Em outubro do ano passado, 28 mulheres paraguaias foram libertadas do trabalho escravo nas cidades de Imbituba e Laguna. Entre 2007 e 2008, sete pessoas foram presas suspeitas de tráfico de mulheres vindas da Argentina para prostituição em boates em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí. Estes e outros casos serão abordados em um encontro, nesta quinta-feira, em Florianópolis.
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No evento nacional Oficina Redefinindo Paz – Tráfico de Mulheres e Violência Sexual, lideranças catarinenses se reúnem para debater o temas como a escravidão, venda de órgãos e exploração sexual comercial, das quais 85% das vítimas são as mulheres. O projeto organizado pela Associação Mulheres pela Paz terá a duração de dois anos e deve ocorrer em várias cidades do Brasil.
O evento é direcionado a lideranças, ONGs e universidades e segue até sexta-feira, das 9h às 17h30min. Nas oficinas e palestras, serão expostos casos de violência contra a mulher. Entre as palestrantes está Clara Charf, 87 anos, presidente da Associação Mulheres pela Paz, que começou seu trabalho como ativista em 1945, com protestos contra a bomba atômica. Na década de 1950, lutou contra o envio de soldados brasileiros para guerra da Coreia e viveu no exílio por quase 10 anos.
Outro palestrante, o delegado da Polícia Federal Ildo Rosa, participou de operações que evidenciam o problema no Estado e vai citar casos recentes. Um deles correu no final do ano passado, quando uma jovem permaneceu por 90 dias internada no Hospital Infantil Joana de Gusmão, com lesões pelo corpo que indicavam suspeita de prostituição e até mesmo de tráfico de órgãos.
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Durante o encontro, palestrantes farão um alerta para o problema que é a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo, ultrapassada apenas pelo tráfico de armas e de drogas. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o lucro anual do tráfico de pessoas chega a US$ 31,6 bilhões. O delegado Ildo Rosa alerta que, em Santa Catarina, o problema é real e preocupa as autoridades.
DC – Como normalmente funciona a proposta para que elas venham ao Brasil?
Ildo – A maioria delas alegam que seriam contratadas como empregadas domésticas, as despesas da viagem eram pagas e depois elas ficavam à mercê de pagar a dívida para poder voltar ao país de origem. Todas são constrangidas pela dívida e têm seus documentos retidos.
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DC – Há relatos de como essas mulheres eram forçadas ao trabalho escravo?
Ildo – Na operação Messalina, que ocorreu em 2008, em um grampo que fizemos no telefone, conseguimos identificar a coação em que a mulher que agenciava mandava bater em uma das meninas e depois estuprá-la.