Um santuário ecológico rodeado pelo mar, assim é a pequena e aconchegante Ilha do Grant, em Barra Velha. Via BR-101 o trajeto de Joinville à Praia do Grant, que dá acesso à ilha, tem 57 quilômetros e dura cerca de uma hora. Um passeio convidativo para quem quer aproveitar águas calmas e transparentes, pescar, tomar sol, andar sobre as pedras ou descansar embaixo de sombreiros erguidos há quatro décadas. Repleta de belezas naturais exuberantes, a Ilhota ganha novos frequentadores a cada temporada, mas ainda exibe uma tranquilidade pouco comum no litoral catarinense, o que torna o passeio diferente e capaz de fazer qualquer visitante querer voltar.

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Recordações

Durante a estadia da reportagem de A Notícia na Ilha, Guilherme Fallgater, morador de Blumenau e neto do primeiro desbravador do lugar estava no local. Segundo ele, as recordações da infância são ligadas as férias em família na Ilha do Grant. Tanto, que ele hoje com 51 anos frequenta o local anualmente desde que nasceu.

– Meu avô descobriu o paraíso, as primeiras recordações que tenho são de quando eu tinha cinco ou seis anos, a família vinha direto para cá e eu aprendi a nadar sendo jogado do barco nessas águas, enquanto brincávamos. De lá para cá, sempre que posso venho aproveitar – diz ele que ainda mantém moradia de veraneio na mesma praia.

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História

Para quem aponta à beira mar na Praia do Grant, a Ilha de Canasvieiras conhecida sob o mesmo nome da praia – em homenagem ao inglês Mister Grant, que residia e mantinha um hotel na região – é vista como um pedacinho de terra observado ao longe.

Porém, basta conversar com um ou outro pescador para começar a conhecer as histórias envoltas neste pedaço de terra firme no meio do mar. Conforme os ribeirinhos, entre as décadas de 1940 e 1950 a área começou a ser explorada por um joinvilense de coração, o ex-prefeito de Joinville Helmuth Fallgater, e deu origem ao Iate Clube Itajuba, em atividade até hoje na Ilha. Antes disso, porém, o lugar era um cemitério de índios, descoberta feita quando a área começou a ser construída.

De lá para cá, poucas pessoas tiveram a chance de viver no local, apenas os caseiros e suas famílias que passaram por lá. Hoje apenas três pessoas e dois cachorros moram no local, que tem sua ocupação viabilizada por um contrato de cessão de posse concedido pela Marinha e válido até 2045.

A ilha e seus encantos

Ao desembarcar, o primeiro contato é com uma infinidade de pequenas conchas e pedras marinhas de diversas cores e formatos. Em um dos cantos da Ilha está um trapiche de pedras que está fechado por segurança, do outro pedras ajudam a montar um cenário perfeito para fotos e para avistar a cidade ao fundo do outro lado das águas. Em meio a grupos com guarda-sol, rodas de violão, ou mesmo pessoas brincando na água, o lugar é convidativo ao descanso embaixo dos grandes sombreiros cultivados desde a década de 1980.

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A natureza é revigorante. De área construída há o Iate Clube, recém reformado, uma única lanchonete e a casa dos caseiros. De costas para o continente, há duas árvores-da-borracha (seringueiras) com balanços feitos com corda e madeira, além de um paredão de pedra de 40 metros de altura, coberto de verde, e que ajuda a proteger a ilha da própria natureza e do mar. Dentre as possibilidades de lazer, está a apreciação de bons pratos e bebidas, pescaria, banho de sol e de mar, caminhada ou mesmo um cochilo na sombra das árvores.

Travessia de barco

Distante cerca de 600 metros do continente, a Ilha do Grant é acessada por meio de um único barco autorizado para a travessia de passageiros entre as duas margens – próxima ao monumento dos pescadores e no trapiche de pedras da Ilha. Um outro barco é utilizado para transportar sócios do Iate Clube e os caseiros da ilha.

Quanto a embarcação turística, ela tem capacidade para até oito pessoas e é pilotada há 15 anos pelo pescador Nilton Tomaz, de 62 anos, que nasceu na Região e já chegou a morar na Ilha do Grant. Ele chega a transportar em média 100 pessoas aos finais de semana. Cheio de histórias para contar, ele lembra que existem muitas lendas populares em torno do local, uma delas que haveria ouro enterrado por ali.

Das comprovadas está a criação de cabritos, que eram abastecidos de capim trazidos por meio de uma canoa. A conversa com seu Nilton se estende durante os cinco minutos de travessia, o bastante para ele confidenciar: “Se existe um céu para mim é aqui”.

