Por Flávia Requião
No dia 21 de janeiro, Paulo Miklos completou 60 anos trabalhando até a noite como… ator. Não foi em um show que o ex-Titãs, agora em carreira solo, celebrou ser o mais novo sessentão das paradas. Foi nos bastidores dos Estúdios Globo, onde vive o novo barato da sua vida, como o beato Jurandir, de O Sétimo Guardião. O personagem ganhou ainda mais a simpatia do público ao assumir o seu romance com a esotérica Milu (Zezé Polessa). Nos próximos capítulos, no entanto, ele vai entrar em um grande conflito depois que Mirtes (Elizabeth Savala) espalhar para a cidade toda, de forma anônima, no site que está criando, que “o beato está vivendo em pecado com a esotérica”. O público vai sofrer junto. Afinal, o casal já está sendo shippado nas redes sociais como #Miludir.
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Como é chegar aos 60 em horário nobre na Globo?
Ah, muito gostoso! Eu acho que a melhor coisa é estar diante de um desafio novo, trabalhando bastante. E a minha comemoração no dia 21 foi trabalhando à noite, soprando uma velinha junto com a minha parceira de cena, que faz a minha filha (Giullia Buscacio, a Elisa na trama) e que também faz aniversário no mesmo dia.
Que feliz coincidência!
Uma coincidência incrível! Ela fez 22 anos no dia 21 de janeiro. Fizemos uma cena e comemoramos com um bolinho com a produção, na cidade cenográfica. Foi supergostoso.
Para você, tem um significado especial essa virada para os 60?
Tem, porque essas datas redondas fazem a gente pensar em momentos da vida. Há um desejo de você conseguir perceber na sua trajetória as coisas que fez. E tem um sentido de ingressar em outra fase. Eu estava brincando que vivi a maior adolescência de que se tem notícia, a mais longa (risos), porque sinto como se eu tivesse saído da adolescência. Estou amadurecendo aos poucos.
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Você acha que, agora, começou a amadurecer?
Eu acho que sim. Esse amadurecimento, eu reconheço numa tranquilidade maior para lidar com situações novas, com desafios, como este que eu estou enfrentando agora, com a novela e esse personagem. Estou conhecendo muita gente nova, trabalhando em outro ritmo. Isso tudo é muito estimulante. Esse personagem me dá a possibilidade de falar sobre o amor nesse momento da vida. Na história, é um casal mais velho que vive uma paixão. Poder falar sobre esse assunto é muito importante porque tem a ver, inclusive, com a minha vida. Eu também tô apaixonado (ele vive um relacionamento com a empresária Renata Galvão, 40 anos). O personagem é muito especial porque é um homem que ficou fechado durante muito tempo, com dogmas fortes. Essa paixão veio para mexer com este homem e abrir a visão dele com a própria filha e com o mundo. É muito bacana viver um personagem que tem um significado tão abrangente, tão bonito, de descobertas nessa fase da vida. É um pouco do que eu estou vivendo também, descobrindo. Você encontra nas ruas as pessoas, e a resposta é imediata! Parece que elas estão encontrando o personagem todo dia como você encontra alguém na rua: “Ah, vi você ontem”, “Olha lá, hein?”. É muito interessante essa cumplicidade do público, que é instantânea. A gente está criando o personagem. Isso só a novela proporciona.
Há quanto tempo você está com a Renata?
Vai fazer cinco anos.
E, com cinco anos, a paixão ainda está lá em cima?
Sim! E tem dois filhos lindos que são os meus enteados, o Max, 11, e a Rosa, 8. Eu tenho uma filha de 35, a Manoela.
Voltando ao personagem, que está mostrando o amor maduro, se despindo dos medos, é por aí a missão do seu papel nessa novela, de levar essa mensagem?
Ah, sem dúvida! Está sendo essa missão bacana. O amor faz ele enxergar o mundo de outra maneira — mais tolerante. Para os dias que a gente está vivendo, essa mensagem é da maior importância. A tolerância e a convivência com os diferentes são fundamentais. A gente vive esse momento. E é muito importante você chamar a atenção sobre isso, de aceitar o outro, as crenças do outro e aceitar na totalidade, na liberdade de cada um. O personagem inspira a gente nesse sentido.
