O alemão Ralf Trapp, membro do The International Institute for Strategic Studies e ex-consultor da Organização para a Proibição de Armas Químicas, tem 30 anos de experiência em desarmamento químico e biológico e implementou medidas de adequação à Convenção de Armas Químicas de 1993. Em entrevista por e-mail a ZH, Trapp fala sobre os indícios dos ataques
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Zero Hora – Quais seriam as evidências de ataque químico? Ralf Trapp – A evidência disponível na internet, como vídeos e declarações, é convincente e parece mostrar os resultados de um ataque químico. Não está claro qual foi o agente utilizado, e outras perguntas permanecem. A esperança é que o time de investigadores da ONU que está em Damasco consiga permissão para conduzir uma investigação – eles precisariam inspecionar o local, coletar amostras de remanescentes de armas e material do solo, entrevistar testemunhas, vítimas e médicos. A equipe também precisaria conseguir amostras de sangue e urina. ZH – Qual seria o gás usado? Trapp – Não posso excluir o gás sarin. Os sintomas vistos em alguns dos vídeos são compatíveis com um poderoso químico anticolinérgico, como um organofosfato. O sarin pertence a esse grupo de químicos, assim como outros agentes nervosos e certos pesticidas. Continua depois da publicidade ZH – O arsenal sírio é um mistério para a ONU e para todo o mundo. Como o sr. o descreveria? Trapp – A informação disponível indica que o programa de armas químicas sírio data das décadas de 1970 e 1980, e que os tipos de agentes produzidos incluem gás mostarda e agentes nervosos (como o sarin). Aparentemente, uma variedade de sistemas de dispersão desses gases foram adquiridos (foguetes, artilharia, bombas aéreas). ZH – Como é o ataque químico? Trapp – Da mesma forma que armas convencionais, exceto que o cálculo de impacto das armas é diferente. Uma operação química em um contexto militar envolve vários fatores de planejamento adicionais, a proteção das tropas, o mapeamento das condições climáticas etc. ZH – O número fornecido pela oposição síria é comparável a outros ataques do passado? Trapp – Os números dados, centenas, talvez milhares de pessoas, são consistentes com o que conhecemos de usos anteriores na história. ZH – O que proíbe o uso dessas armas na Síria, considerando que o país não é signatário da Convenção de Armas Químicas de 1993? Continua depois da publicidade Trapp – A Síria é membro do Protocolo de Genebra de 1925, que proíbe o uso de armas químicas na guerra. A interpretação é de que o protocolo também se aplique em conflito interno. Há um consenso de que o uso de armas químicas é proibido sob a lei internacional (está no rol de crimes da Corte Criminal Internacional) – nesse caso, o uso por qualquer um é proibido.