Uma intervenção da Aeronáutica no campo de futebol no Campeche, sul da Ilha, no final de junho, causou indignação entre os moradores do bairro. Com a justificativa de combate a atividades ilícitas, o comando da Base Aérea de Florianópolis abriu uma grande vala de cerca de 40 metros de comprimento, dois de largura e 1,5 de profundidade no campo utilizado pela comunidade há mais de 50 anos.
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Além da revolta entre os moradores da região, a ação motivou um pedido cautelar da 6ª Vara da Justiça Federal para o embargo de qualquer atividade em curso na área, com a alegação de “prática de desmatamento, abertura de valas com trator e retroescavadeira e colocação de marcos divisórios e cerca, tudo muito provavelmente ilegal por não estar respaldado em licenças, autorizações ou quaisquer outros documentos formais”.
— Ficamos surpresos, até porque há anos era a comunidade que fazia a guarda e o cuidado do local. Eu mesmo jogo bola lá há pelo menos 30 anos. Essa história de atividades ilícitas, não é nem de longe o que estão vendendo. Não existe nenhuma explicação razoável para aquele tipo de intervenção no local onde as pessoas faziam atividades de lazer no final de semana — comenta Alencar Vigano, presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam).
— A comunidade está indignada com o pessoal da Base Aérea. Foi uma agressão à história do Campeche, já que o campo demarcado em 1968 pelos integrantes do time chamado Apolo 8 resistiu cinco décadas como espaço de peladas dos atletas de final de semana, além de ser muito utilizado por crianças do bairro — completa o morador Evory Pedro Schmitt.
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A área em disputa fica no antigo Campo de Aviação do Campeche, o mesmo onde Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, teria pousado seu avião em uma visita à Ilha. Além de já estar legalmente resguardado por suas características, inclusive por decreto de tombamento municipal, o terreno da União é alvo de disputa judicial e, segundo o juiz Marcelo Kras Borges, não poderia ser modificado. Por esta e outras razões, a Amocam levou denúncia ao Ministério Público (MP).
— Questionamos sobre autorização judicial para intervenção, licença ambiental e a presença de um topógrafo para indicar a área que é da União e não do município. Como não havia nada disso, denunciamos ao MP, que entrou com liminar na Justiça Federal — conta Vigano.
Os amigos Murilo Azevedo, 17 anos, e Rian Togui, 14, ficaram indignados com o que viram quando foram bater uma bolinha.
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— Estragaram todo o campo, foi uma falta de respeito. Fizeram isso só para ninguém vir jogar bola. Até agora não entendemos porque abriram essa vala que vai do nada a lugar nenhum — reclamam.
Na área de aproximadamente 353 mil metros quadrados há campos de futebol e de rugby e uma horta comunitária.
Contraponto
O Comando da Aeronáutica (Comaer) afirma, em nota, que a área onde foi aberta a vala “não foi abarcada pelo decreto de tombamento emitido em 2014” e que “o terreno em nenhum momento foi cedido” à comunidade.
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De acordo com o Comaer, “o objetivo é promover o controle de acesso ao terreno para que delitos (vandalismo, tráfico de drogas e outros) não sejam praticados na área”. O Comaer alega, ainda, que “áreas degradadas foram recuperadas e cerca de oito toneladas de lixo foram retiradas” do local.
Entre os moradores circula a hipótese de que a intenção por trás do impedimento do uso do campo de futebol é transformar a área em uma vila residencial para oficiais. Em nota, o comando se limitou a dizer que “a área faz parte do planejamento para emprego operacional ou institucional do Comaer”.
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