Ao menos 20 criminosos integrantes de uma facção de São Paulo estão por trás do sequestro da mulher de 32 anos moradora de Florianópolis libertada pela Polícia Civil de Santa Catarina no último sábado. A vítima é esposa de Rocelo Lopes, um dos principais empresários do mercado financeiro do ramo de câmbio digital do País e comercializador de bitcoins, a quem os bandidos exigiam R$ 115 milhões em moedas digitais.
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Lopes participou de uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, na Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis, onde policiais revelaram detalhes do sequestro. Natural do Ceará, ele contou que o casal reside em Florianópolis desde 2015, cidade escolhida pela mulher para mudarem justamente pela suposta tranquilidade da Capital catarinense.
— Ela está bem. Houve violência psicológica, ameaças, perguntaram se ela queria que cortassem o cabelo ou o dedo. Vamos ter que fazer algumas mudanças, mas apesar disso eu ainda me sinto seguro em Florianópolis — resumiu Lopes.
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O empresário agradeceu o empenho da polícia no caso e também as tentativas de acalmá-lo entre o meio dia de quarta-feira e o começo da tarde de sábado, período em que a mulher esteve nas mãos de sequestradores. Ela foi levada por seis homens na Lagoa da Conceição no começo da tarde de quarta após deixar a filha na escola.
Responsável pela investigação, o delegado da Deic, Anselmo Cruz, disse que os criminosos a levaram de carro para São Paulo, onde ficou trancada em uma casa no bairro Cangaiba, zona Leste da capital. O imóvel era gradeado, uma “gaiola” como comparou o delegado, que tinha como função sediar eventos e que acabou sendo usado por sequestradores como cativeiro.
Os sequestradores fizeram o primeiro contato com Lopes às 15h de quarta-feira. Segundo ele, os criminosos eram sem noção e exigiram valores absurdos e impossíveis de serem comprados em pouco tempo nesse tipo de mercado. Os pedidos foram em moedas Zcash e Monero, as quais seriam irrastreáveis.
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“Resgate inédito em moedas virtuais”
A polícia catarinense apontou esse tipo de pagamento de resgate em moeda digital como inédito no Brasil, o que gerou ainda mais dificuldades. Um bitcoin equivale a R$ 4,6 mil. Esse mercado ainda não está regulamentado no país, segundo Lopes, que vê a necessidade de as autoridades buscarem o controle para evitar que acabe sendo alvo dos criminosos.
— Em minutos depois do pagamento digital eles poderiam transformar as moedas em dinheiro vivo em algum país — relatou o empresário.
Vigia do cativeiro foi preso
Ao descobrir o paradeiro da mulher na investigação, a Deic estourou o cativeiro e a libertou com vida. Foi preso no local Edmar Rodrigues Lourenço, de Juazeiro do Norte, no Ceará, que havia viajado há pouco tempo para SP. A polícia não revelou se os criminosos conheciam ou tinham contato com o empresário e a mulher dele, apenas que os sequestradores relataram terem rastreado o alvo por nove meses.
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Os contatos entre os bandidos e o empresário eram por WhatsApp e telefone. Num deles, a mulher conversou com o marido como prova de que estava viva.
Bandidos de outros Estados em SC
Quadrilhas de outros Estados têm agido em crimes graves em Santa Catarina nos últimos anos. A Deic ressaltou que isso vem acontecendo, por exemplo, em roubos a bancos com a atuação de bandos do Rio Grande do Sul e Paraná no interior em explosão de caixas eletrônicos ou fazendo reféns na frente das agências, na modalidade conhecida como “Novo Cangaço”.
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Em 2012, uma quadrilha de Minas Gerais foi identificada e presa pela polícia como a responsável por um assalto seguido de sequestro do gerente do Banco do Brasil da Lagoa da Conceição.
Desta vez, a facção que agiu contra a família do empresário em Florianópolis é a mesma que tem base em São Paulo e vem travando duelo sangrento em Santa Catarina com a facção estadual local na disputa por pontos de tráfico de drogas.
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