Dois jogos. Duas finais. Os dois maiores rivais. Em uma semana, Filipe Luis terá dois dos maiores desafios da carreira. Neste sábado, às 13h, o Atlético de Madrid precisa de um empate contra o Barcelona, no Camp Nou, para voltar a ser campeão espanhol depois de 16 anos. Se perder, o título fica com os catalães. No próximo sábado, dia 24, o lateral-esquerdo estará em Lisboa, local da final da Liga dos Campeões, onde os Colchoneros disputarão com seu maior rival, o Real Madrid, a consagração inédita como o melhor time do continente.
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Independentemente dos resultados dessas partidas, não há como negar que Filipe Luis foi o futebolista catarinense da temporada. Natural de Jaraguá do Sul, o lateral-esquerdo revelado pelo Figueirense é titular absoluto do Atlético, que se tornou a sensação da Europa devido às campanhas surpreendentes nas duas principais competições de disputou neste ano. Dos 59 jogos do clube, Filipe esteve em campo em 47 deles. Ele é homem de confiança do técnico Diego Simeone, que adora a eficiência defensiva e a qualidade no passe do lateral. O ano está sendo tão bom que seu nome já aparece em rumores de transferências para grandes potências do futebol europeu. Só faltou a convocação para a Copa – Filipe está entre os sete suplentes para emergências -, mas o doblete em cima dos principais rivais seria uma excelente compensação. De Madri, Filipe Luis conversou por telefone com o Diário Catarinense sobre a incrível temporada do Atlético, as finais que estão por vir, Seleção Brasileira, o momento do Figueira e a polêmica envolvendo Diego Costa.
Diário Catarinense – O Atlético de Madrid é a sensação da temporada na Europa. Por quê?
Filipe Luis – O Atlético de Madrid achou uma maneira de jogar. É um time grande que joga como time pequeno, todos correm e ajudam na marcação. Os atacantes são os primeiros que ajudam a defender. É um time compacto e que não tem vaidades, esta é a principal característica. Ninguém quer ser mais importante que o outro. Isso faz com que o time seja solidário e que todos corram dentro do campo.
DC – Qual a importância do técnico Diego Simeone para essa característica de jogo?
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Filipe – Na minha opinião, o Simeone foi quem fez esse projeto funcionar. Ele chegou aqui (em 2011), pegou a equipe na zona do rebaixamento e mudou completamente a maneira de pensar do time. Transformou um time que jogava mais bonito, com toque de bola, em uma equipe com muita raça, competitiva, com vontade de ganhar da maneira que for. Isso foi o que mudou o pensamento de cada jogador que estava aqui.
DC – Você está no Atlético desde 2010. O que mudou desde então?
Filipe – Quando cheguei aqui, o Atlético era um clube com muitas dúvidas, que não conseguia manter uma sequência de vitórias, perdia jogos inacreditáveis, quase ganhos. Até mesmo porque confiava demais na qualidade dos jogadores. Acho que o que mudou é que ninguém confia só na qualidade. O que vem antes de tudo é a intensidade dentro do campo. Se um jogador estiver mal, não estiver rendendo, estiver dormindo, ele sabe que vai ser o primeiro substituído, ou vai para o banco. Isso faz com que todos estejam à vontade e corram muito sempre.
DC – Liga dos Campeões. O Real Madrid tem o elenco mais caro e badalado. O Atlético venceu uma e empatou outra com o rival nesta temporada. Você acha que tem favorito na final?
Filipe – Obviamente, o Real Madrid é o favorito. O Real tem um orçamento de 500, 600 milhões de euros, tem um time formado praticamente todo por jogadores de mais de 30 milhões de euros em cada posição. Por isso eles são favoritos. Mas em uma final de um jogo só, em campo neutro e que ainda é um clássico, pode acontecer qualquer coisa. O principal para essa final é saber que, embora o Real seja favorito, em 90 minutos pode acontecer qualquer coisa.
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DC – O que o Atlético precisa fazer para vencer o Real?
