O período de negociações salariais dos principais sindicatos de trabalhadores começou no início do ano e deve se estender até o próximo mês em Joinville. Representantes de categorias se dizem otimistas frente a sinais de melhoras na economia neste ano e da possibilidade de conseguirem aumento real de salário. Esta é a primeira vez em que os sindicatos de Joinville negociam dissídios desde a aprovação da reforma trabalhista, sancionada pelo presidente Michel Temer no ano passado.

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A única negociação encerrada até agora é a do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Têxteis de Joinville (Sinditex), que tem data-base em fevereiro. A pauta, como nos anos anteriores, reivindicou a reposição da inflação e aumento real de 5%. No entanto, após conversas com o sindicato patronal, o acordo fechou com pagamento da inflação e mais 0,35%. O piso mínimo da categoria ficou em R$ 1.320 e ainda houve a renovação das cláusulas sociais.

O presidente da entidade, Gerson Cipriano, acredita que o cenário do país – com instabilidade política – tem trazido problemas. Para ele, a inflação não retrata a realidade no Brasil. Isso porque a referência usada para o reajuste salarial é o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), enquanto aquele que orienta a inflação dos produtos de consumo é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

— Hoje, o INPC não retrata a realidade de cada setor e cada cidade. O trabalhador se ocupa de um número tão pequeno de aumento, enquanto os produtos sobem mais. Fica difícil de negociar nesses modelos — afirma.

Em outros dois setores, com data-base neste mês, há negociações avançadas. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Material Plástico de Joinville está na quarta rodada de negociações pedindo o reajuste da inflação mais 5% e a manutenção de algumas cláusulas sociais. No ano passado, a categoria fez o mesmo pedido e recebeu aumento real de 0,25%.

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No Sindicato dos Mecânicos a negociação também está em andamento. A reivindicação é a mesma das demais categorias, com ganho real de 5%. A entidade informa que já houve uma conversa informal e uma reunião formal com o sindicato patronal para negociações. Nesta segunda-feira haverá uma nova rodada de negociações. O presidente, Evangelista dos Santos, aposta em um acordo até o fim do mês e a expectativa é positiva diante da conjuntura econômica.

— A economia realmente está melhorando, mas não dá para exagerar e dizer que o problema está resolvido com um índice de desemprego tão alto. Penso que essa melhora é natural, afinal, nada é tão ruim para sempre — comenta.

O único que ainda não enviou reivindicações ao segmento patronal foi o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e do Mobiliário de Joinville (Siticom), que tem maio como data-base. Foi realizada uma assembleia geral e o presidente, Sigmar Ziehlsdorff, encaminhará a proposta ao sindicato patronal nesta semana. O pedido será de reposição da inflação e aumento real de 4%. No entanto, com a crise econômica e do próprio setor, a perspectiva não é muito otimista.

— Com a inflação baixíssima está bastante difícil conseguir algumas coisas para melhorar o salário. A crise da construção civil dos últimos dois anos também afeta as negociações – diz.

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No setor de metalurgia, o presidente do sindicato de trabalhadores, Rodolfo de Ramos, informa que foram realizadas três rodadas de negociação e outras duas estão agendadas com a entidade patronal, nos dias 10 e 12 deste mês. A intenção é, também, fazer uma assembleia no dia 28 para análise das propostas.

Patronal também apresenta pauta de reivindicações

Até agora apenas o Sindicato dos Mecânicos conseguiu perceber mudanças nas negociações em relação ao ano passado, época anterior à reforma trabalhista. Segundo o presidente, Evangelista dos Santos, a novidade foi que o sindicato patronal também apresentou neste ano uma pauta com reivindicações.

— Fomos surpreendidos com uma enormidade de cláusulas, algumas baseadas na reforma. Os trabalhos de reuniões de negociação ficam mais complexos, porque aumentam as discussões das cláusulas sociais.

Evangelista diz que agora o sindicato terá mais cuidado ao analisar as propostas porque nem tudo que está presente na reforma trabalhista tem a concordância da categoria. Entre as novidades, o presidente do sindicato aponta questões relacionadas à insalubridade e acordos individuais. Por outro lado, ele assegura que estão dispostos a discutir, mas será necessário haver cuidado porque o trabalhador joinvilense, conforme ele, já tem uma massa salarial muito reduzida.

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Na construção civil o impacto da reforma trabalhista é uma redução do movimento no sindicato. De acordo com o presidente, Sigmar Ziehlsdorff, os trabalhadores estão deixando de pagar a contribuição. Agora, a diretoria vai verificar os valores contribuídos em março para discutir o que fará e analisar como será prestado o atendimento. Ele afirma que ainda não sabe qual o impacto da reforma na discussão com o sindicato patronal, porém acredita que surgirão algumas reivindicações.

— Devemos resolver tudo isso harmoniosamente, mas desde o ano passado não houve grandes mudanças — conta.

Nos sindicatos das indústrias têxteis e dos plásticos não houve percepção de mudanças por causa da reforma. De acordo com Gerson Cipriano, do Sintex, aos poucos ele nota pretensão das empresas em buscar um novo modelo, como, por exemplo, em relação ao banco de horas, ao trabalho intermitente e a acordo de rescisão. Já para o presidente da entidade, Silvio de Souza, o trabalhador está mais tranquilo após as alterações na legislação.

— Neste ano não teve o desconto do imposto sindical, foi um ganho para o trabalhador. Agora tem a negociação diretamente com o empregador, que facilitou — defende.

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O CALENDÁRIO POR SETOR

TÊXTIL

Quantos representa: 4,5 mil trabalhadores.

Data-base: fevereiro.

Situação: acordo firmado com o sindicato patronal.

MECÂNICOS

Quantos representa: 16 mil trabalhadores.

Data-base: abril.

Situação: em rodadas de negociação com o sindicato patronal.

PLÁSTICOS

Quantos representa: 12 mil trabalhadores.

Data-base: abril.

Situação: em rodadas de negociação com o sindicato patronal.

CONSTRUÇÃO CIVIL

Quantos representa: 6 mil trabalhadores.

Data-base: maio.

Situação: reivindicações devem ser entregues nesta semana ao sindicato patronal.

METALÚRGICOS

Quantos representa: 18 mil trabalhadores.

Data-base: abril.

Situação: em rodadas de negociação com o sindicato patronal.

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