O presidente sírio, Bashar al-Assad, que disse estar disposto a buscar a reeleição, sente-se confiante, graças ao apoio internacional de seus aliados e ao temor ocidental da ascensão do extremismo islâmico na Síria – de acordo com analistas consultados pela AFP.

Continua depois da publicidade

Acrescenta-se a isso os elogios feitos pelo governo dos Estados Unidos à colaboração do regime sírio com a missão conjunta das Nações Unidas (ONU) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), encarregada de supervisionar a eliminação do arsenal químico sírio.

Em entrevista divulgada na segunda-feira à noite por uma emissora de televisão libanesa, Assad afirmou que não vê problemas em se candidatar à eleição presidencial de 2014. Ele disse também que “ainda não estão dadas as condições” para um diálogo de paz com a oposição, previstas para acontecer em Genebra, em novembro próximo.

Para o cientista político Hilal Jashan, da Universidade Americana de Beirute, situada na capital libanesa, essas declarações são uma manobra de Al-Assad para obter vantagem nas negociações, já que “a força que ele tem sobre o terreno e as condições gerais permitem isso”.

Al-Assad “se sente mais seguro do que nunca”, afirma o diretor de Pesquisa no Brookings Doha Center, Shadi Hamid. Segundo ele, a ideia de que terá de deixar o poder imediatamente foi descartada, e “Al-Assad é, agora, um sócio da comunidade” internacional no processo de desarmamento químico.

Continua depois da publicidade

– Até os Estados Unidos recuaram em seu discurso sobre ‘a necessidade de uma saída de Al-Assad’ – completou Hamid.

A renúncia do presidente era até então reivindicada pelo movimento de contestação, que teve início em março de 2011 e se militarizou devido à sangrenta repressão que mergulhou o país em uma guerra civil. Segundo uma ONG local, já são mais de 115 mil mortos.

Desde o início, os aliados de Damasco Rússia e Irã insistem em que Assad deve permanecer no poder. O mandato do presidente sírio termina em meados de 2014.

Damasco “conta” com o fato de “o bloco aliado do regime sírio ser coerente”, afirma Jashan.

Continua depois da publicidade

Além disso, completa o cientista político, o regime de Assad saiu fortalecido das consequências do ataque químico de 21 de agosto – ataque esse pelo qual a oposição e os países ocidentais responsabilizaram o governo sírio.

No final de setembro, quando uma intervenção de Washington na Síria parecia iminente, Rússia e Estados Unidos chegaram a um acordo sobre o fim do arsenal químico sírio. A resolução da ONU depois desse acordo estipulou que a eliminação do arsenal químico deve ser concluída até 30 de junho de 2014 e estabeleceu uma missão conjunta ONU-Opaq para trabalhar no terreno desde o início de outubro.

Jogo mudou a favor de Al-Assad

A responsável pela missão conjunta ONU-Opaq, Sigfrid Kaag, declarou nesta terça-feira que, até o momento, a Síria “cooperou plenamente”. Ainda segundo ela, “ao ratificar a Convenção sobre as Armas Químicas, o governo sírio mostrou seu compromisso com a tarefa” de destruir seu arsenal químico.

No começo de outubro, o secretário de Estado americano, John Kerry, elogiou “o consentimento da Síria” para a destruição de suas armas químicas, iniciada em um “prazo recorde”.

Continua depois da publicidade

O fato de Kerry ter elogiado o regime sírio por seu compromisso na questão das armas químicas significa “uma autêntica mudança”, destaca Hamid.

“O acordo foi uma vitória para Assad (…) Se tivesse ocorrido a intervenção militar, a capacidade de Assad para se manter no poder teria ficado ameaçada”, completa.

Hoje, são “os combatentes rebeldes, que haviam desejado a intervenção, que estão decepcionados” quando pedem armas aos ocidentais para enfrentar o Exército do regime, comenta.

Os países ocidentais temem, contudo, que as armas caiam nas mãos de grupos jihadistas ligados à rede Al-Qaeda, que vem ganhando protagonismo no terreno.

Continua depois da publicidade

– Al-Assad sente que isso joga a seu favor (…) Hoje ele pode dizer ao mundo: ‘essa é a alternativa?’- conclui Hamid.