‘É Carnaval,
E Joinville explode de felicidade
Tem pierrô, arlequim e colombina
No embalo da folia
Do jeito que o Rei mandou’
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Esses versos formam parte do samba-enredo da Dragões do Samba, uma das das seis escolas a desfilar na Avenida Beira-Rio, em Joinville, a partir das 21 horas deste sábado (10). Mais que uma homenagem à maior festa popular do Brasil, o tema serve de chamariz para que o poder público, empresários e a própria sociedade abracem o resgate da festa no município. Desejo compartilhado por todas as agremiações, que garantem: os Joinvilenses gostam de Carnaval.
A busca por maior apoio e os desafios para manter viva a tradição carnavalesca na cidade acontecem três anos depois que o Carnaval de Joinville teve seu auge, em 2015, quando reuniu mais de 30 mil pessoas no desfile das escolas de samba. Nos dois anos seguintes, a falta de recursos e de estrutura fez com que as comemorações na época mais festiva do ano fossem contidas.
Nesta noite a Diversidade, última campeã do Carnaval de Joinville, abre a folia com a intenção de mostrar a importância do evento como manifestação cultural, entrando na avenida com de cerca de 450 componentes, 15 alas e três carros alegóricos. Assim como em 2016 o desfile não é competitivo, mas a escola se preparou para dar ‘espetáculo’, segundo Rogério Souza Júnior, vice-presidente da agremiação. A ideia é usar o tempo de desfile para reafirmar o ‘compromisso de não deixar morrer na maior cidade de Santa Catarina a maior cultura do Brasil’, justifica.
Para isso, a escola vai destacar a trajetória de homens e mulheres com feitos extraordinários através do tema ‘Cada herói tem seu tempo, cada tempo tem seu herói’. Entre os homenageados estão figuras reconhecidas como Madre Tereza de Calcutá; Ayrton Senna e Santos Dumont. A Diversidade promete ainda uma surpresa ao fim do desfile com relação ao momento pelo qual o País passa.
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Resgate de antigos carnavais
Segunda a desfilar, a Dragões do Samba revisita o passado e versa com o presente do Carnaval, de Chacrinha à passagem dos trios elétricos, em um desfile colorido que deseja resgatar a tradição da folia na cidade. São cerca de 150 componentes dispostos em nove alas e duas alegorias em ‘O rei mandou cair na folia, Carnaval na Dragões é só alegria!’.
— Vamos levar para a Beira-Rio a história do Carnaval com o intuito de fortalecer essa cultura em Joinville. Em 2015 tivemos uma grande estrutura, já no ano seguinte não houve recurso e mesmo assim desfilamos, em 2017 não teve desfile. Se não fizéssemos o Carnaval de novo ele deixaria de existir em Joinville, então estamos unidos para que no ano que vem mude essa realidade — Müller Freitas, presidente da Dragões.
A perspectiva vai de encontro ao planejado pela Príncipes do Samba, terceira a passar pela avenida, às 23h, com 180 integrantes, 16 alas, uma alegoria e um tripé. Com a ‘Ilha encantada terra dos meus amores “São Francisco do Sul”‘, a escola reedita o enredo campeão do Carnaval de 1992, igualmente com o objetivo de levantar a popularidade da festa.
— Depois de dois anos sem Carnaval, decidimos sacudir a poeira e recuperamos esse enredo campeão, expondo as belezas naturais e a cultura popular da Ilha de São Francisco — salienta Edson Sestren, vice-presidente da azul e branca.
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Essa defesa pelas festividades na avaliação de Enelir Catarina Cardoso Machado, presidente da Fusão do Samba, está na manutenção da cultura popular. Segundo ela, mesmo sem verba e estrutura de anos anteriores, a escola decidiu ir para a avenida mostrar que a comunidade do samba ‘trabalha com amor e carinho para que a tradição não morra’.
A aposta da agremiação para lotar a avenida no desfile marcado para a meia noite de domingo (11), é abordar a contribuição do povo africano na formação do Brasil na dança, no esporte, na música e na gastronomia. Ao todo, são 200 participantes em cinco alas e uma alegoria em ‘FUSÁFRICA’ – o enredo deste ano.
