A definição de crime organizado não é exagero quando faz referência à atuação de uma das maiores facções do país em Joinville. Investigações da Polícia Civil, iniciadas em meio à escalada de homicídios na cidade, revelam a arquitetura complexa do chamado Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo que teve origem nas cadeias de São Paulo e hoje disputa território com o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) em SC.
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Para fazer frente à facção de Santa Catarina, o PCC soma forças a partir de uma estrutura ramificada entre funções de alto comando, como na escolha de advogados para defender o grupo, até papéis de menor hierarquia, como na prestação de assistência a faccionados dentro das prisões.
Cada posto tem nome e atribuições definidas, incluindo atividades voltadas às finanças e à inclusão de novos membros no grupo, lembrando a organização de uma empresa comum. O principal negócio é o tráfico de drogas. A reportagem teve acesso a detalhes de duas ações criminais que apuram a rivalidade crescente entre o PCC e o PGC em Joinville.
Juntos, os processos somam quase 90 réus, entre acusados que já estão presos e suspeitos ainda em liberdade. As denúncias, formuladas pelo Ministério Público e recebidas pela Justiça no final do ano passado, têm como pano de fundo o histórico recente e recordista de homicídios na cidade. Foram registrados mais de 250 assassinatos entre 2015 e 2016.
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“Há emJoinville uma disputa entre organizações criminosas para controle do tráfico de entorpecentes (Primeiro Comando da Capital e Primeiro Grupo Catarinense). A contenda entre facções tem estreita ligação com o aumento de crimes contra a vida nesta urbe. Além disso, os grupos criminosos cometem ações criminosas relacionadas ao tráfico de drogas e roubos a fim de conseguir recursos para a manutenção da organização e seu empoderamento bélico”, aponta um dos processos.
A juíza Karen Francis Reimer, titular da 1ª Vara Criminal de Joinville, onde tramitam os processos, acrescenta que parte das mortes ocorre dentro das próprias facções.
—Há casos de disciplina dentro da organização. Quando, por exemplo, um traficante fica devendo para a organização criminosa e não paga, e também casos em que o faccionado delata um companheiro do crime. E, problema ainda maior, são as mortes colaterais, como os inocentes que morrem com bala perdida. Tivemos vários homicídios nesta situação ano passado — alerta.
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Um dos desafios das ações criminais envolvendo organizações criminosas, completa a juíza, é o grande volume de provas a serem analisadas, além da constante alteração das funções de cada indivíduo na organização.
Por meio de interceptações telefônicas e outros métodos de monitoramento, a polícia identificou ordens expressas para a execução de integrantes das facções rivais. O trabalho de investigação ainda faz menção a uma terceira facção, o Primeiro Comando Revolucionário Catarinense (PCRC), praticamente nunca mencionado pelas autoridades de segurança no Estado, apontado como aliado do PCC.
Uma das investigações, que veio à tona na operação Leviathan, em setembro do ano passado, também revelou a engenhosidade dos criminosos: um dos investigados, que tinha formação em direito, se passava por advogado e prestava assessoria jurídica aos demais acusados antes mesmo da prática dos crimes. Para isso, contava com o auxílio de um verdadeiro advogado, também denunciado na ação criminal.
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Entre os nomes apontados como mandantes do PCC estão Rodrigo Geraldo Pereira, o “Killer”, que já tem condenação por homicídio e esteve foragido no Paraná até ser preso em março do ano passado, e Claudinei Rengel, o “Samurai”, preso um mês antes. Apesar das baixas, as investigações apontam que outras lideranças vieram à tona e deram continuidade às atividades da organização após as prisões.
Por enquanto, os processos não têm sentenças porque os réus ainda precisam ser ouvidos. Como muitos acusados estão ou estavam detidos em unidades prisionais fora de Joinville e até em outros Estados, a tramitação é mais demorada. A reportagem apurou que há pelo menos mais duas ações voltadas a facções criminosas em curso na Justiça em Joinville. Detalhes não são divulgados porque os processos correm em sigilo.
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