No último domingo (4), o atacante Allano, do Operário-PR, sofreu na pele o racismo estrutural que ainda permeia o futebol brasileiro. Na partida entre as duas equipes, válida pela sexta rodada da Série B, o jogador denunciou Miguelito, do América-MG, por injúria racial após uma disputa de bola.

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Desde então, o jogador do time de Ponta Grossa (PR) afirma ter sido alvo de ataques racistas nas redes sociais. O episódio resultou na prisão em flagrante de Miguelito ainda no estádio Germano Krüger, no interior paranaense, mas o meia foi liberado de forma preventiva na última segunda-feira (5).

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Mesmo após a detenção do adversário, os ataques contra Allano continuaram. Muitos comentários nas redes insinuam que o jogador mentiu ao fazer a acusação e trazem declarações de apoio a Miguelito.

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Também são recorrentes os emojis de macacos e gorilas, além do uso da palavra “mono” — que significa “macaco” em espanhol e é usada de forma pejorativa para se referir a pessoas negras.

Confira imagens do jogo entre Operário-PR e América-MG

Por conta das ofensas, Allano restringiu os comentários em seus perfis em redes sociais apenas para seguidores. No entanto, em algumas postagens, as agressões racistas ainda são visíveis.

Entenda o caso envolvendo Allano e Miguelito

A denúncia de Allano aconteceu aos 30 minutos do primeiro tempo, quando os jogadores aguardavam a cobrança de uma falta lateral. Segundo o atacante, Miguelito virou em sua direção e teria dito: “Preto do c***”.

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O volante Jacy, também do Operário-PR, estava próximo e testemunhou a fala. Imediatamente, os jogadores comunicaram o ocorrido ao árbitro Alisson Sidnei Furtado, que seguiu o protocolo antirracismo da FIFA e da CBF, cruzando os braços à altura do peito para sinalizar a paralisação da partida.

O jogo ficou interrompido por cerca de 15 minutos, mas foi retomado sem punições imediatas. A denúncia de injúria racial, no entanto, foi registrada na súmula.

Após a partida, Allano, Miguelito e Jacy foram conduzidos à 13ª Subdivisão Policial. Após os depoimentos, Miguelito recebeu voz de prisão em flagrante pelo crime previsto na Lei nº 7.716/89. Ele foi liberado na segunda-feira (5)e responderá em liberdade.

Justiça Desportiva também entra no caso

Segundo o ge, Miguelito foi denunciado pela Procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que trata de atos discriminatórios. Se condenado, ele pode ser suspenso por até 10 partidas, além de multado em até R$ 100 mil.

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A Procuradoria também solicitou a suspensão preventiva do atleta até o julgamento, ainda sem data marcada, o que foi acatado pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

O América-MG também foi denunciado por infringir o mesmo artigo, sob a justificativa de que o clube não coibiu atos discriminatórios. O time mineiro pode ser punido com perda de mando de campo, perda de pontos na Série B e a obrigação de implementar políticas preventivas eficazes contra o racismo.

A Procuradoria ainda incluiu duas testemunhas no caso: o árbitro Alisson Sidnei Furtado, que declarou na súmula não ter ouvido a injúria, e o volante Jacy, que teve papel fundamental na denúncia e na prisão de Miguelito.

Cusparada também vira objeto de denúncia

O Operário-PR também foi denunciado, com base no artigo 213, inciso II, do CBJD, por conduta imprópria de um torcedor, que cuspiu e jogou bebida alcoólica em um jogador do América-MG. A pena prevista é de multa, que pode variar de R$ 100 a R$ 100 mil. O clube informou que o torcedor foi identificado e retirado pela polícia logo após o incidente.

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Na segunda-feira (5), a CBF emitiu uma nota oficial, na qual acionou o STJD e pediu “apuração rigorosa” do caso.