Um encontro de três gerações: um professor de história, seu aluno, que também é professor de história, e suas alunas, que querem ser professoras. Apesar de quase 30 anos separar o início de Luiz Felipe Falcão, 61 anos, em uma sala de aula e a preparação de Virgínia Broering e Lívia Bernardes Roberge, as duas com 21 anos, para entrarem em uma, algumas opiniões sobre a profissão são as mesmas. O desafio de despertar o gosto pelo conteúdo e de levar tecnologia para as aulas, a relação entre educador e aluno e o prazer de estar em sala de aula são questões que permanecem.
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Falcão e seu aluno Emerson César de Campos, 43 anos, ainda falam abertamente sobre a escolha da profissão, que veio sem ser planejada. Para Campos, que largou a carreira de engenheiro civil, é uma realização profissional, algo que dá prazer.
– Em 1995, concluí engenharia e comecei a trabalhar como professor de uma escola do município. Nunca tinha entrado numa sala de aula como professor, e quando entrei, lembro que ia dar aula de História do Brasil, numa 8ª série, eu gostei muito – lembra.
Os quatro se encontraram na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Florianópolis, que marca a ligação deles.
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Diário Catarinense – Por que vocês querem ser professor?
Virgínia Broering – Não foi um sonho, foi a afinidade com a escola e querer aprender história. Tomo como um desafio, por causa da função social que um professor tem. Não posso falar com experiência porque nunca estive em sala de aula, mas se eu puder ser como os meus professores, ajudar a situar os outros no mundo, eu ficaria muito feliz
Lívia Roberge – Não comecei história pensando em ser professora, fui atraída pela disciplina e pela área de pesquisa. A profissão de professor tem um diferencial de estar o tempo todo com o contato de um mundo de ideias novas e gente nova.
DC – Quando você começou a ser professor quais eram os desafios?
Felipe Falcão – Tentar fazer com que os alunos tivessem uma curiosidade a cerca do mundo, e dos mundos que precederam. Como entrar em contato com coisas que me são estranhas, estranhar essas coisas e ao mesmo tempo não repudiá-las. Encontro hoje ex-alunos que tomaram um rumo completamente distinto, um que mora nos EUA e trabalha para IBM, e ainda hoje lembra de aula de pré-história. De como introduzir o pensamento crítico.
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Emerson Campos – Eu também penso dessa forma, cada época traz suas dificuldades, limitações e oportunidades. Eu escrevi minha dissertação a caneta e num rascunho e vinha para a faculdade e digitava nos computadores. Outro dia brincava com o Felipe, porque ele estava procurando um mapa, gastou uns 15 minutos, e eu perguntei para ele: cara, tu já ouviu falar no Google Maps? Há outras infinitas possibilidades. A tecnologia em sala de aula é fantástica, permite inserções que jamais pensaria que fossem viáveis. Mas em outras épocas também se fez coisas legais. Lembro que nos anos 1990, anos 80, era mais comum sair a campo. As épocas vão te desafiando de maneiras diferentes.
DC – O senhor gostaria de ter toda essa tecnologia quando começou a dar aulas, Felipe Falcão?
Falcão – Eu já usava na medida do possível. Havia muito pouco material para ser aplicado. Mas lembro quando eu dava aula no que era o 3º e o 4º ano do ginásio, hoje 7ª e 8ª do fundamental, o conteúdo era história geral. De modo geral, os livros didáticos do Brasil não pegam conteúdos de Índia e China. Eu descobri por acaso no subsolo da biblioteca da UFSC slides sobre Índia, e eu peguei e levei isso no colégio, eram projetores de slides de carretel, uma coisa superpesada.
DC – Como é lidar hoje com os alunos que chegam munidos de informação da internet?
Campos – Na história, tínhamos a falta de fontes, hoje a gente padece pelo excesso. Há uma série de dificuldades que são as possibilidades quase infinitas que a pesquisa te oferece e as delimitações necessárias, que você deve fazer. Isso também vale para preparar uma aula. O excesso de possibilidades midiáticas às vezes pode mais atrapalhar do que ajudar. Para isso, necessita cada vez mais de um zelo maior na elaboração das aulas.
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DC – Por que o senhor pensou no Falcão para essa entrevista?
Campos – Somos amigos de longa data e ele é um profissional por quem tenho admiração. Fui aluno do Felipe em 1992, como elas (Lívia e Virgínia) estão sendo minhas agora.
DC – Um bom professor faz diferença?
Felipe – Pode. Quando você pega uma estrada que foi recentemente asfaltada, sem as faixas, a gente se perde no asfalto. Nosso papel é fazer as faixas. É dizer olha, se vocês observarem as faixas, tem lugar onde pode ultrapassar, virar à direita, à esquerda, a escolha é de vocês. Nossa função não é determinar o que eles vão fazer. Se eu souber pintar as faixas para que eles aprendam como transitar, eles vão para o lugar onde acharem melhor. Se eu pintar as faixas direito, vou ajudar bastante, se não souber eles vão bater.
DC – Como é o Emerson Campos como professor?
Lívia – Se eu falar com sinceridade não vai parecer verdade. Eu faço história e relações internacionais, e quando comecei a ter aula com ele, foi a primeira vez que eu comecei a pensar que ia seguir meu caminho pela história e não pelo outro curso. Ele é diferente dos outros professores. Ele entrava falando mais de Criciúma do que da matéria, começava a falar de futebol, mas aquilo tinha relação com teoria da história. Ele começou a trazer coisas que pareciam complicadas para a nossa realidade. Pensei: se for para eu seguir no caminho de professor quero ser que nem esse cara aí. Ele sabe reconhecer quando precisa da nossa ajuda.
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Virgínia – O Emerson me ajudou a amar história, foi ali o que eu escolhi o que eu mais gosto na história. O que eu mais gosto nele, diferente de muitos professores, é o respeito que ele tem com as nossas ideias, a aceitação dele com as nossas propostas.