A inovação é um conceito antigo que vem ganhando força principalmente após as brilhantes contribuições do economista Joseph Schumpeter na década de 30 do século passado. Apesar de antigo, vem se transformando ao longo do tempo. A partir do maior acesso à educação e a redução dos custos de meios de produção, inovar deixou de estar apenas nas mãos de grandes empresas, e está nas mãos de qualquer indivíduo que possa empreender.

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O cenário parece ser cada vez mais interessante para o consumidor, pois maior é a variedade de soluções oferecidas no mercado e também menor o preço de determinadas soluções.

Para grandes empresas que estavam acostumadas com um mercado mais fechado com níveis de concorrência mais dentro de seu campo de visão, o cenário se tornou mais complexo, pois casos como Netflix e Kodak assustam o futuro dos seus negócios e quais serão os concorrentes de amanhã.

A democratização da inovação deu poder a mais gente, aumentou a competitividade, e obrigou qualquer empresa que acesse novos mercados a ser diferente, melhor e ainda – se possível – mais barata dos que seus concorrentes diretos e indiretos.

Os desafios para startups e empresas estabelecidas

Agora, desde startups que estão abrindo novos mercados até projetos de inovação desenvolvidos por corporações começam a ter desafios similares:

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– Não focar exclusivamente no desenvolvimento de produto, e sim no desenvolvimento de clientes (mérito ao Steve Blank) para conseguir identificar dores e, só então, pensar na solução;

– E não passar dois, três anos desenvolvendo o produto/serviço, e sim alguns meses a partir da utilização de métodos ágeis e do conceito de mínimo produto viável (mérito de Eric Ries).

Apesar de startups e corporações precisarem ambas utilizarem dessas metodologias para inovar de forma ágil e efetiva, o desafio dentro de grandes empresas é muito mais complexo.

Embora possuam uma série de ativos que as startups não possuem, como credibilidade no mercado, acesso a canais, recursos humanos e financeiros mais abundantes, possuem também algumas características que podem atrapalhar o processo de inovação.

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Isso ocorre pois já existe uma cultura instaurada, processos rígidos bem estabelecidos, uma ordem de como as coisas acontecem, acionistas que normalmente visam projetos menos arriscados com lucro no curto prazo, entre outras questões.

Sendo assim, o desafio das corporações para sobreviverem e prosperarem nessa nova nova economia do século XXI é conseguir explorar/aproveitar suficientemente sua operação para assegurar a viabilidade do negócio atual e ao mesmo tempo investir energia suficiente para explorar a viabilidade futura.

Em relação à transformação organizacional, segue 9 princípios que podem ser adotados pelas corporações a fim de trabalhar sua ambidestria.

Princípios da Inovação Corporativa

1 – Fomentar a cultura da inovação na alta gerência: cultura pode ser criada bottom-up, ou seja, de baixo para cima, mas só se consolida de forma top-down, de cima para baixo. Sem apoio da liderança os projetos de inovação dificilmente sobrevivem aos primeiros fracassos (aka aprendizados).

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2 – Descentralizar a inovação: antigamente inovação era algo voltado a engenheiros dentro de laboratórios de PD&I, mas Chesbrough já trouxe o conceito de inovação aberta há algum tempo e estamos vendo mais do que nunca como isso funciona. Não só usar recursos externos à empresa, mas também colaboradores de diversas áreas da empresa ajudam a acelerar o processo de inovação.

3 – Fortalecer a transparência: colaboradores que entendem os problemas da corporação e onde se quer chegar conseguem contribuir de forma mais significativa para a melhorias ou identificação de oportunidades.

4 – Dar autonomia aos colaboradores: as pessoas cada vez mais sentem necessidade de pertencimento naquilo que fazem, e no trabalho não é diferente. Daniel Pink, em seu livro Drive, apresentou que a motivação intrínseca emerge nas pessoas caso o ambiente ofereça autonomia, possibilidade de melhorarem e propósito, então para grande parte das atividades existentes em empresas a prática de "comando e controle" já é obsoleta.

5 – Focar no cliente: essa é uma frase clichê amplamente escutada em corredores de grandes empresas, mas a realidade é que dificilmente isso é de fato implantado com maestria nos projetos corporativos. A ideia de design thinking, desenvolvimento de cliente e lean startup é justamente envolver o cliente desde o entendimento das suas dores, seu processo de decisão até iterar com ele através de experimentação em todo o desenvolvimento da solução. Assim as soluções vão de fato resolver o problema de quem sofre com o problema.

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6 – Aprender é mais importante do que construir: inovação pressupõe incertezas, ou seja, coisas que não sabemos. Então para empresas conseguirem acertar em cheio na criação de novos produtos e serviços ou até na melhoria de processos, é comum (e necessário) que erros aconteçam para que aprendizados sejam gerados – principalmente no início. Portanto o erro não deve ser punido, e sim tratado como parte do processo de inovação.

7 – Adotar mentalidade voltada a dados mais do que opiniões: o processo de inovação deve ser data-driven (baseado em dados), ou seja, opiniões de colaboradores, lideranças e acionistas da empresa podem ser consideradas, mas transformadas em hipóteses a serem testadas, e não verdades absolutas. Dados coletados a partir de experimentos reais com os clientes que utilizarão a solução são mais importantes do que a opinião de qualquer especialista.

8 – "Nail It Then Scale It": a mentalidade de testar pequeno, rápido e barato (Lean Startup, de Eric Ries) é fundamental antes de escalar soluções. É o conceito do livro "Nail It Then Scale It" dos autores Nathan Furr and Paul Ahlstrom. Grandes empresas, por terem acesso a orçamento para projetos, acabam frequentemente desenvolvendo soluções e promovendo-as em massa, mas quanto maior o salto maior a queda. Melhor gerar aprendizados com pequenas amostras para lançar soluções mais bem validadas.

9 – Não confundir métricas de inovação com outras métricas da empresa: corporações utilizam KPIs no "business as usual" para mensurar estratégia, plano tático, projetos e várias outras questões. Na inovação, métricas também devem ser utilizadas para medir resultado e progresso, porém essas são diferentes daquelas. Como inovação requer normalmente investimento e retorno de longo prazo, os KPIs utilizados para saber se a inovação está progredindo serão diferentes dos KPIs utilizados para projetos com resultados de curto prazo.

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Esses foram alguns dos princípios que entendemos como fundamentais para que corporações consigam adotar o mindset e as práticas utilizadas pelas startups para inovar. É claro que o desafio permanece complexo, e a transformação organizacional leva tempo e deve ser feita aos poucos até que "contamine" todos os colaboradores.

A conexão com startups para co-criar produtos, contratar seus serviços, incubar ou acelerar esses negócios também fomentam a mudança cultural e modificação de processos internos, mas é importante não esquecer que cultura não se transforma apenas com iniciativas, e sim apresentando resultados que impactem em indicadores importantes da sua empresa.

*Autor: César Costa, Head de Corporate Innovation

Administrador pela EA/UFRGS, estudou management na Lund University, na Suécia e strategic management e international business na University of La Verne. Na Semente coordena projetos de inovação em corporações. Presidiu a comissão da Federação de Empresas Juniores do RS e trabalhou na CAPC Consultoria. Foi gestor comercial de inside sales na SocialCondo.