Filipe – Tem que jogar da mesma maneira dos jogos do Espanhol. Um time compacto, defendendo forte, agressivo, mas não violento, tentando neutralizar principalmente as chegadas pelas laterais. Por lá eles têm muita velocidade, tanto com o Cristiano Ronaldo quanto com o Bale, que são jogadores com muita potência que chegam fácil na linha do gol.
DC – Como você é lateral, Cristiano ou Bale devem cair do seu lado. Provavelmente o Bale. Como encarar esse duelo?
Filipe – No futebol europeu, isso acontece praticamente em todas as partidas. Não só contra o Real Madrid, na maioria dos clubes que jogam com pontas abertos fica um duelo pessoal com os laterais durante 90 minutos. Já não é a primeira vez, deve ser minha 20ª partida contra o Real e é sempre a mesma coisa – sempre jogadores rápidos, bons no um contra um. É preciso estar sempre atento, não deixar receber a bola, para que eles não consigam ir à linha de fundo.
DC – No Espanhol, para vocês serem campeões, precisam de um empate contra o Barcelona, que ainda não conseguiu vencer o Atlético em seis partidas nesta temporada. Há motivo para otimismo?
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Filipe – A gente sabe que o Barcelona tem um time que talvez seja o que tenha maior qualidade no mundo, um time que não perde a bola nunca. Mas ao mesmo tempo eles sabem que nós somos um time incômodo porque não fazemos o jogo passivo. Nós conseguimos ser agressivos sendo fortes na marcação. Isso faz com que eles não gostem de jogar contra a gente. Agora, no campo deles e em um jogo que vale tudo, não vai ser fácil. A partida será decidida nos detalhes. Qualquer mínimo erro pode definir. Vamos tentar jogar com as linhas juntas, tanto os quatro de trás quanto a linha de volantes e pontas, porque o Barcelona leva muito perigo pelo meio.
DC – Com a combinação de resultados, vocês poderiam ter sido campeões na última rodada, mas acabaram empatando com o Málaga. O grupo sentiu algum baque pela chance desperdiçada?
Filipe – É sempre complicado ganhar na Liga Espanhola. É óbvio que todos gostariam de ter vencido a Liga e entrar em campo contra o Barcelona relaxados. Mas no futebol nada é fácil, tudo tem um sofrimento para ser alcançado. O time do Málaga estava jogando solto, veio aqui sem responsabilidades, e nós tínhamos que ganhar para conquistar o título. Esse peso fez com que o time não jogasse como vinha jogando e acabamos empatando em casa. Agora vai ser decidido lá no campo do Barcelona e quem ganhar será por merecimento, até porque a campanha do Barcelona foi espetacular o ano inteiro.
DC – Você esteve na lista da Copa das Confederações, mas acabou ficando fora dos 23 convocados para a Copa do Mundo. Por que você acha que isso aconteceu? Filipe – É uma opção tática do Felipão e eu respeito 100% a decisão dele. Como brasileiro, só me resta vestir a camisa e torcer pelo Brasil.
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DC – Você está entre os sete jogadores da lista de substitutos, o que gera uma situação inusitada: você só irá a Copa se Marcelo ou Maxwell se lesionarem. Como é lidar com isso?
Filipe – Estando fora dos 23, eu já me considero fora da Copa. Em nenhum momento eu quero que o Maxwell ou o Marcelo se machuquem. Para mim, eles são muito importantes como amigos e espero que eles possam ir para essa Copa e conseguir esse título. Eu jamais ficaria feliz com uma lesão de um amigo meu, como eles dois são.
DC – Seu nome está sendo vinculado em rumores de transferência para equipes como Chelsea e Monaco, por exemplo. Há alguma verdade nisso? Houve alguma proposta?
Filipe – Até acabar a temporada tudo são rumores. Nunca um jogador assina contrato ou negocia uma transferência antes de acabar a temporada. Quase todos os anos isso acontece, chegam propostas e rumores. Eu tenho muitos anos de contrato com o Atlético e só sairia se o clube realmente quisesse que eu fosse embora.
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DC – Como o Atlético tem sido uma sensação nesta temporada, outros atletas do clube passam pela mesma situação. Você enxerga na diretoria uma intenção de segurar a base do time?