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O que: Barco Tomaz 1

Onde: Realiza a travessia entre a praia e a Ilha do Grant

Quando: Segunda a segunda, das 8h às 18h (com tempo bom)

Quanto: R$ 20 por adulto ida e volta; R$ 10 por criança

Travessia a nado

Para os corajosos, aventureiros e preparados para enfrentar o mar (não indicado para quem não conhece a região e devido ao tráfego intenso de barcos, jet skis e pescadores), há quem prefira a travessia a nado. Esse é o caso da paratleta de Guaramirim Maria Helena Eggert, 61 anos, que já perdeu as contas de quantas vezes já chegou nadando na Ilha. A primeira travessia foi em 2012 acompanhada de um dos filhos. Nesta semana, de férias na região, a nadadora repetiu o feito. Pulou do barco durante a travessia e fez metade do percurso de braçada em braçada. A filha Joanice Vargas, 36, e as netas de Maria Helena, Natália, 13, e Letícia, 13, acompanharam tudo de cima da embarcação.

– Comecei a nadar em 2002 por recomendação médica e descobri uma paixão. Depois que descobri o prazer de nadar nessas águas, sinto uma liberdade que nunca senti fora d’água. Isto é viver – diz.

Atração para todos

A calmaria das águas da ilha possibilitam que crianças aproveitem o ambiente junto dos pais. Para as irmãs Rosemari Matteussi de Souza, Marilda Mateussi Pacher e Vanilda Matteussi, e os irmãos Marcelino e Adilson Pacher, de Braço do Trombudo (SC), a ilha foi uma agradável descoberta. Elas acreditavam que o espaço fosse particular e quando descobriram que era aberto ao público, decidiram fazer o passeio com toda a família. Só de olhar para a brincadeira das crianças, Ana Julia Matteussi Pacher, 11, Caio Marcelo Matteussi Pacher, 6, e Josué Victor Matteussi Pacher, 1 ano, na areia, a cena confirmava que a escolha do roteiro foi certa.

– Estamos encantados, com a tranquilidade, as árvores, o frescor e a prainha – diz Vanilda.

Quem vive na ilha

Há um ano, Joel Hein, de 37 anos, mudou para a Ilha com a mulher, Tairine Persuhn, 28, e o filho do casal João Henrique, de 9 anos, além dos cães Jorge e Safena. Apenas eles residem de forma fixa na Ilha e recepcionam os turistas que ali chegam com um sorriso no rosto e disposição para fazer amizade. Joel já havia morado na ilhota em outros tempos, quando seu pai Miguel foi o caseiro do Iate Clube, por 16 anos. Ele decidiu voltar depois que o patriarca da família e sua mãe, hoje idosos, decidiram voltar para Barra Velha. Diariamente é ele quem abastece a despensa de casa e ajuda a trazer os mantimentos que serão comercializados na lanchonete – os produtos precisam ser frescos, porque só há luz solar e geradores na ilha, o que dificultaria a manutenção dos alimentos. Apesar de fazer várias viagens todos os dias, para ele, ser morador de uma ilha se tornou algo normal e o vai e vem nunca incomodou – mesmo quando passou dias ilhado durante uma ressaca no mar. Até para o pequeno João, a novidade é bem-vinda, apesar de sentir falta da presença dos amigos, ele aproveita para fazer amizade com as crianças turistas que ali chegam e lista os benefícios de morar em um lugar paradisíaco, como aprender a surfar, pescar, nadar e ter o mar no quintal de casa e à sua disposição todos os dias.

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— Quando eu era pequeno era tudo na base do remo, não tínhamos energia, hoje tenho sossego e a travessia dura minutos. Estou no paraíso — diz Joel.

Gastronomia

Na Ilha há apenas um restaurante, que oferece porções e pastéis, além de drinks e sucos. São comercializados no local petiscos de R$ 5 a R$ 45 e é aceito cartão e dinheiro. Para se refrescar há ainda a venda de picolés de frutas. Uma porção de 400 gramas de camarão, por exemplo, custa R$ 45. Para os mais econômicos há opções de pastéis, que variam de R$ 5 a R$ 8. A tradicional caipirinha de limão sai por R$ 12. O cardápio conta ainda com iscas de peixe, casquinha de siri, lula e frango à passarinho. O empreendimento é do curitibano Gilberto Heller De Bonoso, atual presidente do Iate Clube.

O que: Petisqueira Especialle

Onde: Ilha do Grant

Quando: Segunda a segunda, das 8h às 18h, na temporada

Quanto: De R$ 4 a R$ 45

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