Enquanto alguns segmentos da indústria catarinense penam, o têxtil e de vestuário não tem muito do que reclamar. Lidera no saldo de empregos entre os segmentos da indústria, com 5271 postos de trabalho de janeiro a agosto. O de minerais não metálicos, com o pior desempenho do Estado, ficou com resultado negativo de 1400 vagas no mesmo período. Em agosto, do saldo de 1702 postos de toda a indústria estadual, 1021 vieram do subsetor têxtil e vestuário. Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). (Veja gráfico ao final do texto)

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SC tem saldo positivo de empregos pela primeira vez em seis meses

A explicação para isso, segundo o presidente do Sindicato da Indústria Têxtil de Blumenau (Sintex), Ulrich Kuhn, está justamente na crise. Por conta do câmbio, ficou caro importar vestuário.

—Os grandes magazines substituíram parte das importações por fornecedores nacionais e, com isso, especialmente as pequenas e médias empresas acabaram ganhando. Isso é principalmente por conta do vestuário – explica Kuhn.

Milhares de peças de roupas de grandes redes varejistas deixaram de ser compradas de outros países e principalmente da China. Em dólares, a importação brasileira de vestuário do país asiático foi 54% menor no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2015. No total, incluindo todos os países dos quais o Brasil importa, a redução foi de 47%. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

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Ainda de acordo com o MDIC, de janeiro a agosto o país importou US$1,5 bilhão a menos de têxteis – incluindo vestuário – ou 85 milhões de quilos. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) estimou, no início do ano, importação de 350 milhões de quilos a menos até dezembro caso o dólar se mantivesse em torno de R$3,50 o ano todo.

Após fechar 10 mil vagas em 2015, o segmento começou a apresentar resultados bons em janeiro deste ano. Mesmo com o fechamento de uma unidade da Hering e outra da Malwee, que cortaram 528 empregos no primeiro mês de 2016, houve 1069 mais contratações que demissões em todo o setor no Estado naquele período. Ou seja, a conta fechou no azul. Neste ano, o segmento apresentou só um resultado negativo, em junho, quando registrou 363 mais demissões que admissões.

Presidente da Abit aponta diferenciais do polo têxtil de SC

Além da substituição de importações, outras razões explicam o bom desempenho do setor na comparação com os demais segmentos industriais.

—O têxtil é o primeiro setor da indústria a entrar na crise, mas também é o primeiro a sair. Em 2013, tivemos saldo positivo de empregos de 23 mil vagas (em todo o país). Em 2014, foi de menos 21 mil e no ano passado foi de menos 100 mil. Agora, aos poucos, (o setor) começa a se recuperar – afirma Rafael Cervone Netto, presidente do Conselho de Administração da Abit.

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De acordo com Cervone, também contribuiu o fato de que havia muito estoque de 2014 para 2015 em todo o país. Com isso, a produção foi baixa no ano passado já que ainda havia necessidade de escoamento dos produtos estocados. Somente neste ano a produção voltou a ter mais força.

Em nível nacional, o setor teve bom resultado em agosto, fechou no positivo, com 2158 postos de trabalho, uma fatia importante do saldo de toda a indústria brasileira no mês, que foi de 6294 e ajudou na desaceleração do desemprego no país. Em todo o Brasil, o segmento é responsável por 1 milhão de empregos diretos, conforme dados da Abit.

—A indústria começa a sair do fundo do poço. Mas ainda vamos depender de vontade política – diz Cervone.