Depois de aterrissar com perfeição no segundo aéreo full rotation (360º) na mesma onda pequena em Jinzun Harbour, bateria que estava decidindo o campeão mundial de surfe Pro Jr de 2018 – a principal competição de jovens – em Taiwan, o manezinho Mateus Herdy, ainda sobre a prancha, olhou para os juízes e contou nos dedos de um até 10. Talvez a comemoração audaciosa do jovem de 17 anos tenha sido o motivo para a banca ter lhe dado um 9,77. Perfeição não alcançada, mas que não tirou o sorriso do rosto. O título estava garantido.

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O catarinense quebrou os recordes do torneio, com 18,23 pontos, e sobrou na final contra o norte-americano Eithan Osborne. Correndo muito atrás, o gringo arriscou aéreos difíceis e se frustrou em todas, terminando a bateria com 11,67.

Depois de erguer o troféu em Taiwan, foram mais de 30 horas de voos e conexões até o adolescente chegar ao Brasil. Herdy desembarcou na noite de terça-feira no Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, e foi recepcionado com festa por familiares e amigos.

De volta à praia da Joaquina, berço e palco das primeiras manobras, ele pôde sentir o carinho de fãs que vinham cumprimentá-lo. Houve espaço também para um pouco de emoção.

– Surfei aqui a minha vida inteira. É uma praia que tem condições muito boas e também ruins. Por isso, dá para treinar em todo tipo de mar. Ela está sendo essencial para mim, até porque é aqui que eu treino sempre. Eu vivo aqui, faço tudo aqui, meus amigos são daqui, então eu acho que essa praia me deu tudo. Foi aqui que eu fiz minhas primeiras manobras – destaca o jovem.

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Feito igual ao dos ídolos

Com o título, o Brasil amplia para oito o número de campeões Pro Junior, contra cinco da segunda colocada Austrália. Entre os jovens campeões brazucas estão os ídolos de Mateus, Gabriel Medina e Adriano de Souza “Mineirinho”, que depois vieram a ser campeões mundiais na elite do surfe. O manezinho, no entanto, acha que é cedo para comparações.

– O primeiro passo foi dado. Todo atleta sonha em ter esse título, porque tu só é Pro Junior até os 18 anos, depois não

tem mais chances. Graças a Deus, ano que vem vou competir de novo. Eu sempre quis ter meu nome nele e vai agora ficar guardado para o resto da vida – celebra.

Chegar à elite é questão de tempo. Paralelo ao Pro Junior, Herdy também disputou o WQS, a divisão mundial de acesso. Na reta final, o garoto deu uma arrancada impressionante, saindo da 61a posição para 12o no ranking. Ficou em quinto na etapa de Maresias (SP), em novembro, e foi vice no Hawaiian Pro neste mês. No entanto, acabou sendo eliminado logo na estreia de outra etapa no Havaí e terminou em 14o. Embora o acesso tenha batido na trave, a eliminação precoce no pacífico deu tempo para o jovem chegar à China e vencer o Pro Junior.

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Em 2017, Mateus Herdy foi campeão Sul-Americano Pro Jr na Guarda do Embaú. Na decisão do Mundial, na Austrália, acabou no quinto lugar. Desta vez o título não escapou.

Ele saiu da Joaquina para chegar ao topo do mundo

A praia mais famosa da costa leste da Ilha de Santa Catarina produziu o seu primeiro campeão mundial, e ele é genuinamente manezinho. Os irmãos Teco e Neco Padaratz foram bicampeões do WQS, é verdade, mas a dupla é natural de Blumenau.

O surfe corre nas veias da família Herdy, e Mateus praticamente aprendeu a andar e surfar ao mesmo tempo. Ele é filho do big rider Alexandre Herdy e sobrinho de Guilherme Herdy, que integrou a elite mundial do surf por muitos anos na década de 1990. Começou a carreira disputando desde pequeno os circuitos locais realizados pela Associação de Surfe da Joaquina (ASJ).

Por ironia do destino, neste domingo, final de semana seguinte à coroação de Herdy em Taiwan, a Joaquina recebe a última etapa do circuito local da Associação, mesmo dia e local em que será conhecido também o campeão profissional catarinense da temporada 2018. Herdy vai ser homenageado no evento.

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– Para todos que fazem ou fizeram parte da ASJ nesses 31 anos, é um grande prazer ter um surfista como Mateus, criado desde pequeno em nossa praia, fazendo parte do nosso time. A ASJ agora entra no seleto grupo de associações em todo planeta que já produziram um campeão mundial de surfe – destacou João Africano, presidente da ASJ.

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