Outra contribuição à história de Joinville é destacada pela Unidos do Caldeirão em dez alas e uma alegoria, que trazem ‘O caldeirão de tecidos e rendas de um homem visionário’ em homenagem ao empresário e político Hermann Augusto Lepper. Os cerca de 200 componentes da escola recordam os feitos do imigrante alemão que se estabeleceu na cidade ainda no século XIX. Lepper participou, por exemplo, da fundação dos bombeiros voluntários (1892), criou a fábrica Lepper (1907) e foi o primeiro presidente da Associação Empresarial de Joinville (ACIJ).
Escola de samba mais antiga do município, a Acadêmicos do Serrinha, em atividade há 45 anos, encerra os desfiles contando a história do bairro Saguaçu – antes conhecido como Serrinha. ‘No colorido das flores viajei’ também fala das flores, cultivo tradicional em Joinville, por meio de seis alas e com participação de 150 pessoas.
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ESCOLAS DESEJAM MAIOR APOIO DA CLASSE EMPRESARIAL E DO PODER PÚBLICO
Os desafios de manter vivo o Carnaval de Joinville aumentam com a falta de recursos e de apoio tanto da classe empresarial quanto do poder público, na percepção dos representantes das escolas de samba da cidade. O fortalecimento da Liga das Entidades Carnavalescas de Joinville (Lecaj) é tido, por eles, como primordial para a manutenção e o crescimento das festividades nas próximos anos.
Rosa Maria de Oliveira, presidente da Acadêmicos da Serrinha, aponta que o Carnaval faz parte da cultura nacional e receber apoio para a realização do evento é necessário porque a festa popular ajuda no enriquecimento cultural dos cidadão, além de estimular a criatividade por meio da música e da confecção de fantasias.
— Os desafios são grandes pois não é fácil fazer carnaval numa cidade com cultura e festas germânicas, mas seguimos em frente porque acredito que há espaço para todos. Estamos trabalhando para mostrar que Carnaval não é uma bagunça, mas sim um meio de levar alegria e diversão para a população — reitera.
Conforme os dirigentes da Fusão do Samba, a garantia de contribuição por parte dos empresários não é exclusivamente por recursos financeiros, mas para ampliar o respeito à tradição e estimular a manifestação cultural dos cidadãos. Além de despertar o interesse da iniciativa pública e privada, as agremiações também afirmam que é preciso investir mais na produção dos desfiles.
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— É importante não só conquistar o setor privado como as próprias escolas devem trabalhar com antecedência para manter essa tradição. Em Joinville começa-se a falar de Carnaval somente em outubro ou novembro, mas assim que ele acaba, em março, já deve ser iniciada a preparação para o ano seguinte — diz o carnavalesco Müller Freitas.
A máxima é seguida por dirigentes de outras escolas como a Diversidade, que acredita que para aumentar o apoio público e privado é preciso que as comunidades tenham força e sustentabilidade para registrar crescimento. ‘Não adianta vender uma ideia para ter apoio maciço do poder público e das empresas e a comunidade não estar preparada para fazer acontecer’, sintetiza.
Este caminho é o mesmo trilhado pela Unidos do Caldeirão, de acordo com o presidente da escola, Jucélio Narciza.
— Manter viva uma tradição traz também uma questão muito importante para a sociedade, que é a postura, a disciplina e o respeito de ter um grupo que possa estar trabalhando em prol da comunidade e para que todos se sintam parte da escola, compartilhem bons momentos e construam juntos um time é preciso ter atuação, ter presença — afirma.
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Participação social
O engajamento junto aos moradores é feito por representantes das escolas por meio de promoções, eventos e workshops culturais ao longo do ano para agregar pessoas e ter subsídios para dar continuidade ao legado do Carnaval em Joinville. A Unidos do Caldeirão, por exemplo, possui um grupo que ministra oficinas de dança e música, garimpando novos talentos na região.
A Príncipes do Samba mantém um calendário de atividades que conta com a tradicional galinhada da tia Fioca, da velha guarda da escola, além de arraiá e baile natalino. No Ulysses Guimarães, onde está inserida a Dragões, são desenvolvidos projetos como a escolinha de bateria para formação de novos ritmistas. O mesmo é seguido pela Diversidade, que promove ações solidárias e realiza aula de fanfarras e instrumentação na Escola Municipal Amador Aguiar, também na Zona Sul.
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