Ainda não caiu a ficha do Wesley. O menino de 12 anos já estava vivendo um sonho ao participar da clínica de futebol do Real Madrid, realizada na semana passada no Colégio Catarinense, em Florianópolis. Ele havia entrado através de uma bolsa, mas o melhor ainda estava por vir. Na última sexta-feira (22), o menino foi escolhido para participar de uma clínica de futebol na sede do clube, em Madrid. E por enquanto, só uma coisa passa na cabeça do garoto:

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_ O medo de avião! Mas é chegar lá e fazer o que eu aprendi aqui _ espera.

Wesley Vinicius França Lima e a mãe, Daynna, ficarão duas semanas na capital espanhola, em janeiro do ano que vem. A seleção foi bastante rígida. Eram 120 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos para apenas duas vagas.

O evento contou com três treinadores que trabalham na base do time merengue, e os mesmos treinamentos que fazem na Europa foram feitos aqui, adaptados a uma semana de trabalho.

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— Ele nem cogitava que iria ser chamado para a Espanha. Ficava apontando colegas como candidatos à viagem. Quando falaram o nome completo dele, parecia uma eternidade pra mim. O Wesley não entendeu nada na hora, mas agora vê que toda a luta está valendo a pena. É o sonho dele ser jogador de futebol — se emociona a mãe.

— No dia eu fiquei sem palavras, mas agora é só agradecer os professores que me escolheram para ir para a Espanha — diz o pequeno atleta, já falando com palavras de jogador profissional.

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A seleção do filho é para Daynna prova de que a vida em Florianópolis está dando certo. Há dez anos, a família deixou São Luís, no Maranhão, para tentar a sorte em Santa Catarina. Primeiro veio o pai. Cinco meses depois, a mãe trouxe os dois filhos, Wesley e Thayanna, hoje com 16. O casal se separou há pouco tempo, e Daynna ficou com os filhos. Ela trabalha como cozinheira em dois turnos num restaurante no Sambaqui. Precisa do emprego duplo para pagar as contas.

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No bairro do Norte da Ilha, Wesley virou praticamente nativo. Está na 7ª série no colégio Paulo Fontes. Joga bola nas escolinhas do Triunfo terça e quinta e no Avante, em Santo Antônio de Lisboa, segunda, quarta e sexta.

— O Wesley é o verdadeiro moleque! Ele gosta de jogar futebol, de soltar pipa e ainda treina muay thai. Não gosta muito de estar em frente de computador, de vídeo game — descreve a mãe.

Wesley com a mãe, Daynna, na frente de casa, no Sambaqui
Wesley com a mãe, Daynna, na frente de casa, no Sambaqui (Foto: Marco Favero / Agência RBS)

Triunfo na Suécia e na Espanha

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Coordenador das categorias de Base do Triunfo, Heitor Machado é quem ficou sabendo da bolsa do Real Madrid, através de um amigo que trabalha na empresa esportiva Sávio Soccer. Ela deveria ser entregue a algum menino carente, já que, para participar da escolinha, seria necessário desembolsar R$ 1,2 mil. Sávio, morador de Florianópolis e tricampeão europeu no clube madrilenho, foi o coordenador técnico da escolinha na Ilha.

No dia 15 de julho, a equipe do sub-15 do Triunfo viajou para a Suécia para disputar a Gothia Cup. O time de Sambaqui conquistou vaga no torneio após vencer a Copa Floripa Brasil em dezembro do ano passado. Só que as passagens aéreas eram por conta dos atletas e estavam em torno de R$ 6 mil.

Alan Conceição, primo do Wesley que também veio do Maranhão, ficou de fora do time que viajou pra Suécia. Por isso, Heitor ofereceu a bolsa para ele. Dois dias depois, o treinador recebeu outra bolsa. Esta foi dada ao Wesley.

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— Ele é bem acima da média para a idade, treina com jogadores mais velhos. É inteligente jogando, pega em qualquer posição. Boto ele de volante e lateral, mas ele vai bem no ataque e na zaga — descreve o treinador do menino.

Durante a semana da clínica do Real Madrid, acordava todo dia às 6h30min, pegava o ônibus às 7h e ficava lá até 13h. Chegava em casa e ainda ia treinar no Triunfo ou no Avante. E ainda tinha pique para fazer a academia de muay thai à noite. Estava de férias da escola.

Se o moleque agradar os treinadores madrilenhos, Daynna já faz planos de levar a filha e se mudar de vez para Madrid. Mas sem tirar os pés do chão.

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— Ele está achando tudo normal, não está se achando. E isso eu admiro nele, o jeitinho de menino, humilde — se orgulha a mãe.

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