Era Dia dos Namorados. As redes sociais se encheram de fotos de casais, cujos olhos saltavam em corações artificiais — aqueles que parecem uma bundinha virada para o ar. Presentes, flores, chocolates… tudo que não deixasse as pessoas se esquecerem de que o dia era dos que estavam acompanhados.
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Houve quem fizesse piadinha, quem dissesse que a hipocrisia estava solta, que bastava um print nas conversas do Whats e muitos namoros iriam por água abaixo; que antes de levar a “zero-um” ao motel, era preciso deletar a senha do wi-fi. Tudo dor de cotovelo: prefiro minha timeline cheia de amor a cheia de notícias de corrupção ou de gente rancorosa brigando para defender políticos que pouco estão se lixando para os que estão do lado de cá.
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Havia, também, os reclamões, que ansiavam por chinelos velhos para seus pés, tampas para suas panelas, metades para suas laranjas (acrescente aqui qualquer outro bordãozinho-clichê para definir relacionamentos amorosos). A esses mais queixosos, informei que dia seguinte era o dia dos desesperados — bastava fazer promessa a Santo Antônio e pendurá-lo de ponta-cabeça — no melhor estilo chantagem. Outra opção, um pouco mais difícil (já que depende do tipo de santo que se tivesse à mão), seria sequestrar do colo do casamenteiro o menino Jesus e prometer que o garoto só seria devolvido mediante pagamento de fiança — nesse caso, um namorado. De uma forma ou de outra, o crime só compensaria se o santo em questão tivesse sido ganhado de presente. Nessa simpatia, não basta ter dinheiro para conseguir uma graça.
Passei o dia ao lado do marido. Sem promessas de presentes, sem almoço especial, sem saidinhas a locais badalados (e abarrotados de pessoas). Nem mesmo uma flor foi comprada (ou roubada do canteiro da vizinha). Mas tenho certeza de que tudo o que preciso estava aqui, ao meu lado e dentro de mim: um amor companheiro, desses para a vida inteira, para conversar até adentrar madrugada, sem que o assunto acabe; um parceiro de lamúrias, com quem posso chorar até ficar descabelada e com o nariz escorrendo; um amigo de comemorações, mesmo que seja sem champanhe ou flashes de fotos, mas com a certeza de que a minha realização é a dele e vice-versa (e que seja “de janeiro a janeiro, até o mundo acabar”, para não desperdiçar o verso lindo da música que nos toca).
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