Um dos pontos mais altos de Blumenau, a 760 metros do nível do mar, é guardado por um sobrevivente. Neném, uma mistura de pitbull com vira-lata, monitora de perto todos que chegam ao topo do Morro do Cachorro, no bairro Itoupava Central. Ele não é o responsável pelo nome dado à região, mas sua história ajuda a manter vivos os fatos que resultaram na forma como as pessoas conhecem a localidade. Sua vida é carregada de aventuras, mas também serve de alerta para os recorrentes casos de animais deixados ao longo da estrada que leva ao terceiro ponto mais alto da cidade.
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Neném nasceu no pico do morro, filho de uma cachorra que foi deixada lá por um homem que trabalhava na região. O dono foi embora, mas Nena, como era chamada, ficou e teve três crias. Na última delas veio Neném. Muitos de seus irmãos conseguiram um lar, mas ele e mais alguns das ninhadas anteriores não tiveram a mesma sorte.
Hoje o cachorro faz companhia para quem cuida das antenas de transmissão instaladas lá em cima. Tiago Caetano é uma dessas pessoas e tem Neném como fiel escudeiro. Conhece a história do cachorro, por quem tem um carinho especial. As fotos no celular mostram alguns dos momentos juntos e na memória estão lembranças das artes aprontadas pelo cachorro, como morder um ouriço e ser picado por cobra.
O animal recebe atenção especial de quem ganha a vida lá no alto da cidade e é só olhar para perceber o quão bem cuidado está. Animado, brincalhão, forte e de pelo brilhoso, a vida é só alegria para Neném. Uma realidade que muitos cães não vivem, aponta Caetano ao contar que ele e os colegas já chegaram a abordar pessoas que tentavam abandonar cachorros no local.
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Quem mora na área, por vezes, já adotou um deles. Outros ganharam um lar daqueles que foram ao topo do morro apenas para ver a paisagem. É o que conta Elirio Antônio Henkels, outro funcionário que trabalha nas antenas. Ele conheceu Nena, a mãe de Neném, e ajudou a encontrar um lar para alguns dos filhotes dela.
— Quando o pessoal subia lá para passear eles viam os cachorros, gostavam e aí a gente oferecia. Muitas pessoas adotavam — recorda.
Embora exista quem pense que o nome Morro do Cachorro vem do histórico de abandono de animais no local, a história é um pouco diferente. Contam os periódicos antigos que em 1875 uma cadelinha de um dos membros de uma expedição ao topo da colina fugiu para acompanhar o grupo. Ela estava prenha e ganhou os filhotes no alto do complexo.
Como seria difícil descer com a cria, os recém-nascidos foram abatidos e apenas a mãe voltou à cidade junto com os desbravadores. A história ganhou repercussão e o então Morro da Carolina, como era anteriormente conhecido, se tornou popular por Morro do Cachorro.
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Abandono é crime
Abandono é crime, previsto no Código de Proteção e Bem-Estar Animal de Blumenau, passível de penalização. A problemática, segundo o médico veterinário do Cepread Andre Tombeck, é identificar os autores e reunir provas que comprovem o fato. Para tentar reduzir os índices altos de abandono, o município aposta na conscientização da comunidade para a posse responsável.
Enquanto a prática ainda é comum, a recomendação para quem presenciar animais sendo deixados nas ruas da cidade é ligar para a Ouvidoria da Saúde, no telefone 3381-7770, ou na Ouvidoria Geral da Prefeitura, no 156, opção 2. Se possível, anotar informações que possam contribuir com as investigações, como placa do veículo, e até mesmo fotografar.
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