Denúncia do Ministério Público Federal (MPF) apresentada à Justiça na última sexta-feira aponta, pela primeira vez, ligação entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a N?Drangheta – organização tida como a mais atuante das quatro máfias italianas. Os grupos criminosos se associaram para fazer a cocaína da Bolívia chegar a portos da Espanha, Holanda e Itália, passando pelo Porto de Santos.
Continua depois da publicidade
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Continua depois da publicidade
É a primeira vez que o MPF cita a organização italiana nas denúncias – que estão sendo feitas depois da Operação Oversea, desencadeada pela Polícia Federal em 31 de março e tida como a maior ação antidrogas no ano em Santos.
A Procuradoria da República em São Paulo Informou apenas que os denunciados foram detidos com 230 mil enquanto tentavam embarcar 56 quilos de cocaína, mas não confirmou o nome deles. A base da ação seria a Calábria, cidade do leste da península italiana e a droga seria distribuída em dois portos italianos.
Nas interceptações, um homem chamado de Dido – que seria o contato no Brasil da N?Drangheta – chega a mandar para os contatos fotos dos lacres dos contêineres onde os tabletes de cocaína deveriam ser depositados. O suspeito, que não havia sido identificado até a operação ser deflagrada, vinha sendo monitorado pela Direzione Centrale Per I Servizi Antidroga, o departamento contra narcóticos do Ministério do Interior da Itália.
Continua depois da publicidade
A cooperação entre a PF e as autoridades italianas foi costurada pelo Departamento Antidrogas dos Estados Unidos (DEA). A carga terminou sendo apreendida no próprio porto, dias antes de a Operação Oversea ser deflagrada.
Contato da máfia italiana era MC
Conforme os relatórios de inteligência da PF, os diálogos de Dido eram com Ricardo dos Santos Santana, vulgo MC, uma das 34 pessoas que trabalhavam em Santos no embarque das drogas. A cocaína vinha sendo estocada na capital, vinda da Bolívia, até haver oportunidade para embarcá-la em contêineres do porto.
Nos registros oficiais, MC aparece como parceiro de André de Oliveira Macedo, o André do Rap, que seria um dos principais líderes do PCC na Baixada Santista, e um dos encarregados de recolher as mensalidades da facção paulista. André, MC e um terceiro indivíduo, chamado Myfriend, seriam líderes de quadrilhas que atuavam em parceria, encarregados de conseguir embarcar drogas nos navios do porto.
Continua depois da publicidade
Pagamentos eram feitos através de empresa com sede no Uruguai
A quadrilha usava uma empresa offshore, com sede no Uruguai, para receber os pagamentos pelo serviço, de acordo com as investigações. A companhia, chamada Oklona Corporation, tinha ao todo três chácaras, todas em condomínios na Estrada Mogi-Bertioga, em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo.
A empresa foi descoberta porque MC fotografou um código de barras e mandou a imagem por mensagem para uma pessoa, pedindo que ela pagasse a conta de luz. A troca de diálogos já era monitorada pelos agentes da PF.
Para conseguir identificar todos os envolvidos no esquema, a polícia pediu autorização para uma ação controlada – quando os policiais deliberadamente deixam de agir ao verificar a existência de um delito, para mapear o restante da organização criminosa.
Continua depois da publicidade