Embargos em obras originariam os pedidos de propinas, e o inquérito da Operação Dupla Face revela situações que agentes públicos teriam cobrado pela liberação de projetos. O advogado André Xavier e o ex-procurador-geral de Itajaí Rogério Ribas teriam pedido, em 2013, R$ 200 mil a uma construtora de Itajaí para aprovação de um empreendimento. A negociação teria sido intermediada pelo empresário Wanderley Kuhn, também indiciado. A mesma construtora foi supostamente vítima do esquema pelo menos outras duas vezes neste ano, ambas para cancelar o embargo das obras de um edifício. O primeiro pedido seria de um apartamento e R$ 80 mil. O segundo, de R$ 30 mil à vista e mais 10 parcelas de R$ 12 mil.
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André Xavier, de acordo com o inquérito, também teve momentos no outro lado do esquema. Ofereceu e pagou, segundo a polícia, a Rogério Ribas e a Sérgio Ardigó parte dos honorários que recebeu de uma empresa para garantir que o valor de uma compensação arbitrada em Termo de Ajuste de Conduta, em relação a irregularidades em um empreendimento, fosse “drasticamente reduzida”. Em outras duas ocasiões Xavier teria pago a Rogério Ribas e a Sérgio Ardigó um total de R$ 25 mil para desmembramento de imóvel e aprovação de um condomínio fechado em Itajaí.
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Pedir vantagens em troca de agilizar pagamentos é a principal acusação contra o vereador Douglas Cristino (PSD), então secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão. Ele foi indiciado por ter, segundo a polícia, recebido de uma construtora, em junho deste ano, R$ 8 mil para agilizar o pagamento pelos serviços da empresa à prefeitura.
Douglas também teria pedido vantagens para liberar eventuais aditivos a uma outra incorporadora responsável por obra pública – caso em que teria, de acordo com o inquérito, obtido “ajuda” da irmã, Elaine Cristino da Silva.Por fim, junto com o então secretário de Habitação, Sadi Pires, Douglas é suspeito de ter cobrado o valor de
R$ 30 mil para agilizar o pagamento de indenização que uma empresa cobrava da prefeitura, no valor de R$ 260 mil. Edson Dognini, assessor de Douglas Cristino, teria participado dos pedidos de propina.
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Já Sérgio Ardigó, então coordenador técnico da Secretaria de Urbanismo de Itajaí, seria o responsável por detectar supostas irregularidades em projetos que estavam em análise. Indicava, então, os serviços do escritório de advocacia do procurador-adjunto do município, Ricardo Bittencourt, ou repassava os contatos dessas empresas e o municiava de informações privilegiadas. Em troca, recebia parte dos honorários a serem cobrados das construtoras.
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A indicação de uma empresa de consultoria de sua propriedade, para agilizar processos na Secretaria de Urbanismo, também é suspeita que recai sobre o vereador Afonso Arruda. O esquema contaria, segundo a polícia, com a colaboração de Sérgio Ardigó. O envolvimento entre os dois também teria ocorrido por meio do pagamento de R$ 15 mil em propinas, para que as respostas da Secretaria de Urbanismo a questionamentos feitos pelo Ministério Público sobre um empreendimento estivessem de acordo com o que determinasse o vereador – afirma o inquérito.
Arruda também é suspeito de ter protagonizado, junto com Flávio Mussi, empresário que respondeu pela Secretaria de Urbanismo no governo Volnei Morastoni (PMDB), o recebimento de terrenos de uma incorporadora em troca de agilização do projeto da empresa na prefeitura. Esse suposto crime rendeu aos dois, e também aos filhos de Mussi, o indiciamento por lavagem de dinheiro.
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