O ex-senador Dirceu Carneiro lembra com detalhes do dia 2 de outrubro de 1992. Na época, o catarinense natural de Caçador, no Meio-Oeste, era primeiro-secretário do Senado. Naquele dia, Dirceu teve a responsabilidade de comunicar a Fernando Collor o seu impeachment. Depois de pegar a assinatura de Collor, o catarinense foi até o gabinete de Itamar Franco, então vice-presidente, e exatamente às 10h27min, encontrou Itamar e disse a ele: “Assumo a responsabilidade perante a nação de comunicar que, a partir das 10h20min de hoje, o governo do presidente Collor está suspenso. Tenha boa sorte, e que Deus o ajude a governar o país”.

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Dirceu Carneiro lembra que se passaram sete minutos entre tirar o poder de presidente de Collor e entregá-lo a Itamar. Tempo que, apesar de parecer pequeno, poderia ter sido suficiente para muita coisa. Itamar tomou posse definitiva em 29 de dezembro daquele ano.

– Imediatamente após o impeachment do Collor, o Itamar disse que não queria assumir a presidência naquele dia. Mas não concordei de forma alguma. O país tinha acabado de tirar o seu primeiro presidente eleito pelo povo após a ditadura, e um dia que fosse sem presidente poderia ser um tempo muito grande para muita coisa acontecer. Fui atrás do Itamar e o fiz tomar posse na mesma hora, tanto que o Brasil ficou sem presidente por apenas sete minutos.

Dirceu Carneiro foi vice-prefeito (1972 a 1976) e prefeito (1977 a 1982) de Lages e senador de 1987 a 1995, quando abandonou a carreira política por acreditar que havia feito tudo o que podia para lutar contra a ditadura.

O catarinente garante que Itamar deixou um belo exemplo para o país.

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– Enquanto o governo Collor foi um desastre, uma bagunça, um caos e uma corrupção total, o Itamar era uma pessoa obstinadamente honesta. Ele foi um dos primeiros políticos do país a ter uma posição muito clara contra a ditadura, desde quando foi prefeito de Juiz de Fora (MG). Era firme no ponto de vista democrático e bem posicionado ideologicamente.

Recolhido em sua fazenda no interior de Campos Novos, no Meio-Oeste, onde trabalha com agricultura e pecuária, Dirceu Carneiro não foi ao velório e ao sepultamento de Itamar Franco, mas disse ter ficado muito triste com a morte do ex-presidente.

– O Itamar era de uma ética e moral impressionantes. Hoje, o país colhe os frutos que o Itamar plantou. Ele deixou belos exemplos como a persistência e o espírito democrático, que o norteou desde o movimento estudantil. Se o Brasil perde a parte física do Itamar, fica com a sua bonita história.