O governo interino de Michel Temer mira na retomada da economia, mesmo que tímida nos próximos meses, para se tornar definitivo. Caso a recessão e o desemprego em alta permaneçam, a administração tem discurso ensaiado de que recebeu “herança maldita” de Dilma Rousseff.
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Nas primeiras entrevistas, ministros e auxiliares do novo governo relembram o déficit das contas da gestão petista. Interlocutores do presidente interino já trabalham para acelerar o desfecho do processo de impeachment no Senado, previsto para setembro. As articulações tentam trazer o julgamento para julho ou agosto. A equipe de Temer avalia que, se o Senado demorar para cassar Dilma, aumentarão as chances de mobilização da base de esquerda.
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A aposta na retomada da geração de empregos e na queda da inflação justificou o cuidado de Temer ao formatar uma equipe econômica robusta, liderada por Henrique Meirelles (Fazenda), com perfil oposto ao dos nomes escolhidos para a Esplanada, fatiada entre os partidos da base.
Após a vitória por 55 a 22 pela adssimibilidade do processo contra Dilma – um voto além dos 54 necessários para cassar o mandato – o staff de Temer aposta em mais de 60 votos no julgamento.
Para assegurar apoios de ao menos 10 senadores indecisos e evitar que projetos impopulares minem sua base, Temer planeja agenda de diálogo intenso com o Congresso. Para se diferenciar de Dilma, que mantinha relação fria com parlamentares, o interino pretende aumentar a periodicidade de reuniões com bancadas e líderes. Outra proposta é que os ministros despachem uma vez por mês na Câmara ou no Senado.
– É só o governo não errar gravemente para vingar o afastamento em definitivo – opina o Líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
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Com discurso de que “o golpe ainda não está consumado”, o PT aposta no fracasso de Michel Temer para nutrir esperanças de retornar ao Planalto. Dos 55 senadores que votaram a favor do impeachment, 10 se manifestaram apenas pela abertura do processo contra Dilma Rousseff, sem posição no mérito. Assim, há margem para impedir que se alcancem os 54 votos necessários à cassação.
A estratégia é a mesma usada por oposição e PMDB no afastamento de Dilma: ganhar apoio das ruas e das redes sociais, a fim de pressionar o Congresso de fora para dentro. O PT aguarda pesquisas de opinião sobre a popularidade do presidente interino, com expectativa de que ele naufragará na tentativa de controlar a inflação e o desemprego, com desgaste impulsionado pelo pente-fino nos programas sociais e pelo ajuste fiscal.
Aliados de Dilma se animaram com as derrapadas de Temer e de seus ministros nos primeiros dias do governo provisório, como a ausência de mulheres na Esplanada, a extinção do Ministério da Cultura, a defesa da idade mínima para aposentadoria e a fala de Ricardo Barros (Saúde), que defendeu uma revisão do tamanho do SUS e, depois, voltou atrás.
– Quem imaginava que a mudança seria para melhor verá que está ocorrendo o contrário – diz o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
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Também houve ruído entre Temer e o ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, sobre o método de indicação do procurador-geral da República.
– Toda essa nata está dando uma percepção clara de que isso é muito pior do que o que tínhamos antes – complementa o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
O PT ensaia reconhecer erros na política econômica e desvios éticos, além de vedar alianças nas eleições municipais com setores que defenderam o impeachment.