Esqueça a Mãe Dináh. Se você quer ter alguma certeza sobre o que deve vir de novo em 2014, melhor consultar as inovações previstas para a ciência e a tecnologia. Escolhemos cinco tópicos que devem dar o que falar, novidades que ainda não apareceram no noticiário ou constam de forma tímida, com tendência de consolidação no ano que agora chega.

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As boas-novas vão da imensidão do espaço até a poltrona da sua sala. Sem exageros: devem ocorrer em 2014 a primeira viagem especial comercial e a aterrissagem de uma sonda em um cometa (o que deve ser muito pior do que baliza em vaga apertada). Falando em carros, a Fórmula-1 ganhará a primeira temporada de sua similar elétrica, a Formula-E, baseada em veículos com zero emissão de poluentes.

Na área da saúde, pesquisadores dos Estados Unidos já veem como bem palpável o tratamento de imunoterapia para o câncer, no qual o próprio corpo do paciente combate a doença. Por fim, resta a inovação do cotidiano, aquela que atinge quem não consegue desgrudar do smartphone. Pois 2014 deve ser, de vez, o ano dos celulares com identificação por biometria. O que não deixa de ser uma boa notícia, além de um adeus às senhas.

Carros elétricos de corrida

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Sabe a Fórmula-1, só que com carros elétricos? Pois é, será realidade em 2014. Claro que o glamour nem se compara ao da mais tradicional categoria do automobilismo mundial, mas a nova competição – batizada de Formula-E – será organizada pela mesma entidade que rege a Fórmula-1, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Em 10 etapas, 20 carros correrão em 10 circuitos espalhados pelo mundo, em locais como China, Malásia, Mônaco, Los Angeles, Londres, Buenos Aires e Rio de Janeiro (a etapa brasileira está marcada para 15 de novembro).

A ideia da categoria é servir de laboratório para os carros das ruas, como já acontece na Fórmula-1. Conforme Alejandro Agag, executivo responsável pela Formula-E, o campeonato servirá para o desenvolvimento dos modelos elétricos. Apesar de sustentável, esta matriz sofre resistências devido a gargalos como a baixa autonomia e o alto custo, na comparação com veículos tradicionais. O professor Marcelo Zuffo, da Politécnica da USP, afirma que compraria de imediato um elétrico. Mas faz uma ressalva:

– O que vai dar certo é o híbrido (com motores elétrico e a combustão). A durabilidade é maior e o custo-benefício, melhor.

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O Fórmula-E, porém, terá motor com zero emissão de poluentes. A potência fica na casa de 270 cavalos (cv), cerca de um terço dos modelos da Fórmula-1.

Biometria nos telefones

Esta é uma dica do chamado ConsumerLab, um laboratório da Ericsson que avalia tendências e novidades com base no gosto dos consumidores. A multinacional sueca detectou um crescimento em potencial da biometria em dispositivos como telefones e tablets, porque o usuário, pasme, cansou de digitar senhas – cada vez maiores, recheadas de números, letras e sinais chatos de lembrar (!, @, & etc). Nada melhor, portanto, do que usar as impressões digitais como meio de identificação.

Conforme estudos da Ericsson, 61% dos donos de smarphones preferem a biometria como forma de login, e 52% trocariam todas as senhas pelo toque na tela. Mais: 48% gostariam de adotar a câmera do telefone para desbloquear o aparelho. Neste caso, o acesso se daria pela leitura do globo ocular, tal e qual nos filmes de ficção científica. Outras opções seriam a biometria facial. Segundo o professor Marcelo Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), a movimentação da câmera reconstrói o rosto do usuário e ajuda a evitar um falso-positivo na identificação.

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Também é fato que as pessoas querem alternativas até para atividades corriqueiras mas um tanto arriscadas, como compras online com cartão de crédito. A pesquisa mostra que metade da amostra de 5 mil donos de smartphone com software Android topa liberar o cartão com as impressões digitais. Com tanta aprovação para esta novidade, não chega a ser surpresa o estudo mostrar que 74% dos entrevistados acreditam que a biometria nos smartphones se tornará popular em 2014. Mesma opinião do professor Zuffo.

– A Apple já lançou um telefone biométrico. Tudo o que ela coloca na rua fica popularizado – afirma.

De carona no cometa

Em 2014, pegaremos carona não em uma cauda de cometa, mas no núcleo. A sonda Rosetta deve aterrissar em 14 de novembro no cometa 67P/Curyumov-Gerasimenko, um viajante entre a órbita da Terra e a de Júpiter. Desde 2004, quando foi lançada, a sonda da Agência Espacial Europeia já orbitou o Sol cinco vezes e sobrevoou Marte e os asteroides 21 Lutetia e 2867 ?teins.

