Quando tinha 12 anos, Rodolfo Gehrmann – que havia apenas dois anos mudado de São Bento do Sul para Pirabeiraba – ganhou a primeira bicicleta de sua vida, uma Monark 1951 vermelha, que pagou ao pai com o salário que ganhava na Terraplenagem Rudnick. Era seu próprio mecânico – trocava raios do aro, consertava pneus, colocava correntes no lugar e por aí vai.

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Nada muito diferente de tantos outros garotos mundo afora, se não fosse pelo fato de que Rodolfo transformou a diversão em negócio, depois em profissão e, por fim, em obsessão. Quase seis décadas mais tarde, aquela Monark transformou-se em 310 bicicletas e motos de vários momentos do século 20, uma coleção que até faria Joinville ostentar novamente, toda orgulhosa, o título de “Cidade das Bicicletas”.

O extraordinário acervo do senhor de 70 anos está caprichosamente exposto em dois grandes galpões que, juntos, compõem o Museu Duas Rodas, situado no final do asfalto da Estrada Bonita, no Rio Bonito. A organização do lugar explicita a paixão do proprietário pelo que juntou numa vida inteira e, também, o sonho que realizou há pouco mais de um ano.

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Cada peça exibe a marca, o país de origem e o ano de fabricação. Tudo em ótimo estado, e no que diz respeito às 150 motos, metade delas está funcionando. Estão lá, por exemplo, uma bicicleta alemã Göricke, de 1926, e uma moto Müele, também alemã, de 1932, os dois exemplares mais antigos da coleção. O “grosso” dela, porém, vem do período pós-2ª Guerra Mundial, quando a Europa iniciou a produção de motos e bicicletas em larga escala – no Brasil, isso só teve vez a partir dos anos de 1960, e a importação era o mais comum até então.

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Claro que Gehrmann tem seus xodós, como os cerca de 50 modelos suecos dos anos 1950, segundo ele, “o Cadillac das bicicletas, por causa da beleza e do valor delas”. Em outro canto, ele ostenta em torno de 30 lambretas reluzentes, arrematadas em um leilão da Prefeitura de Joinville nos anos de 1980. Nada, porém, que se compare a um lambrecar de 1960, uma espécie de triciclo com cabine e carroceria de madeira, fabricado na Itália, que ele considera “a menina dos olhos do museu”.

O galpão ao lado é um pouco menor, mas promove uma viagem no tempo tanto quanto. Motores, peças, ferramentas e objetos típicos da nostalgia – telefones, TVs, instrumentos agrícolas, copos, placas, eletrodomésticos – remetem o visitante a uma época conhecida como século 20. Há ainda outras 40 motos e bicicletas aguardando restauração na oficina de Gehrmann em Pirabeiraba, onde esta história sobre duas rodas efetivamente começou.

Bom negócio

A experiência com as engrenagens de motos e bicicletas (e eventuais negociações) na juventude levaram Rodolfo Gehrmann a abrir uma loja/oficina em 1972, no coração do distrito joinvilense. Era uma época em que ter carro era um luxo de poucos, então cada família possuía quatro, cinco, seis bicicletas para ir e voltar de seus afazeres. O que acontecia é que muitas pessoas trocavam até três “zicas” por um modelo novo, o que acabou se tornando um ótimo negócio para o colecionador.

– Eu tinha dó de que as bicicletas fossem para a sucata, o que acontecia com 80% delas na época. Então tive essa visão de que elas iriam valer alguma coisa no futuro – conta ele, que, mais recentemente, viu sua previsão se concretizar com o sucesso de programas do tipo Caçadores de Relíquias.

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Não só pela loja, mas pela fama crescente de sua ânsia por mais e mais motos e bicicletas, Gehrmann viu vizinhos e desconhecidos baterem em sua porta oferecendo exemplares. Alguns em troca de centavos, outros, para se verem livres do “entulho”. Em várias ocasiões, sua busca o levou a outras cidades, onde modelos raros e parados aguardavam resgate. Em algum tempo, a casa e o comércio de Rodolfo estavam repletos de preciosidades sobre duas rodas.

– Quantos sábados e domingos eu e minha esposa passamos consertando as bicicletas. Minha ideia sempre foi montar um museu, mas não sabia se chegaria lá, por causa dos custos – conta.

Os altos e baixos do comércio o fizeram esperar 40 anos para literalmente erguer seu sonho. Há cerca de três anos, no mesmo terreno na Estrada Bonita onde possui um restaurante, Rodolfo começou a construir os dois galpões – as vigas de eucalipto saíram de sua plantação. Foram oito meses para instalar o acervo.

Enfim, no dia 30 de julho de 2016, o Museu Duas Rodas abriu as portas. E assim o faz aos sábados, domingos e feriados, das 10 horas às 18 horas. O ingresso custa R$ 10. Segundo Gehrmann, a visitação tem sido em torno de cem pessoas por final de semana, muito por causa da divulgação nas redes sociais. Mas não pense o leitor que, com o desejo do museu realizado, ele parou de acrescentar itens a sua já imensa coleção:

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– Volta e meia chega alguém com alguma antiguidade, e dou um almoço se ela vale a pena –diverte-se.

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