Em uma região de árvores de copas altas e presença abundante de água fica a Reserva Biológica Estadual Vale das Nascentes. Situada a 46 quilômetros do Centro joinvilense, é refúgio para espécies variadas de vegetação e animais. A unidade de conservação deve ser criada oficialmente em breve e será o primeiro espaço estadual desta categoria na cidade. Com ampla cobertura florestal nativa, a área representa a preservação integral da natureza para as futuras gerações.

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Ali, pássaros, insetos e até plantas ameaçadas de extinção encontram habitat seguro, com a mata bem conservada e dois rios importantes para a região Norte catarinense que margeiam a reserva. O rio Ricardo, por exemplo, tem a cabeceira dentro da unidade, já o do Júlio corre de Norte a Sul em toda a extensão. A proteção da biodiversidade da fauna e flora, assim como dos mananciais hídricos presentes no local são critérios fundamentais para demonstrar a importância da criação desta área.

Se desenvolvendo nesse espaço, há dois tipos de árvores que podem ser extintas. Alguns cedros, de tronco rugoso e encorpado, crescem altos entre outras plantas. A vegetação foi explorada na época da extração madeireira, ocorrida até a década de 1970. Atualmente, está na categoria de vulnerabilidade, de acordo com o Ibama, podendo alterar para a modalidade de perigo se as condições de ameaça não diminuírem. O Xaxim, que também está prejudicado, é encontrado nos locais mais úmidos, e demora cerca de cem anos para crescer um metro.

– Existem estudos bióticos da fauna e da flora que mostram uma grande diversidade. Para mantermos isso para as futuras gerações, precisamos criar este espaço territorial e de uso restrito – explica Luciano Bonotto, geógrafo do Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina.

Dois rios passam pela região, o rio Ricardo e o rio do Júlio
Dois rios passam pela região, o rio Ricardo e o rio do Júlio (Foto: Salmo Duarte / A Notícia)

Outro fator que demonstra a importância da preservação da reserva é a conexão florestal com outras áreas de proteção e de verde nativo, como a de Proteção Ambiental (APA) Dona Francisca, por exemplo. Segundo o relatório técnico da Reserva Vale das Nascentes, juntas as florestas formam um corredor ecológico, que vai do Norte do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro, passando por Santa Catarina. Mesmo não sendo um território contínuo entre os Estados, a ligação tem grande valor para a conservação do bioma da Mata Atlântica.

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Mais de mil hectares de terreno

Regionalmente, a extensão é essencial para manter a harmonia entre remanescentes florestais da Serra do Mar do Norte de catarinense com os do Sul do Paraná. O ambiente encontrado na reserva propícia, principalmente, a sobrevivência de espécies que necessitam de locais com disponibilidade hídrica, como bromélias e sapos.

De acordo com o biólogo do IMA, Altair de Souza, novos tipos de anfíbios foram catalogados na região, alguns, inclusive, só são encontrados lá.

A diversidade biológica na área de 1.155 hectares é tão vasta que, no dia da visita da reportagem, os técnicos do Instituo de Meio Ambiente encontraram pela primeira vez uma nova cachoeira, ainda sem nome. Além disso, conforme o biólogo, existe um conto de que animais raros já foram avistados por moradores no entorno da unidade de conservação.

– Diz a lenda contada pelos moradores que tem uma onça pintada ou parda andando por aqui, mas nós ainda não a registramos. Pode até ser uma jaguatirica, que é parecida – compartilha Souza.

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Espécies de animais encontram no Vale das Nascentes o habitat seguro para sobrevivência da espécie
Espécies de animais encontram no Vale das Nascentes o habitat seguro para sobrevivência da espécie (Foto: Salmo Duarte / A Notícia)

Depois da doação, mais entrave no processo

Em 2015, mais uma etapa precisou ser vencida para iniciar o processo de criação da unidade. Naquele ano, algumas ocupações irregulares começaram a surgir dentro da reserva, necessitando de ação de reintegração de posse para retirar as pessoas que residiam. Hoje, ainda é possível avistar restos de escombros de casas deixados pelos antigos moradores.

Somente entre 2016 e 2017, o IMA iniciou o levantamento topográfico, a demarcação, memorial descritivo e a confecção de planta da propriedade para finalizar o processo de doação pelo Banco Central. Assim, o projeto tomava forma. Dados coletados pelos técnicos sobre o ambiente indicaram a categoria de unidade de conservação como a mais adequada e que irá nortear às ações de gestão.

– Em agosto, o mapeamento feito por um vizinho deu que a área dele tem uma sobreposição de 30% na unidade. Mas nós temos o material técnico que nos subsidia, buscamos na cadeia dominial do lugar, no primeiro mapa feito pela empresa Domínio Dona Francisca – diz Bonotto.

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De acordo com o geógrafo do IMA, a situação ainda pode ir para a esfera extrajudicial – para tentar acordo entre as partes –, e depois para a judicial, caso seja necessário. Este trâmite não impede a finalização da criação da reserva, que está na reta final. O estudo técnico, o levantamento topográfico e as etapas participativas – de consulta pública com a população e apresentação do projeto para outros órgãos e conselhos ambientais –, já foram finalizados. Agora, uma minuta de Projeto de Lei está em análise pelo setor jurídico do Instituto e, depois, será encaminhada à Assembléia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) para votação.