ser dormir e assistir Friends. Depois da morte do meu irmão, ficou mais fácil digerir a vida desligando a mente. Mas desligar a mente não mudou os fatos. Eu tentei. Todo mundo tenta. Encarar a rejeição, o abandono, a morte e a traição, requer sustentação emocional. Mas nem sempre o que já nos sustenta é capaz de nos manter diante desses desafios. Quando nos vemos quebrados, seguimos até ter força para reconstruir.

A pergunta que eu sempre me faço é: Por quanto tempo ainda precisaremos das nossas fugas e como diminuir as doses de cada coma? A pergunta é um convite à reflexão. Não se pode negar que o sono ajuda, tanto quanto a trakinas de morango e a Netflix— e que ver Friends alivia minha tensão. Mas, o que a gente ainda nega? O que precisamos aceitar e ver, o quanto antes? E como criar bases sólidas dentro de nós para encarar esses desafios?

O que nos deve encorajar para encarar os fatos, cada vez com mais garra e coragem, é saber que em observando a realidade, seremos capazes de nos envolver na transformação de nossas vidas e conseguir dela o máximo. É quando amamos o nosso jogo e tomamos posse da nossa quadra que o amor começa – de dentro.

Entre em nosso site e faça um exercício chamado Teste da Paixão — que nos ajudará a descobrir o que amamos fazer — em substituição aos nossos comas existenciais.

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