A equipe do Avaí Ciclismo é uma das principais do Brasil. Está em 3º no ranking nacional masculino de ciclismo de estradas e em 4º no recém-criado feminino. O time das mulheres inclusive tem a atual campeã nacional de contrarrelógio sub-23: Tamires Fanny Radatz. A próxima prova obrigatória da equipe acontece nos dias 5 e 6 de novembro em Vacaria (RS). No entanto, é possível que a equipe nem exista até lá. A Fundação Municipal de Esportes de Florianópolis está com os repasses do convênio atrasados há três meses, e há o risco de eles decretarem falência antes disso.
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— Essa verba é para todos os 17 atletas, mais material esportivo e apoio nas viagens. Metade desses ciclistas vive exclusivamente dessa receita. Se não recebermos, vamos ser obrigado a parar as atividades. A gente vai ter que liberar os atletas para eles garantirem um final de ano melhor, porque muitos estão quase passando fome — relata o atleta e responsável técnico da equipe, Diones Chinelatto.
A Avaí Ciclismo faz parte da Associação Pedal da Grande Florianópolis, que toca um projeto social em duas escolinhas com 90 crianças e adolescentes carentes. Ela é só mais uma dentre as muitas entidades e esportistas que estão sem receber repasses ou as bolsas atleta. A FME admite os problemas financeiros. Explica que num ano de crise, a verba para o esporte é uma das primeiras a ser cortada. Com menos verba vindo da Fazenda, a entidade não consegue pagar todos os convênios que foram firmados.
“Se cobrarmos, o projeto deixa de ser social”
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Um dos maiores projetos da ilha é desenvolvido pela Associação de Moradores de Canasvieiras (Amocan). São cerca de 700 pessoas atendidas lá, de crianças a idosos. Conforme o presidente da Amocan, Sebastião dos Santos, a entidade recebeu no ano passado R$ 142 mil para por em prática as atividades. Já para 2016, o valor foi reduzido para R$ 60 mil. No entanto, apenas uma das cinco parcelas foi paga, a referente a março/abril. Desde então, nada.
— Se continuar dessa maneira, no ano que vem vamos ter que cobrar dos alunos. E como muitos não tem condições de pagar, o projeto perde o caráter social. Os professores estão trabalhando de graça, na esperança de receber até o final do ano. O resto a associação está bancando — lamenta Tião.
Bolsistas também estão sem receber
O programa Bolsa Desportiva Municipal foi anunciado pela prefeitura em grande solenidade no auditório da OAB-SC em maio. Na época, o prefeito Cesar Souza Junior disse não ter “dúvida de que damos aqui um passo que não voltará atrás”.
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No entanto, após pagar junho, julho e agosto, os repasses começaram a dar problema já em setembro, conforme a própria Fundação. A bolsa deveria beneficiar 186 atletas, paratletas e treinadores em 19 modalidades diferentes. O valor das bolsas ficou entre R$ 300 e R$ 2,5 mil por mês, e a escolha dos beneficiados se deu através de processo seletivo.
Entre os atendidos está a atleta de alto nível do remo adaptado Josiane Lima. Ela foi medalha de bronze nas Paralimpíadas de Pequim e esteve no Rio de Janeiro, onde não teve um bom desempenho, mas precisa do recurso pra sobreviver.
— Pouco antes das Paralimpíadas, o governo federal encerrou o meu Bolsa Pódio. E desde setembro não estou recebendo a bolsa da prefeitura. Ainda bem que a família está ajudando — revela a remadora.
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Fundação admite falhas
A esperança de Lídio Cruz, superintendente da FME, é quitar todas essas dívidas até o fim do ano. Ele promete para a partir da semana que vem começar a pagar parte do saldo devedor com entidades e bolsistas.
— A Fundação foi criada em tese para fazer parcerias com a iniciativa privada, então parte da nossa verba deveria vir das empresas. Só que, de uns anos pra cá, nos tornamos somente uma secretaria travestida, porque a única fonte de receita ficou o repasse da prefeitura. Eu entrei em maio, e nós não tínhamos um corpo técnico capacitado para conseguir junto às empresas esses recursos. Já entrei gerenciando uma crise. E como estamos em um ano eleitoral, firmar essas parcerias está bem mais complicado _ admite Lídio.
Para agravar este quadro, há no calendário da Fundação Catarinense de Esportes num período de 20 dias Joguinhos, Olesc e Jogos Abertos, o que causa um impacto financeiro enorme, e não há a possibilidade de abrir mão desses eventos.
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— Por isso, não tem como pagar todo mundo. A despesa é maior que a receita. Estamos pagando do jeito que dá — explica.
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