Você estudou sobre religiões e fé para fazer o Jurandir?
Tenho minha experiência pessoal, estudei um pouco sobre esse movimento do cristianismo que gostaria que as igrejas voltassem a ser mais conservadoras. É um movimento de conservadorismo exagerado que gostaria que a missa fosse feita em latim. Busquei entender um pouco sobre isso, porque os beatos de Serro Azul dividem esse desejo de manter o ritual inalterado. A minha mãe, dona Ivone (já falecida), era muito católica. Rezava, tinha os santinhos dela, fazia pedidos, torcia muito por mim, na carreira e na vida. A minha inspiração nessa fé fervorosa foi a minha mãe.
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Na sua opinião, foi-se o tempo em que algumas instituições religiosas usavam o medo, como a Mirtes faz com o Jurandir, para dominar as pessoas, ou a gente ainda vê isso ocorrer?
Infelizmente, a gente ainda vê muita intolerância, incompreensão, ódio, não aceitar o próximo e as diferentes religiões – o que vai contra os próprios preceitos das religiões, que é amar o próximo em toda a sua inteireza. São falsos profetas que pregam esse ódio entre as religiões. Eles não estão com nada!
Você tem alguma religião ou filosofia de vida com a qual se identifica?
Não. Eu não tenho uma em especial, gosto de várias religiões. Tenho muito respeito e admiração pelos rituais. A religião africana, o candomblé afro-brasileiro, o catolicismo… Meu pai era judeu, e a minha mãe, católica. Isso já me deu uma abertura grande para olhar as coisas com uma curiosidade de quem entra para conhecer o que há de interessante em cada uma das crenças.
Devotos como o Jurandir chegam a trocar figurinha contigo?
Todo mundo com quem conversei aprovou o trabalho. O personagem passou por um momento bem perturbado que mexeu profundamente, com ele e com a fé dele. Não era tanto sobre religiosidade, era mais sobre como esse homem se fechou para a vida. Isso (o romance com Milu) veio para ele se abrir, entender o sentido das coisas, a maneira de se relacionar com a filha, aceitar o namoro dela. Tive uma resposta muito positiva do público, de muito carinho com relação ao meu personagem e o entendimento de que, realmente, é uma representação.
Você chegou a frequentar uma igreja?
Cheguei a ser batizado e fui, eventualmente, mas nunca pratiquei.
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Você torceu muito para o Jurandir assumir o romance com Milu?
A torcida está muito forte, tem a hashtag #Miludir. Shipparam direto! Tem torcida no Instagram dedicada a #Miludir. E estão curtindo muito a música-tema, Princípio Ativo (do seu álbum A Gente Mora no Agora), que é de minha autoria e da Céu.
Foi uma sugestão sua colocar a música na novela?
A gente já estava conversando de ter uma trilha minha, mas a Milu combinava muito com essa canção. Pedi para Céu escrever versos do universo feminino. Tem muito a ver com a esotérica. Quando a gente terminou a música, ficou admirado. Parece uma coisa do Secos & Molhados, anos 70, meio hippie. Apresentei a música à direção da novela, eles adoraram. Tem embalado o romance deles. Eu tô muito feliz!
Difere muito o frio na barriga de pisar em um palco, para shows, do frio na barriga na hora de entrar no estúdio, para gravar a novela?
É muito parecido (risos), é o mesmo frio na barriga da criação. Você está diante de um momento poderoso, da performance. É estimulante. E dá frio na barriga sempre. Se não dá frio na barriga, é porque tem alguma coisa errada! Faz parte. Tem que estar inteiro e saber o tamanho que é o abismo, sentir a vertigem do que pode acontecer. A gente chega para fazer acontecer. O grande privilégio é poder contracenar com tantos talentos e aprender nesta troca. Não só contracenando, mas no convívio.