Abraçados e com um Pai Nosso, familiares da agente penitenciária Deise Alves se despediram na frente do Fórum de São José após dois dias do julgamento que se encerrou na noite desta quarta-feira. Minutos antes, por volta das 19h30min, eles ouviram a sentença em que quatro acusados pelo assassinato de Deise foram condenados em júri popular. Um quinto réu será julgado em separado.

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As penas mais altas foram para os líderes da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC) apontados pelo Ministério Público de Santa Catarina e a Polícia Civil como mandantes da morte da agente, em 26 de outubro de 2012.

Evandro Sérgio da Silva, o Nego Evandro e Adílio Ferreira, o Cartucho, pegaram 22 anos de prisão cada um deles, sendo 20 anos pelo homicídio e dois anos pela associação criminosa. A juíza Marivone Koncikoski Abreu levou em conta os maus antecedentes deles. Gian Carlos Kazmirski, o Jango, foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão, sendo 16 anos pelo homicídio e 1 ano e seis meses por associação criminosa.

Os três deverão cumprir a pena em regime fechado. A magistrada negou a eles o direito de recorrer em liberdade. O réu Marciano Carvalho, acusado de atirar em Deise, foi condenado a 14 anos de prisão. A juíza determinou que ele poderá seguir em liberdade até o julgamento do recurso. Marciano nega o crime.

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A mãe de Deise fez um declaração emocionada ao final do júri:

— Não estou feliz. Do jeito que foi não significa vitória por não ter mais minha filha. Então não me sinto vitoriosa, mas a justiça foi feita e para que não cometam mais esse erro. Esperávamos há quatro anos por essa resposta — declarou Olívia Ronconi de Melo, 72 anos, que passou boa parte do julgamento enrolada em uma bandeira de Santa Catarina.

Também esteve no julgamento o marido de Deise, o agente Carlos Alves, na época diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara. Carlos era o alvo dos presos em razão do corte de regalias que havia liderado na prisão onde ficavam os chefes da facção. Agentes, policiais civis e militares também marcaram presença em grande número.

“Pena é resposta da sociedade”, dizem promotores

Atuaram na acusação os promotores Alexandre Carrinho Muniz, Márcio Cota e Letícia Baumgarten Filomeno. Os três saíram satisfeitos com a decisão dos jurados. A promotoria abriu mão da réplica a que tinha direito e assim acabou não havendo também a tréplica da defesa.

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— A pena é uma resposta do Estado e da sociedade à criminalidade e de que não aceitamos facção em Santa Catarina e quem insistir em crimes vamos processar e condenar — declarou o promotor Márcio Cota.

O promotor Alexandre Muniz considerou o júri bastante conturbado em razão das discussões com os advogados de defesa. Houve bate-boca entre acusação e defesa principalmente durante as manifestações dos advogados Isaac Matos Pereira e Jean Franciesco Cardoso Guiraldelli, defensores do réu Marciano Carvalho. Ao final, advogados de todos os réus anunciaram que irão recorrer da sentença, pois afirmam que seus clientes são inocentes.

— O Marciano não tem nada a ver com esse processo, por isso pedimos a sua absolvição por falta de provas — insistiu o advogado Isaac Matos.

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Em relação ao réu Rudinei do Prado, o Derru, que também figurava como mandante do homicídio, após o seu interrogatório a juíza decidiu desmembrar o processo em relação a ele a pedido da defesa. Ou seja, haverá um novo julgamento em separado para julgá-lo, cuja data não foi divulgada.

Forte segurança

Com grande aparato de segurança, o julgamento teve a escolta de agentes do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) que vieram da penitenciária de Porto Velho, em Rondônia, além de agentes catarinenses e a Polícia Militar. Isso porque três réus estão em prisão federal por medida de segurança. Eles retornarão de avião à penitenciária federal. Viaturas foram colocadas ao redor do Fórum e todos os acessos para veículos no prédio permaneceram fechados durante os dois dias. A juíza não permitiu imagens dentro do salão de júris.

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