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A aterrissagem no 67P deve render imagens em alta-resolução e o mais detalhado estudo de um cometa já feito pelo homem. Mas e daí? Com tantos problemas no mundo, por que diabos aterrissar em um cometa? Quem responde é Marcelo Bruckmann, do Laboratório de Astronomia da Faculdade de Física da PUCRS:

– Os cometas ainda guardam vestígios da matéria original que, de certa forma, dá origem ao nosso Sitema Solar. Então esses vestígios podem representar elementos intactos (ou os mais intactos possíveis) do passado do nossos sistema: a matéria que deu origem aos planetas, aos satélites e aos asteroides – explica.

A arqueologia não termina aí. A cauda dos cometas é, basicamente, gelo, e grande parte da água no nosso planeta veio… de cometas!

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– No nosso passado, eles colidiam com mais frequência contra a Terra. A água foi acumulando e ficando. De certa forma, os cometas organizaram a vida como a gente conhece – diz Marcelo, acrescentando que entender a dinâmica desses astros também contribui para bolarmos estratégias de defesa caso a Terra esteja na rota de alguma nova colisão.

Turismo espacial

Toda criança sonhou, em algum momento, ser astronauta, e 2014 promete deixar alguns sonhadores, literalmente, fora da casinha (o planeta Terra, no caso). O turismo espacial deve ser inaugurado pela empresa Virgin Galactic, que cobra ingresso de R$ 500 mil a cada milionário pretendente a pioneiro no espaço. Se tudo correr direitinho, não será mais necessário passar por anos de treinamento cascudo para dar uma espiada altaneira no globo.

Para tornar o sonho realidade, a Virgin construiu um “espaçoporto” no estado americano do Novo México. A ideia é que seis passageiros embarquem no foguete “SpaceShip Two”, que subirá acoplado à aeronave “WhiteKnight Two” e, então, será solto a 16km de altura. De lá, o foguete subirá a 100km acima de nós, até perder combustível e deixar o sexteto de ricaços pendendo, sem peso, na fronteira da atmosfera. O chefão da Virgin Galactic, Richard Branson, prometeu em outubro que o turismo espacial começa em 2014. A empresa já tem mais de 600 pessoas na sua “lista de espera”.

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A Virgin enfeita o projeto dizendo que, ao observar o planeta lá do alto, as pessoas podem se tornar mais sensíveis aos problemas da Terra. Embora cético em relação à capacidade de empatia dos multimilionários, Marcelo Bruckmann, do Laboratório de Astronomia da Faculdade de Física da PUCRS, reconhece que o turismo espacial pode ser um primeiro passo.

– Com certeza tem algo nesse sentido. A busca no céu sempre vai nos remeter à nossa condição, ao nosso lugar. Só em relação ao lugar que habitamos é que vai fazer sentido a gente olhar para cima – diz Marcelo.

Imunoterapia de câncer

A aposta vem do campus de San Francisco da Universidade da Califórnia (UCSF). Trata-se de uma alternativa para a quimioterapia tradicional e consiste em usar o próprio sistema imunológico do paciente para eliminar tumores. O professor Lawrence Fong, da UCSF, falou a respeito para o site da instituição. Disse:

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– A nova fronteira no tratamento do câncer é fazer com que o sistema imunológico elimine tumores, em vez de mirar as células cancerosas com quimioterapia. Em contraste com os tratamentos tradicionais de câncer, a imunoterapia pode levar a respostas clínicas mais longas.

O exemplo vem da própria universidade, onde pacientes com câncer de próstata em estágio avançado foram submetidos ao tratamento e ainda vivem, seis anos depois. A diferença é que, agora, o método passou por considerável avanço graças à identificação de receptores no sistema imunológico, como CTLA4 e PD-1, capazes de bloquear a reação do organismo à doença. O passo seguinte foi usar anticorpos que impedem a ação deste receptores, com uma resposta classificada pelos pesquisadores como “sem precedentes” em casos como o do câncer de pulmão.

Conforme as pesquisas da UCSF, o fato de o sistema imunológico ter uma espécie de “memória” torna esta opção mais duradora do que a terapia tradicional, a qual causa efeitos colaterais porque são atacadas tanto as células sadias quanto as com câncer.

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– Embora a imunoterapia já vem sendo utilizada há alguns anos, a descoberta de novos receptores permitirá um tratamento mais efetivo para alguns tumores (como melanoma e pulmão). Espero que os resultados promissores desta terapia se transformem rapidamente em rotina na prática clínica diária – avalia o chefe do setor de Cirurgia Oncológica da Santa Casa, Antonio Kalil, que é professor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.