Na véspera do plebiscito que pode mudar a história da Grécia e da Europa, as ruas de Atenas não podem ser mais calmas. Só o que evidencia que o país está prestes a redefinir seu papel no mundo são os cartazes com as duas respostas mais disputadas na história recente do país: nai (sim pronuncia-se nei), e oxi (não, pronuncia-se óchi).

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Como será o referendo na Grécia

Tem uma pequena multidão na frente do parlamento grego, palco de embates violentos anos atrás. São turistas observando uma troca de guarda que ocorre de hora em hora – e nem é lá grande coisa.

Gregos que não aparentam ser de alta renda seguem comprando até em lojas de eletroeletrônicos, ou seja, estão longe da penúria de manter apenas o básico. As ruas estão cheias de turistas de todas as cores e credos – chineses, japoneses, africanos, muçulmanos, judeus ortodoxos -, que aparentemente não temem que neste domingo Atenas se transforme em um campo de batalha.

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Mas a disputa pela opinião de cada grego e de cada pessoa que se interessa pelo futuro do país é renhida. Por aqui, o que se diz é que votará “sim” quem ainda tem algo a perder e “não”, quem sabe que não tem. Os partidários do “sim” querem previsibilidade, os do “não” dizem que abandonar o euro não está nos seus planos, mas como a aprovação das reformas representa perdas salariais de 20% a 30%, tanto faz se isso ocorrer com o euro ou por meio de uma provável superdesvalorização no caso da volta do dracma.

Quando a reportagem se aproximou de uma barraca do “não” em busca de informações sobre locais de votação, falando em inglês, ouviu “você quer votar?”. Isso não quer dizer que haverá votos irregulares, apenas que cada um será disputado até o fim do horário do plebiscito. Os gregos chamam esse momento de “dichazmos”, ou “a divisão”. Essa expressão foi usada em momentos de conflito sério no passado, seja durante a guerra civil entre republicanos e monarquistas nos anos 1940 (foi o megalodichazmos), seja durante a “ditadura dos coronéis”, de 1967 a 1974.

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Se o “sim” vencer no domingo, há um roteiro previsível: cai o atual gabinete controlado pela coalizão de esquerda Syryza e alguém com o perfil de Antoni Samaras – se não o próprio, um tecnocrata que o antecedeu no cargo – assume o governo para prosseguir com o plano de austeridade. Se o “não” vencer, o atual primeiro-ministro, Alexis Tsipras, jura que vai se cacifar para negociar com as instituições credoras – e seus seguidores assim acreditam. Mas abre-se um período de forte instabilidade, com desdobramentos possíveis dentro e fora da Grécia.

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