O candidato à presidência pelo PSOL em 2018, Guilherme Boulos, defende uma união da esquerda para evitar o que considera "um desmonte do Brasil". Em entrevista ao Estúdio CBN Diário desta quarta-feira (18), apoiou a greve de estudantes da UFSC, defendeu uma reforma tributária com cobrança progressiva e criticou a profundidade do debate político no país.

Continua depois da publicidade

— A desinformação no debate político no Brasil foi muito grande nos últimos anos. Você reduziu o argumento político a memes. Você estereotipou posições políticas. O que é ser de esquerda? É defender a igualdade social, que todos tenham as mesmas oportunidades. Que o Estado ofereça serviços públicos de qualidade e que o Estado atue para reduzir a desigualdade — disse Boulos, acompanhado do ex-candidato a prefeito da Capital, Elson Pereira.

Boulos disse que a esquerda tem um projeto de reforma tributária melhor do que o que está sendo proposto pelo governo:

— O sistema tributário brasileiro é uma das alavancas da desigualdade social. Quem paga imposto no Brasil é pobre e classe média. O governo do PT errou por não ter feito a reforma tributária e precisa ser cobrado por isso.

O líder do PSOL também criticou os governos anteriores por não mudarem o sistema bancário e disse que a taxa de juros do país, apesar da queda da Selic, continua sendo uma das maiores do mundo:

Continua depois da publicidade

— Pagamos 287% de juros no cartão de crédito rotativo, enquanto a média em países civilizados é 25%. Uma coisa é juro real, outra é juro nominal. Como a inflação está mais baixa, o Brasil segue com a terceira maior taxa de juros do planeta. E a Selic é referência. Quem é que paga 4% quando faz um crédito? O Brasil tem o segundo spread bancário (diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar) do mundo, só ganha de Madagascar. É uma roubalheira.

Ouça a entrevista

Pela manhã, Boulos esteve na UFSC para apoiar a paralisação dos estudantes contra os cortes feitos pelo governo federal.

— Vi uma organização muito bonita dos estudantes por uma causa legítima. Os cortes esganam e comprometem o funcionamento de grandes instituições de ensino. Vai ter universidade que vai fechar em outubro por falta de dinheiro para bandejão, conta de água, taxa de luz, papel higiênico. Os estudantes e professores se levantarem contra isso é um exemplo de cidadania — elogiou.

O argumento fiscal não justifica os cortes, argumenta:

— É evidente que temos um problema de arrecadação no país. A questão é onde se corta, onde se gasta. Dizer que não tem R$ 6 bilhões para educação pública, que é o corte feito pelo MEC, que não tem R$ 300 milhões para pagar bolsa para ciência, e gastar quase R$ 15 bilhões em emenda parlamentar para comprar deputado para a reforma da previdência, então alguma cosia está errada.

Continua depois da publicidade

Boulos e Elson criticaram o projeto Future-se, apresentado pelo governo federal e rejeitado pela comunidade acadêmica da UFSC. Para eles, a proposta abriria caminho para a universidade pública cobrar por cursos de pós-graduação e até de graduação.

A presença de políticos, defende Boulos, não descaracteriza nem desmerece o movimento estudantil:

— O único movimento de massa que conheço no Brasil que não é político é o Carnaval. E olhe lá.

Ainda não é assinante? Assine e tenha acesso ilimitado ao NSC Total, leia as edições digitais dos jornais e aproveite os descontos do Clube NSC.