Filipe – Eu acho que o clube vai fazer um grande esforço para manter todos os jogadores. Eles já conseguiram fazer isso nos anos anteriores. Sei que foi complicado para o clube, que teve que fazer um esforço econômico muito grande para manter a base titular. E eu acho que vai conseguir manter a mesma base porque tudo que alcançamos até agora foi com o mesmo time, a mesma base.
DC – Você tem acompanhado o desempenho dos catarinenses no Brasileirão?
Filipe – Sim, eu sempre acompanho o Figueirense. No outro dia eu vi também o Criciúma, que não teve um resultado muito bom fora de casa (goleada por 6 a 0 para o Botafogo). Mas eu quase sempre sigo o Figueirense, que foi o clube que me revelou e eu tenho um grandíssimo carinho por todos que estão lá. Espero que eles consigam ter uma grande temporada. O início não está sendo dos melhores, mas eu não tenho dúvida de que vai conseguir continuar na Série A.
DC – O Figueirense venceu o Catarinense, mas começou mal o Brasileiro, demitiu o técnico e ainda está sem vencer. Você tem uma opinião sobre os motivos desse início ruim?
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Filipe – Em 2003, quando eu estava no Figueirense, aconteceu a mesma coisa. A gente ganhou o Catarinense e, logo nos primeiros jogos da Série A, com o técnico Vágner Benazzi, o time sofreu e acabou perdendo vários jogos, empatando em casa, e estava em último. A torcida estava contra o time. Mas eu acredito que no Brasileiro, que é um campeonato diferente de qualquer outro do mundo, é melhor começar mal e acabar bem, do que começar bem, o time relaxar e acabar mal. É bom que aconteça isso agora no comecinho porque ainda tem tempo para recuperar, para contratar jogadores e melhorar. Fazendo isso, não tenho dúvida que o time vai encontrar a maneira de ganhar jogos, embalar e conseguir os pontos necessários para ficar na Primeira Divisão.
DC – Você é companheiro de Diego Costa. Como ele está vendo esta questão de disputar a Copa do Mundo no Brasil com a camisa da Espanha?
Filipe – É difícil falar por outra pessoa, mas ele é um cara com um coração enorme, que sofreu muito para chegar onde chegou. Muito mesmo. Eu acompanhei a carreira dele desde o comecinho e ele conseguiu tudo sozinho. Ele sabe que é o jogador mais importante na Espanha, a grande referência da seleção, e que vai poder ajudá-los muito. Eu acho que vai ser especial, não só por jogar a Copa, mas por ser no Brasil. Vai ser difícil, mas, como eu falei, como ele conseguiu tudo com muito sofrimento, não tenho dúvida de que vai ter muito sucesso pela Espanha.
DC – E como ele lidou durante aquele período de decidir entre Brasil e Espanha?
Filipe – Eu poderia falar que foi um período difícil para ele. Foram muitas ligações, muita gente opinando e dando palpite em uma decisão pessoal. Mas ele escolheu com o coração, escolheu com frieza. É muito difícil dizer não para o país em que você nasceu e escolher outro, mas ele escolheu o que achava melhor para a carreira dele profissionalmente. Como falei, ele se sente mais importante jogando pela seleção espanhola e eu acho que no futebol você se sentir importante é fundamental. Então, não tenho dúvida que o Diego tomou a decisão correta para ele. Espero que ele consiga ter sucesso. ?
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FICHA TÉCNICA?
Filipe Luis Kasmirski
Data de nascimento: 9 de agosto de 1985 (28 anos)
Naturalidade: Jaraguá do Sul, Santa Catarina
Posição: lateral-esquerdo
Altura: 1m83cm
Clubes na carreira:
Figueirense: 2003-2004
Ajax (Holanda): 2004 – 2005
Real Madrid B (Espanha): 2005 – 2006
Deportivo La Coruña (Espanha): 2006 – 2010
Atlético de Madrid (Espanha): desde 2010
Seleção Brasileira: quatro jogos
Títulos:
Catarinense: 2003 e 2004
Holandês: 2004
Supercopa da Holanda: 2004
Supercopa da Europa: 2010 e 2012
Liga Europa: 2012
Copa do Rei: 2013
Copa das Confederações: 2013