Eles não ganham um único centavo por isso, mas põem em jogo grandes valores das suas vidas. De um lado, o produtor rural Joarez Esmério, 55 anos, morador de São José do Cerrito, na Serra. De outro, o representante comercial Orides Luiz Pompeo, 48, de Coronel Freitas, no Oeste. A partir deste sábado, um dos dois ocupará o cargo máximo do tradicionalismo gaúcho em Santa Catarina.

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Joarez e Orides disputarão a presidência do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), entidade à qual estão ligados 620 Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) espalhados por todo o Estado, com mais de 45 mil pessoas filiadas. Dos 295 municípios catarinenses, só quatro ou cinco não têm nenhum CTG. Alguns, porém, como Lages, na Serra, onde está sediado o MTG, contam com mais de 30. Assim, a média fica superior a dois CTGs por cidade.

A primeira entidade representativa dos tradicionalistas de Santa Catarina foi fundada há 39 anos, em 18 de maio de 1973, sob a denominação de Movimento Tradicionalista Catarinense (MTC). Em seguida, passou a ser chamada de Associação Tradicionalista Gaúcha do Estado de Santa Catarina (Atgesc) e, em 29 de julho de 1985, foi fundado o MTG, que passou a ser o órgão único.

Desde então, conforme rege o estatuto, a eleição para a diretoria é feita a cada dois anos, sempre no último fim de semana de julho. Neste ano, a chapa de Joarez Esmério, que já foi presidente do MTG entre 1996 e 1998, tenta tirar do poder o grupo ligado ao atual presidente, Itamar Sebastião Mattos, o Tio Preto, morador de Capivari de Baixo, no Sul do Estado. A situação, que venceu as últimas cinco eleições, tem Orides Pompeo, atual vice, como candidato a presidente.

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Nos últimos anos, as eleições para a diretoria do MTG têm sido intercaladas entre disputas entre dois candidatos ou consenso em um só nome. A deste sábado será a segunda consecutiva na qual duas chapas apresentam as suas propostas para administrar o Movimento.

Joarez quer voltar a ser presidente do MTG por considerar que a atual administração não se identifica com o tradicionalismo e pouco tem oferecido aos associados.

– Eles arrecadam e não devolvem aos associados. Queremos mostrar a nossa arrecadação. Além disso, são homens que usam tênis e calça jeans e não se identificam com a bombacha e a nossa cultura.

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Já Orides, que defende a continuidade, garante que a atual administração é correta e deixou o MTG com as contas em dia e um saldo financeiro bastante positivo.

– Os patrões dos CTGs nunca estiveram tão em dia com o MTG como agora. Isso é sinal de que confiam no nosso trabalho.

Apesar da disputa, clima amigável marca a eleição

Mas apesar da concorrência eleitoral, Joarez e Orides garantem que a disputa se limita ao campo das ideias. Os dois são amigos de longa data, viajam para os mesmos rodeios, comem e bebem juntos e suas famílias se dão bem. E este, dizem os dois, é o verdadeiro espírito tradicionalista.

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– Trabalhamos com o mesmo objetivo, de resgatar e manter a tradição gaúcha. Sentamos e tomamos chimarrão juntos. Nossas famílias se conhecem. Vivemos juntos. Agora disputamos a eleição, mas fora dela, se não nos unirmos, quem perde é a cultura -, dizem os amigos de sempre e adversários de momento.

Nenhum cargo da diretoria do MTG é remunerado. Somente os seis funcionários fixos da entidade recebem salários. A eleição ocorre neste sábado, a partir das 17h, na sede social da entidade, localizada em Lages. Para o pleito, 622 pessoas estão aptas a votar, mas a organização espera a participação de aproximadamente 400. O resultado deve sair por volta das 19h. É obrigatório estar pilchado (vestindo trajes gaúchos).

Perfis e propostas

Joarez Esmério

– Funcionário público aposentado e produtor rural, morador de São José do Cerrito, na Serra;

– Tem 55 anos de idade, dos quais, 41 ligados ao tradicionalismo;

– É casado e tem uma filha de 13 anos;

– Foi fundador do extinto CTG Porteira Cerritense, em 1977, sendo patrão (presidente) até 2004. Depois, foi para o CTG Estância Velha, onde está até hoje;

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– Foi quatro vezes coordenador regional do MTG, uma vez presidente (1996 a 1998), uma vez vice-presidente (2000 a 2002), uma vez presidente de honra (2002 a 2004) e uma vez presidente (1998 a 2000) da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG).

Propostas

– Transparência na prestação de contas aos associados

– Valorização dos CTGs e das equipes, pois assim se valoriza também as famílias

– Fortalecimento da parte cultural, incentivo à criação de invernadas artísticas e à produção de artesanato típico

– Captar recursos para os CTGs junto aos órgãos públicos ligados à cultura

– Retornar ao Rodeio Nacional de Campeões, cuja próxima edição ocorrerá em agosto de 2013, em Jataí (GO).

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Orides Luiz Pompeo

– Representante comercial, morador de Coronel Freitas, no Oeste

– Tem 48 anos de idade, dos quais, mais de 20 ligados ao tradicionalismo

– É casado e tem duas filhas, de 20 e 23 anos

– Sempre foi filiado a um único CTG, o Mate Amargo, do qual já foi patrão (presidente) por oito vezes

– Foi duas vezes coordenador regional do MTG, uma vez diretor campeiro e é o atual vice-presidente, concorrendo pela primeira vez à presidência.

Propostas

– Dar continuidade ao atual trabalho, que considera estar dando certo

– Modernizar o sistema de inscrições online para os eventos e fazer a carteira nacional da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG) para os filiados

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– Aproximar o MTG dos CTGs e seus peões

– Ampliar o parque do MTG, em Lages, com pavilhões e cancha de laço, possibilitando realizar, na sede própria, grandes competições como o Rodeio Estadual e o Festival Catarinense de Arte e Tradição Gaúcha (Fecart)

– Retornar ao Rodeio Nacional de Campeões, cuja próxima edição ocorrerá em agosto de 2013, em Jataí (GO).

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