Pelas portas e janelas de uma casinha na beira da praia saem tons de clarinete, saxofone, flautas e trombones. Quem passa pela Freguesia do Ribeirão da Ilha, no sul da Ilha, se pergunta: de onde vem essa música? Todos os sábados, alguns curiosos adentram a casa para descobrirem os sons. A responsável pela musicalidade é a Sociedade Musical e Recreativa Lapa, onde crianças aprendem as primeiras notas e uma das bandas mais consagradas da cidade ensaia. Há 120 anos, a Banda da Lapa festeja e é festejada pela comunidade do Ribeirão.
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Neste último sábado não poderia ter sido diferente. Os cerca de 30 integrantes da banda se reuniram para um motivo – desta vez – mais especial. Eles realizavam o último ensaio para a grande apresentação dos 120 anos da sociedade. A festa oficial ocorrerá nesta terça-feira, às 19h30min, no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), que fica no Centro de Floripa.
— Será a segunda vez que vamos tocar no TAC. Estamos todos muito ansiosos. Estamos acostumados a tocar em festas da comunidade, festas religiosas, na rua. Ali o foco principal será a nossa música — contou o regente da banda, Wellinton Carlos Correa.
No repertório da apresentação, músicas nunca antes tocadas pela banda, como um pout-porri de Milton Nascimento e de Vinícius de Moraes. Carinhoso, de Pixinguinha, também será lembrada, assim como uma versão cantada de Malandragem, de Cazuza. Além delas haverá marchinhas de Carnaval, que a Banda da Lapa tanto toca durante o Zé Pereira, popular festa que ocorre sempre uma semana antes do Carnaval, no Ribeirão.
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O ponto alto deverá ser com o dobrado (estilo musical de bandas) chamado Ressurgimento. A música foi tocada em 1952, após a Banda da Lapa ficar parada por um ano, em 1951.
— Por falta de incentivo e de dinheiro, a banda ficou parada por um ano na época. Mas durante a festa da Padroeira, a Nossa Senhora da Lapa, a comunidade sentiu muito em não ter uma banda participando e resolveu investir para o ano seguinte — explicou Correa.
Desde então, a Banda da Lapa nunca mais parou. A sociedade foi declarada de utilidade pública municipal em 21 de maio de 1992. Em 2005, ganhou sede oficial para ensaios e aulas gratuitas para crianças e adolescentes – a tal casinha na beira da praia. Já em 2009, através do projeto Educação Musical Popular – com oficinas de música e coral -, o espaço virou Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura (MEC).
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Música na veia

Jhonata da Rosa, de 18 anos, tem a música na veia desde novo. Com um pai baterista, ainda pré-adolescente passou a tocar o mesmo instrumento. Morador do Campeche, o rapaz estava sempre nos eventos do Ribeirão e acompanhava, ainda de longe, a Banda da Lapa passar. Até que com 14 anos, decidiu ir atrás. Ele queria fazer parte do grupo que tanto admirava.
— Eu costumo dizer que minha vida se divide em antes e depois da banda. Aqui também aprendi a tocar saxofone. E hoje sou um dos saxofonistas — contou o jovem.
De aluno a integrante da banda, Jhonata também dá aulas, assim como a maioria dos músicos. Para participar das aulas na sociedade, você só precisa ter vontade e mais de 8 anos. As primeiras aulas são de teoria musical e ocorrem sempre nos sábados. Em seguida, é escolhido o instrumento de interesse e as aulas específicas começam.
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As aulas de música sempre ocorreram de forma gratuita no local. Este ano, por falta de convênios e patrocínios, os interessados se associam à Sociedade e pagam uma mensalidade de R$ 30.
Uma grande família

Entre os integrantes da Banda da Lapa, não é difícil encontrar irmãos, pais e filhos, marido e mulher, primos, vizinhos, amigos de trabalho.
— A Banda da Lapa é uma grande família —_ resumiu o presidente da sociedade, José Carlos Correa, que é pai do regente Wellinton.
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O irmão dele, inclusive, Mário Correa, hoje com 73, tocou por quase dez anos na banda, durante a década de 60. Era mestre no clarinete. Mas virou policial militar e deixou a música de lado. Agora, mais de 40 anos depois, incentiva o filho mais novo, de dez anos, Mário Correa Júnior, a seguir os passos que parou.
Orgulhoso, da janela de vidro, ele acompanha o rapaz na aula. O menino ainda faz as aulas teóricas mas já escolheu o instrumento que quer tocar. Não seguirá no clarinete, como o pai. Decidido, escolheu o saxofone. Apoio ele tem da família inteira para isso.

Serviço
O quê: Apresentação dos 120 anos da Banda da Lapa.
Onde: Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), na Rua Marechal Guilherme, Centro de Florianópolis.
Quando: Terça-feira, 20 de setembro, às 19h30min.
Quanto: R$ 20 a inteira e R$ 10 meia-entrada.
Mais informações: (48) 3665-6401.