Tradicionalmente masculina, a mecânica automotiva impõe uma série de barreiras para mulheres. Muitas enfrentam preconceitos em relação às suas habilidades técnicas e, frequentemente, têm receio de serem enganadas por profissionais homens. É justamente para transformar essa realidade que o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) oferece, há três anos, um curso de oficina mecânica exclusivo para mulheres em Florianópolis.
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Gratuito e aberto para qualquer interessada, o curso tem duração de 60 horas e ensina habilidades práticas, como a troca de pneus e a identificação de problemas no motor, para um grupo de 20 alunas. A formação é básica e permite, por exemplo, que as alunas possam trabalhar em borracharias ou postos de gasolina.
O curso também possibilita que elas compreendam o diagnóstico básico de problemas em seus próprios veículos.
— A ideia é que as mulheres se sintam confiantes em situações simples, como trocar um pneu ou entender o vocabulário utilizado por mecânicos, para que não dependam de outras pessoas ao lidar com seus carros — explica Lucas Yoshida, professor do curso.
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Uma pesquisa de 2023, feita nos Estados Unidos pela Consumer Affairs, mostra que apenas 15,4% das mulheres confiam em seus mecânicos, menos da metade do valor entre os homens (32,4%). Entre as alunas do projeto, essa desconfiança é comum:
— Como se tem essa ideia de que mulher não entende de carro, você acaba sempre ficando para trás. Eu queria entender o básico para não ser passada para trás — relata a esteticista Samantha Lobo, de 22 anos.
Transformação
No entanto, o objetivo do curso vai além: visa fortalecer a autonomia e a confiança dessas mulheres, tanto com seus veículos quanto com suas próprias capacidades. Fernanda Royse, professora e idealizadora do curso, enfatiza o impacto que a educação tem na vida das alunas.
— A educação é uma ferramenta para transformação. Já vimos mulheres que, ao se qualificarem, começaram a se posicionar de maneira diferente dentro de casa, percebendo que são responsáveis por suas próprias vidas — comenta.
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Sandra Ribeiro, outra aluna, exemplifica bem essa transformação. Aos 59 anos e aposentada, ela decidiu fazer o curso para satisfazer uma curiosidade antiga sobre como os carros funcionam.
— Sempre quis saber o que fazia o carro se mover. Aqui estou encontrando as respostas e aprendendo na prática, o que me atrai muito. Quem sabe, no futuro, eu possa até trabalhar como mecânica — diz ela, que já trabalhou como motorista de aplicativo.
O ambiente majoritariamente feminino das aulas favorece o aprendizado, segundo Sandra. Para a professora Fernanda, o impacto do curso vai além da técnica:
— Essas mulheres saem daqui transformadas, muito mais fortes e vibrantes.
Veja fotos do curso
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