Eram 4h20min da madrugada de sábado quando cinco homens armados quebraram a porta da casa de Roberto Carlos Padilha, na rua João Izídio de Souza, bairro Serraria em São José, e dispararam 18 tiros. O pedreiro de 46 anos era conhecido na comunidade José Nitro como uma pessoa de bem e que ajudava todo mundo. Padilha morava há 20 anos no bairro e vivia com a mulher, Clarisse Costa dos Santos, de 44 anos, que sofreu ameaças. O assassinato é uma amostra da violência gerada pela guerra entre duas facções criminosas que tem transformado a rotina no bairro num inferno.

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Segundo a Polícia Militar, por causa de conflitos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) na região, famílias têm sido expulsas para que novos membros das facções ocupem o território.

A viúva contou à polícia que o marido havia levantado para ir ao banheiro quando os homens armados arrombaram a casa e dispararam contra ele.

— Está cada vez pior. E temos poucos efetivos para cuidar de São José inteira, que é grande — lamenta o agente policial Ricardo Cavalcanti, da Delegacia de Polícia do município.

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Por telefone, Clarisse contou que eles tinham acabado de trocar a casa e estavam prestes a se mudar.

— Vinte anos morando aqui, isso nunca aconteceu. Vai fazer dois meses que o bairro está um inferno. Todo mundo está saindo, abandonando as suas casas. E depois não deixam mais voltar. A polícia não dá conta e até o cachorro da PM mataram — contou, ainda em estado de choque.

Ela agora teme a própria vida e tem medo de ir buscar a mudança. O corpo de Roberto Carlos Padilha foi encaminhado para o Instituto Geral de Perícias (IGP), em Florianópolis, e será transladado para a cidade natal, Xanxerê, no Oeste.

Vizinhança tem medo de falar sobre guerra entre PCC e PGC

Depois que o dia amanheceu, o clima é de consternação e medo no bairro. A vizinhança, quando questionada sobre o problema do tráfico e das constantes brigas entre as facções, prefere não se manifestar.

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— Aqui ninguém sabe, ninguém viu — disse uma moradora, que preferiu não se identificar.

A casa em que Roberto Carlos Padilha morava ficava já na área de morro da rua João Izídio de Souza. Segundo um vizinho, a parte de cima é território de uma fação, a de baixo de outra.

— Tem um pessoal de São Paulo que veio. Mas a gente nem sabe quem são. A gente trabalha e nem sabe dessas coisas. O Roberto era trabalhador também, não era envolvido com nada. Os bandidos achavam que ele era cagueta, é a gíria que eles usam para dedo duro, para quem denuncia para a polícia. Mas ele nem sabe das coisas — lamenta dona Kátia, tia do pedreiro que mora na região.

Próximo à Avenida das Torres, pichação em muro das siglas do PGC e PCC denunciam a disputa entre os grupos rivais.

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